sábado, 16 de agosto de 2025

Entre/Vistas

Ente/Vistas

 

Concedendo entrevista ontem 15 de agosto 2025 a Raphael Fuly, licenciando em música no IFF Guarus, sobre a minha trajetória com Arte dentro da ETFC/CEFET/IFF, de 1968 a 2012. Raphael é orientando pela queridíssima amiga  Beth Rocha, parceira de grandes espetáculo de Teatro Musical que montamos no CEFET/IIF a partir de 1997, tais como “O Dia Em Que A Federal Soltou a Voz e Criou  Um Coro de 67 Vertebrados”, espetáculo que foi apresentado em 1997 no Auditório Miguel Ramalho, marcando a chegada  de Beth no CEFET/Campos e o meu retorno de uma licença prêmio para coordenar a Oficina de Artes Cênicas, que criei em 1975.

A entrevista foi realizada no Casarão - Centro Cultural, na Rua Salvador Correia, 171. Raphael Fuly, é integrande de uma banda formada por estudantes de música no IFF, contemplada em edital na lei Aldir Blanc, dia 22 deste a banda estará se apresentando no Museu Histórico de Campos, e um dos integrantes da mesma, Pablo Vinícius, que em 2022 participou do meu Projeto Geleia Geral – Semana de 22 – 100 Anos Depois, me pediu licença para nomear  a banda com o nome Balbúrdia PoÉtica, o que imediatamente autorizei, e no dia 22 pretendo batizá-la tornado-a minha afilhada.

Como bem disse lá pelos idos de 2005, quando fui contemplado no projeto Poesia Na Idade Mídia – Outros Bárbaros, de Ademir Assunção realizado no Itaú Cultural São Paulo, no poema VeraCidade: - por quê trancar as portas/tentar proibir as entradas/se eu já habito os teus 5 sentidos/e as janelas estão escancaradas.

* 

VeraCidade

 

por quê trancar as portas

tentar proibir as entradas

se já habito os teus cinco sentidos

e as janelas estão escancaradas ?

 

um beija flor risca no espaço

algumas letras de um alfabeto grego

signo de comunicação indecifrável

eu tenho fome de terra

e esse asfalto sob a sola dos meus pés

agulha nos meus dedos

 

quando piso na Augusta

o poema dá um tapa na cara da Paulista

 

flutuar na zona do perigo

entre o real e o imaginário

João Guimarães Rosa

Caio Prado

Martins Fontes

um bacanal de ruas tortas

 

eu não sou flor que se cheire

nem mofo de língua morta

o correto deixei na Cacomanga

matagal onde nasci

 

com os seus dentes de concreto

São Paulo é quem me devora

e selvagem devolvo a dentada

na carne da rua Aurora

 

Obs.: em 2023 quando fui convidado por Sylvia Paes, para voltar a prestar serviços na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, escrevi o projeto Campos VeraCidade, que até hoje está engavetado, porque não há interesse na gestão pública da cidade, em fomentar um projeto de Arte Cultura, que reflita profundamente sobre a cidade, no que ela foi, o que ela é e o que ela pode ser. 

*

Leia mais no blog

Artur Gomes A Biografia de Um Poeta Absurdo

https://fulinaimargem.blogspot.com/

As fotos são de Nilson Siqueira

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Geleia Geral Revirando A Tropicália

Na comemoração dos 77 e 52 de Poesia

e reflexão sobre os 14 em São Francisco de Itabapoana

nasceu Itabapoana Pedra Pássaro Poema

 

a mão assassina tem nome

a mídia assassina é uma só

ou não elegemos mais

quem defende agro negócio

e a bancada dos seus sócios

ou morreremos todos assados

e o país vai virar pó

 

Artur Gomes

In Itabapoana Pedra Pássaro Poema

v(l)er mais no blog

https://coletivomacunaimadecultura.blogspot.com/

Artur Gomes

77 anos de vida

 52 de Poesia Viva

Dia 27 de agosto 20h

Carioca Bar –Rua Francisca Carvalho de Azevedo 17 - Parque São Caetano

Próximo ao Colégio Estadual João Pessoa – Campos dos Goytacazes-RJ

Dia 11 de outubro  18h

Casa AmarElinha – Itaipu – Niterói-RJ

 

1º de Abril

 

telefonaram-me

avisando-me que vinhas

 

na noite uma estrela

ainda brigava

           contra a escuridão

na rua

sob patas

tomavam homens indefesos

 

esperei-te 20 anos

até hoje não vieste à minha porta

 

- foi um puta golpe!

 

Artur Gomes

A Biografia de um poeta Absurdo

https://fulinaimargem.blogspot.com/

eu sou mestiço e juro

por todos os santos que todo santo dia só queria isso 

        A Traição das Metáforas

em Brazílica Pereira de Campos ex-dos Goytacazes no presídio federal fluminense a rainha das artes cínicas Federika Bezerra esfola um cordeiro a unha, e desafia Macabea a estrela que não sobe para uma cena melodramática no pasto das oliveiras.

- Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões gosto de ser e de estar e quero me dedicar a criar confusões de prosódia e uma profusão de paródias que encurtem dores e furtem cores como camaleões (caetano veloso)

Zé do Burro carregava sua cruz misticamente enquanto Rosa sua mulher adúltera prevaricava no terreiro dançando ao som dos atabaques em louvor a Iansã.

Foi aí que Macabea deu o troço:

- não admito poeta no presídio fazendo filme pornô.
Mas enquanto falava seus olhos esbugalhados não cansavam de olhar a Rosa gozando descaradamente da sua cara de santa do pau oco.

Pessoas fingem que vivem quando não gozam. Federika não, goza da cara cínica do cordeiro sendo destrinchado no Banquete Antropofágico em homenagem a Oswald de Andrade, na porta do Teatro Trianon, enquanto o poeta pornô desflauda sua bandeira nua e crua descabaçando as flores da rua espuma/esperma semeia e o corpo despido da prosa grafita na lua cheia.

Federico Baudelaire
o mestre sala dos mares nunca dantes navegado

         com os dentes 

        cravados na memória

em 1984 quando eu e césar castro colocamos fogo no Palácio da Cultura, nada mais queríamos naquele momento do que mudanças nos destinos da cidade. Passaram-se 4 anos e em 1998 o então prefeito Zezé Barbosa não conseguiu eleger o seu sucessor Jorge Renato Pereira Pinto. Elegeu-se então pela primeira vez o candidato do movimento Muda Campos, que todos sabem quem, e infelizmente mudou-se para pior. Se hoje colocarmos novamente fogo no Palácio, pode levar novamente 4 anos para mudar, mas que muda muda. O Patrono Oswaldo Lima, de passagem pelo terreirão da Mocidade, disse que só fogo não adianta, ali só uma bomba mesmo.

Voltando a década de 80, exatamente 1988 Sérgio Provisano me lembra uma cena hilária com Fernando Leite. Estávamos reunidos numa tarde na sala de Oscar Wagner, pós expediente, para uma rodada costumeira de queijos e vinhos, e Nilson Siqueira, o pintor Nilsinho Maluqinho noivo na época de Dona Maria, além de Jeanzinho, tinha lá sua queda por Jô, nossa modelo canibalizada.

Quando algumas garrafas de vinho já tinham sido consumidas, Genilson tocou num assunto que Dona Maria não gostou e não perdeu tempo, sentou a mão no Maluquinho, que deixou Nilsinho, com o pescoço torto até hoje. E lembro-me que esta cena veio se repetir em 89 no verão do Farol, numa linda noite de lua cheia, quando na Casa de Cultura, Dona Maria soube que Nilsinho havia convidado Jô a nossa modelo canibalizada, para um jantar.

Na mesa do Bar de Zé Antonio, estávamos reunidos já com algumas cervejas consumidas quando chegou Dona Maria e não perdeu tempo, exemplou o Maluquinho novamente. Nesta noite estava conosco também desde 81, o apelido que Genilson tinha colocado em uma das nossas musas da época, frequentadora do Estudio 52, que vivia provocando delírios etílicos em Jorge Teles nosso cinegrafista de plantão.

      Artur Gomes Gumes

               ARTUR GOMES.
           Entrevista de Jiddu Saldanha.
                Traducción: Leo Lobos.

Artur Gomes es un poeta que se mueve a la velocidad de su erotismo, un liberta­rio, con una sed poética– antropófaga. Dueño de un estilo único y con talento extremo para decir sus poemas en público el viene coleccionando fans por el Brasil y el exte­rior. Influenciando multitudes de jóvenes poetas en Río de Janeiro y contribuyendo fuerte­mente para la cultura del país.

- Leyendo tus poemas me encontré con una cuestión semejante a Hilda Hilst. No escribes una poesía “fácil”, entonces te pregunto: ¿Escribes para tener lectores? -

Claro que escribo para tener lectores, como Hilda Hilst también que­ría tenerlos. La dificultad, creo, está en la cuestión de los lenguajes poéti­cos. No creo que mi poesía sea difícil. Tal vez la falta de lectura de poesía sea el factor que dificulte a la mayoría de los lectores captar en su esencia el mensaje del poeta.

– Para muchos poetas posees una óptima forma de decir poemas, de las mejores que ya se vio por ahí. ¿Hablar poemas es también un oficio?

– Hablar poesía, es un ejercicio que practico cotidiana­mente desde el instante en que me descubrí poeta. Si ser poeta es un oficio, hablar poemas, para mí también lo es. Se que con esta comunica­ción directa, el poema se torna más accesible al otro, que deja de ser lector para ser oyente. El sentido auditivo le permite una emoción que la lectura silenciosa no proporciona.

– Tengo curiosidad en saber, el Artur Gomes que escribe los poemas es el mismo que los habla. ¿Existen “auras” diferentes en cada momento de tu actividad artística?

– El acto de la crea­ción, es un instante solita­rio, en que el poeta se encuentra con los conflictos inherentes a todo ser humano, es cuando está en comunión consigo, y al mismo tiempo en comunión con todos. En este instante no existe mucho en que pensar, a no ser, dejar al imagina­rio fluir y a la escritura brotar en el papel, o en la tela del computador. Ahora el acto de hablar el poema requiere otras prácti­cas. En mi caso tiendo a no teatralizar el texto, y si dotar el habla de una sonoridad compatible con el drama o el humor pertinente que está contenido en la palabra escrita. En este momento el poeta deja de ser poeta, para tornarse actor.

– Además de poeta eres también un gestor/productor, haciendo puente para otros artistas y ayudando a eventos de gran importancia nacional como la “Bienal de Campos”, o “Festival de Campos – Poesía Hablada”, o el “Concurso de cuentos José Cândido de Carvalho”. ¿ Queda tiempo para tirar maní a los monos?

– Tú me haces recordar una bella canción de Car­los Careqa, “No de maní a los monos”, presente en su disco “Los hombres son todos iguales”. Todas estas actividades son rea­liza­das con un intenso placer, si así no fuese no valdría la pena. Lo que más importa en este caso es la posibilidad de colocar la poesía en primer lugar, lo que para mi es una tarea diaria. Los monos que esperen por el maní… (risas).

– ¿“Fulinaíma” y “Sagarana” son conceptos inspira­dos en Guimarães Rosa y Mário de Andrade? ¿O es una especie de diálogo filosófico
poético con la juventud brasilera tan carente de contacto con artistas viscerales?

– Por instinto natural, siempre me gusto jugar con las palabras, re
inventar unas y otras, no es simple­mente hacer una relectura. Pero si, intentar crear a través de ellas algunas otras. Tengo la certeza que los contactos con la música y el teatro contribuirán decidida­mente para desa­rrollar todavía más esa práctica.
Tanto Fulinaíma como Sagarana son frutos que crecieron de proyectos desa­rrolla­dos con el objetivo de una re
creación volcada para esos pila­res de la cultura brasilera contemporánea. La crea­ción de Fulinaíma se la debo a mi cercano colabora­dor el músico Naiman. Ella nace cuando todavía estaba en escena en São Paulo con el proyecto Retazos Inmortales de Serafim”, a pesar que su foco está centrado en Oswald de Andrade, es con la mezcla macunaímica de Mário de Andrade que pensa­mos adobar nuestra comida. En tanto Sagarana, nace con la crea­ción del poema Saragaranagens, que es un pedido de bendición al maestro Guimarães Rosa.

– Antes de destacarse como un maestro de la palabra ya eras conocido como artista visual. Háblanos un poco de tu trabajo en esta área.

– En 1983, aún en Campos, cree el proyecto Muestra Visual de Poesía Brasilera, que es una “exposición gráfico visual” con los lenguajes experimentales que pudimos conocer a partir del modernismo. A partir de ahí comencé a estrechar contacto con grandes poetas del país y del exte­rior que ya hace algún tiempo trabaja­ban con poesía visual y otros lenguajes experimentales donde la visualidad estaba presente. Este proyecto tubo varios desdoblamientos y a cada exposición de acuerdo con el objetivo que intentá­ba­mos alcanzar definía las característi­cas de la poesía que íbamos a exponer. Considero este trabajo bien singular en mi producción poética. Aunque es con la palabra escrita con la que procuro colocar mi condición de poeta en este mundo.

- ¿A quién lees?

– En poesía leo una infinidad de poetas conocidos o no, por cuenta del “Festival de Campos de Poesía Hablada”, y a nuestros maestros Drummond, João Cabral, Oswald y Mário de Andrade, Paulo Leminski, Mário Faustino, Torquato Neto, Murilo Mendes, Baudelaire, Augusto y Haroldo de Campos, Mallarmé, Manuel Bandeira, Mário Quintana, Manoel de Barros, Ferreira Gullar, Hilda Hilst y Ana Cristina César. Acabe de leer el libro Plano de Vuelo, de Ademir Antonio Bacca.

- ¿A quién conside­ras hoy el primer equipo de la poesía en el Brasil?

– Es muy difícil definir ese primer equipo. Aunque tene­mos también de una forma subterránea, una decena de grandes poetas en plena productividad como Tanussi Cardoso, Marcus Vinicius Quiroga, Helena Ortiz, Antônio Cícero, Aclyse de Mattos, Aricy Curvello, Dalila Teles Veras, Ademir Assunção, Fabiano Calixto, Diana de Hollanda, Zhô Bert­holini, Lau Siqueira, y por ahí sigue… Es una producción aún restringida a una ciudad o a una región de cada uno de esos poetas, pero de gran calidad.

– ¿Quién es Artur Gomes por Artur Gomes?

– Un ser, social, erótico, religioso, sagarânico y fulinaímico, preo­cupado con las cuestiones humanas de los seres que habitan este convulsionado planeta.

ALGUNA POESÍA

no. no basta­ría la poesía de tranvía
que desbarranca luna en mis pestañas
en un trapecio de pendientes donde la solapa
cargada de asaltantes en sus arcos
hiriendo la fría noche como un golpe
que va haciendoel amor entre las líneas.

no. no basta­ría la poesía cristalina
para las niñas que están rasgándo
se el cuerpo intentando lasuerte
en cada puerta del metro.
y nosotros poetas desvendando palabritas
vamos danzando en el vértigo de este circovola­dor.

no. no basta­ría toda risa por las plazas
ni el amor que las palomas tejen por los trigales
los pája­ros despedazándose en los ventanales
y las mujeres cuidando a sus críos.

no basta­ría delirar Copacabanay
esta cosa de sal que no me engaña
la luna en la carne cortando una seducción gay
y un olor de fémina en el aire devora­dor
aparentando rea­lismo hipermoderno,
en un cuerpo de ángel que no fue mi dios quien hizo
ese gusto de cosa del infierno
como probar el amor al aire libre
en una cósmica y profana poesía
entre las piedras y el mar de Arpoa­dor
una mixtura de hechizo y fantasía
en altas olas de misterios que son nuestros

no. no basta­ría toda poesía
que yo traigo en mi alma un tanto puerca,
esta pos­tal con una imagen parecida a Lorca:
un tranvía aterrizando allá en la Urca
y esta ciudad recostándose en el agua
en mis demoliciones
pues si el Cristo redentor dejase la piedra
con certeza nunca más reza­ría el padrenuestro
y con certeza solo haría con mis huesos poesía.

EL BUEY MANCHADO

Levanta mi buey levanta
que es hora de viajar
despierta buey todo
buey debe luchar.
Y…allá va el buey
con sus ojos tris­tes
hecho madre cansada
del camino, de la vida,
cargando dolor
cabizbajo
con miedode ser el primero
en enfrentar el puñalo la horca.

Allá va el buey del arado
buey de carro
buey de carga
buey de cerca
buey de yugo
buey de cuerda
buey de prado
buey de corte.

Buey negro
buey blanco
Allá va el buey manchado…
allá va el buey
en su conciencia
triste, solita­rio
ojeando a los que pasan
con miedo de alzar su voz
su bufaral oído de los otros.

Allá va el buey
en su paso manso,
danza en la contra
danza
con la certeza que la esperanza
es mucho más que aquello
que le fue predestinado.

Allá va el buey
manchado
allá va el buey…buey Antonio
buey Juana buey María
buey Juan.
Buey Thiago
Buey Ferreira
Buey Drummondel
Buey Bandeira,
y tantos
que conoci que sabiendo o no sabiendo
cada buey tiene su fin.
Allá va el bueycon su gesto manso
en el equilibrio manco
que me inspira y desespera…
va para el cofre,
él sabe eso.
Va al matadero
él sabe eso.
Va a la balanza
y sin ser equilibrista
ya conoce su destino.
allá va el buey
manchado

Y allá va el buey
por las líneas del tren
en los vagones de fierro.
Cargado
de marcas en el cuerpo
y agonía en su corazón.

Levanta mi buey levanta
que es hora de viajar
despierta buey todo
buey debe luchar…

Levanta mi buey opera­rio
buey de martirio y de sala­rio
buey de pala y de hora­rio
buey de la amarra en el cuello
buey de carne, buey de hueso
servido al plato de la serpiente
buey de lama
buey de foso
buey indigesto e indigente.

levanta mi buey de fardo
buey de cerca
buey de carga
buey de yugo
buey de cuerda
buey de fuerza
buey de farsa
buey de farra
de venganza
buey de fiesta
buey de hierro
levanta mi buey destino
buey pavesa
espanta
pájaro
buey de paño
levanta mi buey de paja
buey de circo
buey de sueño
buey salvaje
buey de plano
levanta mi buey de barra
buey de guerra
buey de berro buey de barro.

Levanta mi buey manchado
hombre payaso enmascarado
máscara de ani­mal y desengaño
ningún hombre des­almado
se mostrará con nuestra cara
se cubrirá con nuestros paños

Levanta mi buey de plata
buey de plato
buey de llanto
buey de clavo
alambre de púas
buey de carga y de arado
buey Juan des­empleado
de terno infierno y de corbata
buey sin libro
buey sin acta
buey de zafra
buey de cofre
buey de carta
buey de corte:
buey de carne herida
mugiendo de sur a norte,
buey que nace para la vida
y que engorda para la muerte.

Traducción: Leo Lobos y Cristiane Grando
http://www.santiagoinedito.cl/

Esfinge

o amor
não e apenas um nome
que anda por sobre a pele
um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome

e que a pele do teu nome
consome a flor da minha pele

cravado espinho na chaga
como marca cicatriz
eu sou ator ela esfinge
clarisse/beatriz

assim vivemos cantando
fingindo que somos decentes
para esconder o sagrado
em nosso profanos segredos
se um dia falta coragem
a noite sobra do medo

na sombra da tatuagem
sinal enfim permanente
ficou pregando uma peça
em nosso passado presente

o nome tem seus mistérios
que se esconde sob panos
o sol e claro quando não chove
o sal e bom quando de leve
para adoçar desenganos
na língua na boca na neve

o mar que vai e vem
não tem volta
o amor e a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca é a porta
onde o poema não tem fim

Artur Gomes
em maio chega novo livro: 
O Poeta Enquanto Coisa 

 memórias no desassossego

não sou Fernando Pessoa
mas acordei com o coração em alvoroço
aliás nem dormi literalmente no desassossego

na memória Uilcon Pereira passeava
com o seu coração de boatos
a procura do Gabriel de La Puente
que até hoje não sabemos a ponte
por onde atravessou sem direito a despedida

a luz do Farol da Barra me vem aos olhos
de um amor que vem chegando
e me promete acarajés e escadarias
o tempo ah! o tempo e seus contornos inesperados

quando iria imaginar que depois de ouvir por tanto tempo
com paixão sem limites

Gil
Caetano
Gal
Bethânia

estaria agora assim tão assim
no colo de uma baiana
bebendo o líquido bom
que algum deus me reservou
e deixou guardada para mim. ?

Artur Gomes
na memória do desassossego
O Poeta Enquanto Coisa

alfândega

em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam Maydoida cigana
que me deixou no desconforto

Federico Baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/

não tenho panos

fico nua para o vento
relâmpagos trovões
tempestades temporais
e ventania
não tenho em mim calmaria
trago vulcões em pensamento

Federika Lispetor

hoje vou comer
a coxinha da paulista
vou comer fiado
vou comer de graça
coxinha só se paga a prazo
a perder de vista
na pia no banheiro
no telhado na cozinha
coxinha se come aos montes
nas ruas nas praças
nos palácios nas garagens
coxinha é massa
de manobra
amassada com trigo com farinha
carne que se presta
pra usar comer e jogar na lata de lixo
coxinha não é gente
é pior que bixo

Gigi Mocidde

www.porradalirica.blogspot.com

SagaraNAgens

a terra aqui é vermelha
branca - é a carne de dracena
tudo cena -
dela só quero a boca

seus olhos de fogo me engolem
da janela em frente
estou no oitavo andar de um hotel qualquer

seus pelos são pétalas eletrizantes
de um maldito mal-me-quer

ajeito o foco da lente
para vê-la de perto
avisto a púbis de vênus

a língua cresce
não seria por menos
nem no mais banal dos melodramas
com essa linda louca que me acena
aqui agora no meu quarto
embaixo dos lençóis na minha cama

Artur Gomes

www.porradalirica.blogspot.com

Subversiva 1

Eu não sou santa

nem casta
a vida é bruta

e não me basta
 vou a luta


uma quadrilha
de filhos da puta
tomou o Planalto de assalto
o lugar deles é a lata de lixo
de onde nunca deveriam ter saído

vamos enxotar essa putada
varrer do mapa esses canalhas
nem que seja a golpe de gilete
a fios de navalhas
se é esse jeito ou única saída
subverter a ordem
acelerar o ritmo da libertação

a Arte é arma
e não temos tempo
de Temer a morte
Arte é intervenção da massa
armemos o povo
para o povo entender
e aprender a Ocupar
Democracia é palavra gasta

“a arte existe
porque a vida não basta”

se a massa está inerte
vamos fermentá-la
vamos fomentá-la
com fermento do biscoito fino
antes do anoitecer

“quem sabe faz a hora
não espera acontecer”

vamos a hora é essa
eu tenho pressa
não temos tempo pra espera
o trem das onze está partindo
e quem perder já era

Gigi Mocidade

setembro - 2019

www.porradalirica.blogspot.com

bolivariando 2

 

eu sempre andei
no encalço
dos olhos de carolina
na fantasia
dos meus passos
tem confete/serpentina

onde o profano e o sagrado

em puerto viejo

cavajarro se encontram

em outro tom

a cigana boliviana

com seus olhos de pimenta

com suas pimentas nos olhos

me levou para lá sierra

de santa cruz da Bolívia

onde se masca folhas de coca

antes do coito das cinco

sem chá e nem torrada

e cerveja muito menos

o sexo ali é na porrada

com  fogos de artifícios comendo

no carnaval do mato dentro


Artur Gomes

www.porradalirica.blogspot.com

linguagem

abraço este poema
como se beijasse meu poeta
com suas linhas tortas
em meu corpo tatuado
teu nome e sobrenome
como um gozo ardente
tua língua ativa
me lambendo quente
e todo líquido escorrendo
por entre o vão dos dentes

Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com


a cara a tapa


tenho minha arma na língua
não nas coxas
veneno na saliva
só a cara é de anjo
o sal da ilha de creta
a pedra da boa viagem
tenho na bagagem
faca, estilete, canivete
afiada navalha
para raspar pentelhos
rasgar bandeiras
dessas cara/velas
da milenar tropicanalha

Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com


Eros

tua blusa de seda
entre meus dentes
o nó se desfez depois do vinho
sob as folhas dos parreirais
vale - os vinhedos
quantas vezes Eros
eletrizou os nossos dedos?

Federico Baudelaire

Tempo Poético
Para Isadora Chiminazzo Predebon

O tempo é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no incons/ciente
o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem
Caminho de Pedras
o cenário
Vale dos Vinhedos
o tempo
guardo em segredo
como uma Jura Secreta
na íris dos olhos dela
na face oculta da noite
na retidão clara do dia
como um concha na areia
o tempo mar de espumas
sargaço algas noturnas
a carne do corpo também
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com

Profanalha Nu Rio

a flecha de são sebastião
como ogum de pênis/faca
perfura o corpo da glória
das entranhas ao coração

do catete ao largo do machado
onde aqui afora me ardo
como bardo do caos urbano
na velha aldeia carioca

sem nenhuma palavra bíblica
e muito menos avária

: orgasmo é falo no centro
lá dentro da candelária

Artur Gomes

www.suorecio.blogspotcom

Poética 48

era quase uma menina
nem bem sei se era
pois me dera amor carnal

como eu quisera
como nunca antes
outra mulher me dera

Federika Lispector

Fricção

quem passou a língua
nas coxas da Caipora?
me pergunta Federico Baudelaire
cheirando as Flores d0 Mal
no Sarau de EuGênio Mallarmè

Gigi então invoca
a Dona Santa Federika
que baixa na mesma hora

- ora bolas fui eu
com minha língua de faca
cortei a cara da vaca
a começar pelas coxas
depois subi pelo corpo
até o buraco da boca
e meti a língua na língua

e na suruba das línguas
a dela mordendo a minha
a minha mordendo a dela
a Arte então se revela
não existe Arte sem língua
nem Teatro sem linguagem
a Arte é uma grande suruba
e o resto mais é paisagem

Cristina Bezerra

moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como um beijo no teu corpo agora

desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta
sendo animal da Mata Atlântica
quântico amor ou metafísica
tudo que em mim não há respostas

metáfora D´alkimim fugaz Brazílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele sobre as tuas costas

os bichos amam em comunhão na mata
como se fosse aquela hora exata
em que despes de mim o ser humano
e do corpo rasgamos todo pano
e como um deus pagão pensamos sexo

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


não tenho panos

fico nua para o vento
relâmpagos trovões
tempestades temporais
e ventania
não tenho em mim calmaria
trago vulcões em pensamento

Federika Lispetor

alfândega

em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam Maydoida cigana
que me deixou no desconforto

Federico Baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/

hoje vou comer
a coxinha da paulista
vou comer fiado
vou comer de graça
coxinha só se paga a prazo
a perder de vista
na pia no banheiro
no telhado na cozinha
coxinha se come aos montes
nas ruas nas praças
nos palácios nas garagens
coxinha é massa
de manobra
amassada com trigo com farinha
carne que se presta
pra usar comer e jogar na lata de lixo
coxinha não é gente
é pior que bixo

Gigi Mocidde

www.porradalirica.blogspot.com

SagaraNAgens

a terra aqui é vermelha
branca - é a carne de dracena
tudo cena -
dela só quero a boca

seus olhos de fogo me engolem
da janela em frente
estou no oitavo andar de um hotel qualquer

seus pelos são pétalas eletrizantes
de um maldito mal-me-quer

ajeito o foco da lente
para vê-la de perto
avisto a púbis de vênus

a língua cresce
não seria por menos
nem no mais banal dos melodramas
com essa linda louca que me acena
aqui agora no meu quarto
embaixo dos lençóis na minha cama

Artur Gomes

www.porradalirica.blogspot.com

Subversiva 1

Eu não sou santa

nem casta
a vida é bruta

e não me basta
 vou a luta


uma quadrilha
de filhos da puta
tomou o Planalto de assalto
o lugar deles é a lata de lixo
de onde nunca deveriam ter saído

vamos enxotar essa putada
varrer do mapa esses canalhas
nem que seja a golpe de gilete
a fios de navalhas
se é esse jeito ou única saída
subverter a ordem
acelerar o ritmo da libertação

a Arte é arma
e não temos tempo
de Temer a morte
Arte é intervenção da massa
armemos o povo
para o povo entender
e aprender a Ocupar
Democracia é palavra gasta

“a arte existe
porque a vida não basta”

se a massa está inerte
vamos fermentá-la
vamos fomentá-la
com fermento do biscoito fino
antes do anoitecer

“quem sabe faz a hora
não espera acontecer”

vamos a hora é essa
eu tenho pressa
não temos tempo pra espera
o trem das onze está partindo
e quem perder já era

Gigi Mocidade

setembro - 2019

www.porradalirica.blogspot.com

bolivariando 2

 

eu sempre andei
no encalço
dos olhos de carolina
na fantasia
dos meus passos
tem confete/serpentina

onde o profano e o sagrado

em puerto viejo

cavajarro se encontram

em outro tom

a cigana boliviana

com seus olhos de pimenta

com suas pimentas nos olhos

me levou para lá sierra

de santa cruz da Bolívia

onde se masca folhas de coca

antes do coito das cinco

sem chá e nem torrada

e cerveja muito menos

o sexo ali é na porrada

com  fogos de artifícios comendo

no carnaval do mato dentro


Artur Gomes

www.porradalirica.blogspot.com

linguagem

abraço este poema
como se beijasse meu poeta
com suas linhas tortas
em meu corpo tatuado
teu nome e sobrenome
como um gozo ardente
tua língua ativa
me lambendo quente
e todo líquido escorrendo
por entre o vão dos dentes

Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com

a cara a tapa

tenho minha arma na língua
não nas coxas
veneno na saliva
só a cara é de anjo
o sal da ilha de creta
a pedra da boa viagem
tenho na bagagem
faca, estilete, canivete
afiada navalha
para raspar pentelhos
rasgar bandeiras
dessas cara/velas
da milenar tropicanalha

Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com


Eros

tua blusa de seda
entre meus dentes
o nó se desfez depois do vinho
sob as folhas dos parreirais
vale - os vinhedos
quantas vezes Eros
eletrizou os nossos dedos?

Federico Baudelaire

Tempo Poético
Para Isadora Chiminazzo Predebon

O tempo é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no incons/ciente
o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem
Caminho de Pedras
o cenário
Vale dos Vinhedos
o tempo
guardo em segredo
como uma Jura Secreta
na íris dos olhos dela
na face oculta da noite
na retidão clara do dia
como um concha na areia
o tempo mar de espumas
sargaço algas noturnas
a carne do corpo também
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com

Profanalha Nu Rio

a flecha de são sebastião
como ogum de pênis/faca
perfura o corpo da glória
das entranhas ao coração

do catete ao largo do machado
onde aqui afora me ardo
como bardo do caos urbano
na velha aldeia carioca

sem nenhuma palavra bíblica
e muito menos avária

: orgasmo é falo no centro
lá dentro da candelária

Artur Gomes

www.suorecio.blogspotcom

Poética 48

era quase uma menina
nem bem sei se era
pois me dera amor carnal

como eu quiser
como nunca antes
outra mulher me dera

Federika Lispector

Fricção

quem passou a língua
nas coxas da Caipora?
me pergunta Federico Baudelaire
cheirando as Flores d0 Mal
no Sarau de EuGênio Mallarmè

Gigi então invoca
a Dona Santa Federika
que baixa na mesma hora

- ora bolas fui eu
com minha língua de faca
cortei a cara da vaca
a começar pelas coxas
depois subi pelo corpo
até o buraco da boca
e meti a língua na língua

e na suruba das línguas
a dela mordendo a minha
a minha mordendo a dela
a Arte então se revela
não existe Arte sem língua
nem Teatro sem linguagem
a Arte é uma grande suruba
e o resto mais é paisagem

Cristina Bezerra

 

Jura secreta 54


moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como um beijo no teu corpo agora

desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta
sendo animal da Mata Atlântica
quântico amor ou metafísica
tudo que em mim não há respostas

metáfora D´alkimim fugaz Brazílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele sobre as tuas costas

os bichos amam em comunhão na mata
como se fosse aquela hora exata
em que despes de mim o ser humano
e do corpo rasgamos todo pano
e como um deus pagão pensamos sexo

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com

lua nova

o imaginário
o su-real
a fantasia

como eu queria
ser a Cássia Eller
cantar nos seus ouvidos
:
nada disso
o tempo de espera é lua velha
a lua nova quando chega
bate a porta

abro para ver quem é
não há surpresa
é você mulher

Artur Gomes Gumes

 A tentação sou eu


Deito pra lua
só ela p(h)ode como eu quero
penetrar-me com sua luz de fogo
me deleitar com seu leite
eu quero a lua cheia
que me entre o mar das cochas
e me engravide com seu manto
e que não fique algum quebranto
o mal olhado o olho gordo
que me lave com seu líquido
e me leve até São Jorge
com o seu cavalo branco

Gigi Mocidade
 

www.porradalirica.blogspot.com

a Arte que me interessa
é sem mordaça
a muito tempo
minha boca do inferno
perdeu sua cabaça
pelo prazer de gozar
e fazer


                              Cristina Bezerra

             Poética 86


teu silêncio
pedra na garganta
saliva seca
nessa língua faca
por quê não canta
a dor de cotovelo?

derruba essa parede
que te cerca
desamarra essa corda
que te enforca
rasga essa mortalha
que te mata

os lençóis da cama

amanheceram amarrotados

te vejo nas vitrines

frente a janela contra luz

nos olhos  - me mostra

o litoral das costas

mar que não tem fim

 

mergulha que setembro

é outro tempo – o que se foi

já era – as ervas estão crescendo

nos canteiros

morremos de sede

do vinho que não bebemos

e do amor que não fizemos


Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com

o sal que escorre
sobre tuas costas
é mar de esperma
que vai fecundar
entre tuas coxas
mariscos ostras
peixes vários
na explosão das algas

quando o mar do cio

em eclosão atlântica

for comunhão de olgas

e as conchas grávidas

de sereias

parir em seus ouvidos

Federico Baudelaire 

o mestre hoje me deixou sem palavras tive que me fingir de santa quase fiquei de quatro embora lendo as cartas de Rimbaud tive que concordar com ele aos 17 18 anos realmente meu corpo não cabia nos panos

Rúbia Querubim

https://arturfulinaima.blogspot.com/

poética 58

se a negritude ameríndia
do meu canto
lhe causa desconforto
insana criatura
não se assuste com essa química
isso se chama Sagaranagens Fulinaímicas
meu girassol de metáforas
meu caldeirão de misturas

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

www.secretasjuras.blogspot.com


o rascunho

 

contém um poema

           que o poema

                  impresso

                    não tem

 

o testemunho

            na lenta rasura

            na pressão do punho

            na linha da letra

 

o cunho

 

aquilo:

        o que a palavra

                               nem

 

Eduardo Tornaghi

In Sala de Visitas – poetas e poemas

Org. Chris Resplande

Goiânia – GO - 2022

Jura secreta 27

 rio em pele feminina 

o rio com seus mistérios 
molha meu cio em silêncio 

desejo o que nos separa 
a boca em quantos minutos 

as flores soltas na fala 
o pó dos ossos dos anos 

você me diz não ter pressa 
seus olhos fogo na sala 

o beijo um lance de dados 
cuidado cuidado cuidado 

que sou um anjo de fadas 
não beije assim meus segredos 

meus olhos faróis nos riachos 
meus braços dois afluentes 
pedaços do corpo do rio 
meus seios ilhas caladas 
das chamas não conhece o pavio 

se você me traz para o cio 

assim que o sexo aflora 
esta palavra apavora 

o beijo dado mais cedo 
quebra meu ser no espelho 

meu cerne é carne de vidro 
na profissão dos enredos 
quanto mais água me sinto 
presa ao lençol dos seus dedos 

o rio retrata meu centro 
na solidão de mim mesma 
segundo a segundo nas águas 

lá onde o sol é vazante 
lá onde a lua é enchente 
lá onde o rio é estrada 

onde coloca seus versos 
me encontro peixe e mais nada 

 

Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


voragem

não sou casta
e sei o quanto custa
me jogar as quantas
quando vejo tantas
que não tem coragem
presa a covardia

eu sou voragem
dentro da noite veloz
na vertigem do dia

Federika Lispector
 

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/

fruta farta

amoras
nus - teus pelos
quantas línguas
já provaram
mangas
na carne ancestral
da uva roxa
pra desbravar
o sexo
no pomar
das tuas coxas

Artur Gomes

www.suorecio.blogspot.com


Jura Secreta

não fosse essa jura secreta
mesmo se fosse e eu não falasse
com esse punhal de prata
o sal sob o teu vestido
o sangue no fluxo sagrado
sem nenhum segredo

esse relógio apontado pra lua
não fosse essa jura secreta
mesmo se fosse eu não dissesse
essa ostra no mar das tuas pernas
como um conto do Marquês de Sade
no silêncio logo depois do susto

Artur Gomes

www.secretasjuras.blogspot.com

pele grafia

meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento

o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


em tudo que Ana não disse
teus lábios molhados
talvez só quisessem
a língua lambendo Clarice
na hora do amor se fizesse
um livro com hora marcada
no instante que ela quiser
na ora H de Clarice
em Ana nascendo a mulher

Cristina Bezerra
https://www.facebook.com/onomedamusa/

 Jura secreta 101


fosse Clarice
uma mulher aos trinta
em tudo que ainda sint(r)a
como um mar pulsando ostras
beijaria o sal nas coxas
entre deuses céus infernos
fosse sagrado – não profano
nossos desejos mais e-ternos

fosse nu – corpo sem planos
como o vento nos vinhedos
em teus cabelos – desalinhos
os teus poros nos meus dedos
tua lã fosse meu linho
tua língua entre meus dentes
em nossas bocas tinto – vinho

Artur Gomes

www.fulinaimargem.blogspot.com

toda nudez não será castigada

leia mais na página https://www.facebook.com/giginua/photos

         Pele

Um favo de mel na boca
um torrão de sal na anca
roubam para a pele o calor de animais
simples e vorazes
soltos como numa catedral
pele de asno
pele de mel
pele de água

Olga Savary
https://www.youtube.com/watch?v=bhY_YYhzU7w&t=81s 

        Pornofônico confesso

se este poema inocente
primitivo natural indecente
em teu pulsar navegante
entrar por tua boca entre dentes
espero que não se zangue
se misturar o meu sangue
em teu pensar quando antropo
por todas bocas do corpo
em total porno.grafia
na sagração da mulher

me diga deusa da orgia
se também tu não me quer
quando em ti lateja devora
palavra por palavra
por centro dentro dentro ou fora
em pornofonia sonora

me diga lady senhora
nestes teus setenta anos
se nunca gozou pelos ânus
me diga bia de dora
num plano lítero/estético
qual o humano ou cibernético
que te masturba ou te deflora

Artur Gomes

www.fulinaimargem.blogspot.com


Se esiste un tempo per il silenzio, questo è il mio tempo.


Stefania Diedolo


Se existe um tempo para o silêncio, este é o meu tempo.

o Rei está Nu

e a Rainha também

o palácio dava para

os fundos

do submundo

onde morava

a loucura tântrica

em suas garras semânticas

como física quântica

ela gozava solitária

ao amanhecer de todo dia

por onde o sexy aflora
não há controle sobre mim
da carne ao telhado o corpo
é um músculo retesado
a espera da penetração
ondas que num vai e vem
esperma escorre entre as coxas
do prazer de que não se contém


eu não tenho calma
minha alma é inquieta
não tenho como ficar quieta


Federika Lispector

www.fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com

            carnívora


o amor é feito de corpos
o amor é feito de membros
o amor é feito de meses
janeiro fevereiro março
todos os dias acordo e me lembro

o amor é feito de abril
maio junho julho
o amor é feito de agosto
setembro outubro novembro
o amor é feito dezembro

o amor é feito de anos
o amor é feito de agora
horas minutos segundos
é razão de estar no mundo
o amor se faz toda hora


Espelho 3

fotografei o espelho
em tua íris retina
e revelei a menina
que em meus olhos havia
banhada de sal e sol
em pétalas de girassol
que os meus olhos comiam


Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa

www.secretasjuras.blogspot.com

LeminskiAndo em Cena

quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não sustenta um olhar que demora
diante do meu centro
este poema me olha

ali
se Alice ali se visse
quando Alice viu e não disse
se Alice ali se dissesse
quanta palavra veio
e não desce
ali bem ali
dentro da Alice
só Alice com Alice
ali se parece

Paulo Leminski

             às vezes

o substantivo carece
de mais substantivos

o verbo de verbos
verbos de advérbios

as palavras fazem crescer o mundo
mas a língua não é a realidade
nem a arte se assemelha à natureza

criam outra
realidade que expande a realidade
(às vezes)
no branco da página

Aricy Curvello

           I


Tal aquele barqueiro distraído
que perdeu a isca e fisgou o remo as pescar
a lua, eu queria escrever distraidamente.
E encurvar o anzol até fechar-se um círculo
para que minhas palavras não caiam.

Quando engulo abstrações, morro de tédio.
Por isso, para sobreviver, meu devaneio
desce ao chão e distende-se numa caminhada.
E ao pisar na relva meus passos
estalam folhas secas.

Mas não é por maldade que piso
nas coisas da terra. A elas meus sapatos
irmanam-se no ímpeto que as faz
viver na simplicidade do cotidiano
a engendrar bichos de nuvem.

E distraidamente mantemos
o fôlego.

Mirian de Carvalho

do livro nada mais que isto
Scortecci Editora - 2011

signos em convulsão

flores
precisam de água

coelhos
gostam de folhas de couve-flor

humanas
confusões de signos

dexplosão de gaseduto no cairo
centenas de feridos em atentado no metrõ de londres

o público alvo do jô onze e meia
américa - terra de bravos

as abelhas que pousam nas uvas
não são clones de abelhas

um bilhete no e-mail du superpateta
poeta das perdidas ilusões

ilusionista, domador de leões
amante do bom vinho

e das mulheres que uivam na lua cheia
ronrons de fêmeas, gemidos

alquimia de salivas, miados
cheiros, imagens

sem replay

o rio que passa na minha cidade
está poluído

em quais camas as grandes cópulas douradas¿

um boeing me coloca diante das ondas do mar
marolas, maresias

frutos de flores marítimas
deuses do ar, deusa da água

o fogo arde a raíz das árvores
línguas de lesmas, húmus

nada que não finja
beleza que não finda

mesmos crisântemos
florescendo
na lâmina da espada

um facho de lua
sobre as pétalas
do jardim

Ademir Assunção
do livro Zona Branca
Travessa dos Editores - 2006


 pátria a(r)mada 1


só me queira assim caçado
mestiço vadio latino
leão feroz cão danado
perturbando o teu destino

só me queira enfeitiçado
veloz macio felino
em pelo nu depravado
em tua cama sol à pino

só me queira encapetado
profanando aqueles hinos
malandro moleque safado
depravando os teus meninos

só me queira desalmado
cão algoz e assassino
duplamente descarado
quando escrevo e não assino

Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
fulinaima@gmail.com
(22) 99815-12668 - whatsapp 

www.arturgumes.blogspot.com 

manhatan city e/ou mediocridade mídia

esta cidade cheira a bosta nas calçadas nas marquises e as meninas são felizes nas capas de revistas as meninas dos jardins são expressões su-realistas as meninas dos jardins gostam de funk as meninas dos jardins rastam de rap as meninas dos jardins só ferem punk as meninas dos jardins já mascam coca as meninas dos jardins só fumam clac as meninas dos jardins não são do rock as meninas dos jardins só festam ploc como sabem ou como queiram mas as meninas dos jardins não fedem nem cheiram

Federico Baudelaire

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa
por Nuno Rau

Andamos no presente como vagando sobre um território rumo a outro, o futuro, para onde olhamos (além do olhar atento à nossa paisagem, o agora), mas sem perder a ligação com os territórios de onde viemos, o passado, de onde nos enviam mensagens-cabogramas. Ocorre que, antes, essas mensagens pareciam trilhar cabos unificados, e hoje elas nos vêm por uma rede de miríades de fios entrelaçados, com origens várias, por wi-fi, mescladas aos arcaicos sinais de fumaça, batidas de tambor.

O poeta contemporâneo tão mais contemporâneo se torna quando, atento ao presente absoluto para pensar a direção de seus passos, fica também atento aos sinais do passado, não dispensando o gesto ameríndio de perscrutar nas matas o aproximar-se da civilização predatória (como os nativos norte-americanos encostavam o ouvido nos trilhos do trem) enquanto observa, na tela de seu dispositivo, a nuvem de futuros prováveis, nem todos gloriosos: assim um poeta se torna criador de mundos.

Artur Gomes performa, em “O poeta enquanto coisa”, a sua dança tribal em que diversos dados da tradição se mesclam em sua reinterpretação ancorada no hoje, o que sempre implica numa tomada de posição política do poeta, que brindamos aqui, com alegria, porque nos traz luz sobre um momento particular de trevas na vida civil. É por estas vias que o liquidificador estético do poeta mistura antropofagicamente em suas iguarias-poemas, para que brindemos, deuses gregos com orixás, filosofia e orgia, mente e corpo, política e sexo, o corpo que precisa estar presente cada vez mais nos poemas, afastando quando possível os séculos de metafísica que nos oprimem. Evoé, Artur! Que seu canto ecoe pelos corações e mentes do presente e do tempo que virá.

Nuno Rau, arquiteto, professor de história da arte, tem poemas em diversas revistas literárias, e nas antologias Desvio para o vermelho, do Centro Cultural São Paulo, Escriptonita, que co-organizou, e 29 de Abril: o verso da violência. Publicou o livro Mecânica Aplicada, poemas, finalista do 60º Prêmio Jabuti e do 3º Prêmio Rio de Literatura. Ministra oficinas de poesia no Instituto Estação das Letras e é coeditor da revista mallarmargens.com

Entre/Vistas

Ente/Vistas   Concedendo entrevista ontem 15 de agosto 2025 a Raphael Fuly, licenciando em música no IFF Guarus, sobre a minha trajetória co...