domingo, 16 de outubro de 2022

Geleia Geral - Revirando A Tropicália

 



Geleia Geral – Revirando A Tropicália

28 outubro ou nada - 2022 - 19h

Por onde andará Fulinaíma?

 

Elenco:

 

Artur Gomes + Adriano Moura + Aimèe Cisneiro + Aline Portilho + Christina Cruz + Joilson Bessa + Marcella Roza + Marcelo da Rosa + Serginho do Cavaco + Tchello d`Barros  




Mostra Visual de Poesia Brasileira

Poesia em Movimento

 

o delírio

é a lira do poeta

se o poeta não delira

sua lira não profeta

 

leia mais no blog https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/


 

QUE PAÍS É ESTE?

Fragmento

 

Universidade Livre de Alvito

(Afonso Romano de Sant'Anna)

 

1

Uma coisa é um país,

outra um ajuntamento.

Uma coisa é um país,

outra um regimento.

Uma coisa é um país,

outra o confinamento.

 

Mas já soube datas, guerras, estátuas

usei caderno “Avante”

— e desfilei de tênis para o ditador.

Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso”

e éramos maiores em tudo

— discursando rios e pretensão.

 

Uma coisa é um país,

outra um fingimento.

Uma coisa é um país,

outra um monumento.

Uma coisa é um país,

outra o aviltamento.

 

Deveria derribar aflitos mapas sobre a praça

em busca da especiosa raiz? ou deveria

parar de ler jornais

e ler anais

como anal

animal

hiena patética

na merda nacional?

 

Ou deveria, enfim, jejuar na Torre do Tombo

comendo o que as traças descomem

procurando

o Quinto Império, o primeiro portulano, a viciosa visão do paraíso

que nos impeliu a errar aqui?

 

Subo, de joelhos, as escadas dos arquivos

nacionais, como qualquer santo barroco

a rebuscar

no mofo dos papiros, no bolor

das pias batismais, no bodum das vestes reais

a ver o que se salvou com o tempo

e ao mesmo tempo

– nos trai

 

2

Há 500 anos caçamos índios e operários,

há 500 anos queimamos árvores e hereges,

há 500 anos estupramos livros e mulheres,

há 500 anos sugamos negras e aluguéis.

Há 500 anos dizemos:

 

que o futuro a Deus pertence,

que Deus nasceu na Bahia,

que São Jorge é que é guerreiro,

que do amanhã ninguém sabe,

que conosco ninguém pode,

que quem não pode sacode.

 

Há 500 anos somos pretos de alma branca,

não somos nada violentos,

quem espera sempre alcança

e quem não chora não mama

ou quem tem padrinho vivo

não morre nunca pagão.

 

Há 500 anos propalamos:

este é o país do futuro,

antes tarde do que nunca,

mais vale quem Deus ajuda

e a Europa ainda se curva.

 

Há 500 anos

somos raposas verdes

colhendo uvas com os olhos,

semeamos promessa e vento

com tempestades na boca,

sonhamos a paz da Suécia

com suíças militares,

vendemos siris na estrada

e papagaios em Haia,

nada nada congemina:

a senzalamos casas-grandes

e sobradamos mocambos,

bebemos cachaça e brahma

joaquim silvério e derrama,

a polícia nos dispersa

e o futebol nos conclama,

cantamos salve-rainhas

e salve-se quem puder,

pois Jesus Cristo nos mata

num carnaval de mulatas.

 

Este é um país de síndicos em geral

este é um país de cínicos em geral

este é um país de civis e generais.

Este é o país do descontínuo

onde nada congemina

e somos índios perdidos

na eletrônica oficina

Nada nada congemina:

 

a mão leve do político

com nossa dura rotina,

o salário que nos come e

nossa sede canina,

e a esperança que emparedam

a nossa fé em ruína,

placidez desses santos

e a nossa dor peregrina,

e nesse mundo às avessas

– a cor da noite é obsclara

e a claridez, vespertina.




Fulinaíma MultiProjetos

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