Origem
sou afro-tupi
guarani
goitacá que subiu o paraíba
para o litoral paulista
nasci na cacomanga
bicho do mato
curupira carrapato
sou campista
não tiro onda de turista
sou Retalhos Imortais do SerAfim
comigo é assim
:
nem fiado nem à vista
II
África sim
minha mãe de sangue
cresci mamando do teu leite
lambendo o sal
da tua carne quente
bebendo água suja
no tanque
sou fel pimenta azeite
quem quiser que me aguente
eu sou a lama do mangue
metáforas em linhas curvas
quando manhã canta e não chove Lucia me fala das coxas de Yve mergulhadas no Pontal até a última sílaba do poema letras salgadas de mar embora mesmo que agora chova e a noite seja um relâmpago de estrelas sinto que nos falta um vagalume para alumiar a escuridão tantas vezes lamparina acesa no bar de neivaldo foram lâmpadas florescentes entre olhos famintos de luz no verão de 2010.
Teatro do Absurdo
o quarteto da hipotenusa
versus o quadrado do quarteto
da hipotenusa a musa no quadrado
do retrato fosse apenas fotografia
mas não sendo hipotenusa
somente musa algaravia
uma palavra mais que estrada
sendo musa multi via
me levou nessa jornada
para fora da bahia
todos os santos mar aberto
no abismo a fantasia
de querer musa entretanto
muito mais que poesia
A flor dos meus delírios
tem um nome indecifrável
quase impossível e se definir
passeia na ponta da minha língua
uma palavra com J
faz tempo acho que desde 1996
numa madrugada de agosto
na fonte do desejo
bebi tua sede de vinho
tua carne não matou a minha fome
ainda – nas entranhas dos vinhedos
mesmo que não quisesse negar não posso
seria falso dizer que não desejo
minha escrita
grita
muitas vezes
invento
palavras soltas ao vento
A flor dos meus delírios
tem cheiro de poesia
relâmpagos de Iansã
incêndio no meio dia
Netuno em polvorosa
me disse em verso e prosa
que ela vem com o frescor da maresia
e eu serei o seu Ogum
anjo da guarda e companhia
hoje mesmo distante
esse preamar me incendeia
ondas espumas explodem na areia
tempestades trovoadas ventania
e nem sei se estando perto
calmaria
Estação 353
para Cecília in memória
eu planto
minha estação existe
a adubagem orgânica está completa
não sou negacionista nem sou triste
sou poeta
irmão das coisas da alegria
eu sinto o gozo no tormento
atravesso noites e dias - invento
eu sei que planto
e o sistema é bruto
mas a terra gira como pomba gira
amora minha eterna namorada
e amanhã eu sei colherei teus frutos
nessa minha estação amada
era um vez um mangue
e por onde andará Macunaíma
na tua carne no teu sangue
na medula no teu osso
será que ainda existe
algum vestígio de Macunaíma
na veia do teu pescoço?
tá no canto da sereia
tá no rabo da arraia?
Joilson Bessa me disse
Kapi ducéu já ensaia
Macunaíma vem vindo
no Auto do Boi Macutraia
hoje me surgiu esta ideia:
estava lendo Antonio Cicero
e Antonio Carlos Secchin
e ai pensei - ler ler ler ler re-ler
não escrever - parece-me brincadeira
aprendizado para vida inteira
do mim dentro de mim
o Eu dentro do Eu
o Não dentro do Sim.
Artur Gomes
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metáfora 1
suspenso no ar às vezes penso
se devo pensar tanto
como um poema de Mayakovisk
ela um dia virá ao meu encontro
e ressuscitará o poema que ontem não nasceu
a vida é só flores ela me disse
clarice em cada coisa
tem o instante em que ela é
as vezes também penso
ela não virá
aí vou para praça jogar milho aos pombos
ao jardim zoológico dar comida aos patos
os meus sapatos já conhecem os anos de espera
na última primavera os lírios não nasceram
e as rosas eram só espinhos
com minha língua na faca cortei a fala
ainda na garganta
e fui pra sala afiar o taco
ela não sabe que o vinho que guardei pra ela
é de uma safra especial de Bacco
Artur Gomes
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hipotemusa
a menina da lanchonete
hoje rói as unhas de ira
pira quando quero
o que ela pensa que é
apenas bolero
na praça são salvador
com esse poema torto
que te leva ao desconforto
de pensar o que não sinto
como ela vive sozinha
entre pastéis e empadas
sua vida é hora marcada
de entrada e de saída
não conhece uma outra vida
por isso me olha estranha
com uma sede faminta
de comer meus olhos
com palavras – quando te digo
: não minta
Hipotemusa 1
a menina da lanchonete
em frente a floricultura
são salvador
mexe na flor dos cabelos
dedos entre pelos
enquanto aguço os olhos
pensando mar de abrolhos
na terceira margem do rio
leio um poema no cio
Hipotemusa 2
ela bagunça meus 7 sentidos
aguça lambuza
planta um punhado de brócolis
no pé do meu ouvido
me dá de beber mastruz com leite
de comer esphirra koreana
lhe chamo de sacana
ela me diz que é bacana
me fazer de pé de moleque
pra lamber meus sustenidos
ela agora usa piercing no nariz
sem medo de ser feliz
joga capoeira no mercado
aprendeu dançar suing
não dá mole pra racista
nem pra patrão
que escraviza empregado
HIPOTEMUSA 4
essa garota me alucina
não sabe ficar quieta com Santa Teresa
no Parque das Ruínas
tem mais de mil desejos
um deles é quebrar meus óculos
com sua fome de beijos
tem mais de mil ofícios
um deles é mapear o litoral
das minhas costas
pelas praias de São Francisco
essa garota é bárbara
Afrodite Artemanha de Iansã
me banha com sua língua de Vênus
as terças-feiras de manhã
hipotemusa 5
quero botar no seu Orkut
um negócio sem vergonha
um poema descarado
já chegando fevereiro
e meu Rio de Janeiro
fica lindo mascarado
quero botar no seu e-mail
um negócio por inteiro
eu não sou Zeca Baleiro
pra ficar cantando a mama
que ainda tem medo do papa
meu negócio é só com a mina
que me trampa quando trapa
meu negócio é só com a mina
que me canta ouvindo Rapa
Hipotemusa 6
vou encontrá-la
no Rio Psiu Poético
sentidos todos plural
um tanto cético
nessa ponte para o nada
- duvido que não exista
alguma esperança
nos olhos de uma criança
disse-me a hipotemusa
no Amarelinho da Lapa
antes de atravessarmos
para o CCJF
com Alguma Poesia na manga
do lado esquerdo do pulso
rasgar o verbo da fome
e entregar à cara a tapa
hipotemusa 7
hoje acordei
com uma vontade da porra
de trepar na goiabeira
talvez assim quem sabe
ela me chame de jesus
e tire ele da cruz
ou quem sabe bacurau
ou quem sabe bacuri
para acabar com carkamanos
ou então até quem sabe
ela me chame
de exu cabra da peste
do nordeste koreano
Hipotemusa 8
pode ser que ela
nem saiba
o quanto o tanto o
torto
pode ser que ela
me queira
bem debaixo do
vestido
e me chegue como
sempre
me rasgando a
roupa
me lambendo a boca
sem vergonha
alguma
e me pegue bem
assim
descabelado
displicente
distraído
pra querer mais
uma
poesia pra
entortar 7 sentidos
hipotenusa 9
ela me deu um beijo na oca
e me disse
carne seca me interessa
assada na brasa
como sua língua quente
salivando entre meus dentes
enquanto conto peixinhos
na baia da Guanabara
na hora do gozo
pode cuspir na minha cara
essa gosma de lesma
na calçada
pedra faca trinca ferro
na janela
casa mal assombrada
cosme velho
coisinha de sal
e o bruxo ainda escreve
dentro dela
hipotemusa 10
quando alvoroçar os teus
cabelos
quero outras coisas
alvoroçadas
poros pelos entradas
maria padilha
pomba gira cigana
presente na trilha de qualquer
caçador
Beatriz sua filha de santo
foi quem vi no espelho
da minha mesa de Búzios
quando joguei pra Xangô
Artur Fulinaíma
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EuGênio
eu sou menino eu sou menina
e não venham me dizer
que lança perfume é parafina
diversidade de gêneros
podes crer – não me alucina
eu nasci da minha mãe
que se chama Severina
lá dos sertões do nordeste
nor/destino nor/destina
como o sal do Maranhão
bumba-meu-boi não desafina
conterrâneo do Torquato
eu nasci em Teresina
EuGênio Mallarmè
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Geleia é um personagem misterioso meio dionisíaco que vivia nos porões do Studio 52 lá pelos idos de 1987, nem sei quando onde como nasceu, vivia aprontando com o seu projeto de psicanálise popular com um divã em cada esquina. Na primeira festa das Bacantes nos altos da adega 52 devorou a sua santíssima trindade e dela hoje só resta Rúbia Querubim, que despachou Federika Lispector para os corais do Recife nas marés de Pernambuco.
Vez em quando Geleia passeia pela
Igreja Universal do Reino de Zeus para tirar um sarro com Pastor de Andrade
quando Missa Pagã coloca os dedos na hóstia na língua das ovelhinhas para a
encenação do ciúme nos olhos da Sacristia. Geleia não é sagrado nem tem segredo
as suas juras secretas decreta estado de poesia.
Gigi Mocidade
HIPOTEMUSA 11
fulinaimânica sagarínica
algumas vezes muito prosa
tantas vezes muito cínica
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HIPOTEMUSA
12
foi em São Carlos
a última vez que fui
encontrei Alzira
pira de pira cicaba
incendiou minha carne
devorou meu esqueleto
o lance só acaba
quando mergulhamos
em São José do Rio Preto
era uma japinha
que conheci em Batatais
depois da prova dos 9
deu adeus e nunca mais
educação
gramatical
ela tem uma travessão
atravessado
na frente da palavra quero
me diz: espera
não por falta de desejo
tenho medo de dois pontos:
os seus olhos os seus beijos
pra onde você quer me levar
de tudo que a exclamação possa engendrar
respondo:
coloco vírgulas ponto e vírgulas
reticências qualquer outro sinal
abro parênteses
(os meus poemas nunca v]ao ter popnto final)
Artur
Gomes
28 julho 2023
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