domingo, 26 de novembro de 2023

Juras Secretas

Juras Secretas 

feitiçarias de Artur Gomes - por Michèle Sato 

Difícil iniciar um prefácio para abordar feitiçarias de um grande mestre. A mágica aparição do texto transborda sentidos cósmicos, como se um feixe de luz penetrasse em um túnel escuro dando-lhe o sorver da vida. Diariamente, recebo um deserto imenso de poemas e a leitura se esvai com “batatinha quando nasce põe a mão no coração”. Um ou outro me chama a atenção, desde que sou do chamado “mundo das ciências” e leio poemas com coração, mas inevitavelmente aguçado pelo olhar crítico vindo do cérebro. 

A academia pode ser engessada, mas é, sobremaneira, exigente. Aplaude o inédito, reconhecendo que o poema é um caos antes de ser exteriorizado, mas harmônico, quando enfeitiçado. A leitura requer algo como canto do vento, que não seja fugaz, mas que acaricie no assopro da Terra. Por isso, é com satisfação que inicio este pequeno texto, sem nenhuma pretensão de esgotar o talento do grande mestre, mas responder aos poemas de Artur que brilham, soltam faíscas, incendeiam-se em erotismo e garras enigmáticas. Ele transcende regras, inventa palavras, enlouquece verbos. E as relações estabelecidas revelam a desordem dos sonhos na concretude harmônica de suas palavras. 

A aventura erótica não se despede de seu olhar político. Situado fenomenologicamente no mundo, e transverso nele, Artur profana o sagrado com suas invenções transgressoras. Reinventa a magia e decreta uma nova vida para que o mundo não seja habitado somente pelos imbecis. Dança no universo, com a palavra fluída, imprevistos pitorescos, mordidas e grunhidos. Reaparece no meio de um cacto espinhoso, mas é absurdamente capaz de ofertar a beleza da flor. Contemporâneo e primitivo se aliam, vencem os abismos como se ao comerem as palavras monótonas, pudessem renascer por meio da antropofagia infinita de barulhos e silêncios. O sangue coagulado jorra, as cavernas se dissolvem e é provável que poucos compreendam a beleza que daí se origina. 

Nos labirintos de suas palavras, resplandece o guerreiro devorador, embriagado, quase descendo ao seu próprio inferno. Emana seu fogo, na ardência de sexo e simultaneamente na carícia do amor. Pedras frias se aquecem, coram com o tom devasso que colore a mais bela das pornofonias. Marquês de Sade sente inveja por não ser o único déspota das palavras sensuais. E os poemas de Artur reflorescem, exalam odor como desejos secretos e risos que ecoam no infinito. 

não fosse essa alga queimando em tua coxa ou se fosse e já soubesse mar o nome do teu macho o amor em ti consumiria (jura secreta 5) 

De repente um cavalo selvagem cavalga na relva úmida, como se o orvalho da manhã pudesse revelar o fogo roubado das pinturas rupestres. Ao som de tambores, suas palavras se tornam arte em si, como se fossem desenhos projetados em um fantástico mundo vertiginoso. Seres encantados surgem das águas originários de sentimento, abraçadas nas pedras lisas, rugosas, esverdeadas da terra. O fogo dança em vulcões e a metamorfose é percebida em seus ares. Os elementos se definem como bestas, humanos, ou segmentos da natureza como uma orquestra sinfônica que vai além da sonoridade. Adentram sentidos polissêmicos e, neste momento, até o André Breton percebe o significado das palavras de Artur, pois a beleza é convulsiva e crava no peito feito cicatriz. 

e o que não soubesse do que foi escrito está cravado em nós como cicatriz no corte (jura secreta 10) 

Da violação do limite, do fruto proibido ou da linguagem erótica, os poemas de Artur são orgasmos literários que oscilam entre o sacro e o profano. Sua cultura, visão de mundo e inteligência possibilitam ir além da pura emoção sentimental, evocando a liberdade para que a terra asfixiada grite pela esperança. Artur comunga com outros seres a solidariedade da Terra, ainda que por vezes, seja devastador em denunciar disparidades, mas é habilidoso em anunciar acalentos. A palavra poética desfruta fronteiras, e Roland Barthes diria que a história de Artur é o seu tributo apaixonado que ele presta ao mundo para com ele se conciliar. Em sua linguagem explosiva, provavelmente está a intensidade de sua paixão - um amor perverso o suficiente para viciar em suas palavras, mas delicado o bastante para dar gênese ao mundo enfeitiçado pela habilidade de sua linguagem. 

A essência deste perfume parece estar refletida num espelho, pois se as linguagens podem incluir também o silêncio, as palavras de Artur soam como uma melodia. Projetada numa tela, a pintura erótica torna-se sublime e para além de escrevê-las, ele vive suas linguagens. Esta talvez seja a diferença de Artur com tantos outros poetas: a sua capacidade de transcender a tradição medíocre para viver um intenso de mistério de sua poética. Ele não duvida de suas palavras, nem as censura para não quebrar seu encanto, mas devora em seu ser na imaginação e no poder de sua criação. Criador e criatura se misturam, zombam da vida, gargalham da obviedade. Põem-se em movimento na dança estrelas que iluminam a palavra. 

Os fragmentos poéticos são misteriosos de propósito, uma cortina mal fechada assinala que o palco pode ser visto, porém não em sua totalidade. Disso resulta a sedução para que ele continue escrevendo, numa manifestação enigmática do poder surrealista em nos alertar sobre nossas incompletudes fenomenológicas. O imperfeito é o sentido da fascinação, diria Barthes em seus fragmentos de um discurso amoroso. E a poética de Artur não representa ressurreição, nem logro, senão nossos desejos. O prazer do texto pode revelar o prazer do autor, mas não necessariamente do leitor. Mas Artur lança-se nesta dialética do desejo, permitindo um jogo sensual que o espaço seja dado e que a oportunidade do prazer seja saciada como se fosse um "kama sutra poético" para além do prazer corporal. Esta duplicidade semiológica pode ser compreendida como subversiva da gramática engessada - o que, em realidade, torna seus textos mais brilhantes. Não pela destruição da erudição, mas pela abertura da fenda, para que a fruição da linguagem seja bandeira cultural da liberdade. 

E a sua liberdade projeta-se num horizonte onde a dimensão sócio-ambiental é freqüentemente presente. É uma poesia universal de representações urbanas e rurais, de flora, fauna e fontes de praças públicas. Desacralizando o “normal previsível”, borda em sua costura de mosaicos, esquinas e passaredos. 

eu sei de gente e de bichos ambos atolados no lixo tem gente que come bicho tem bicho que come gente tem gente que vive no lixo tem lixo que mora no bicho gente que sabe que é bicho e bicho que pensa ser gente (jura secreta 28) 

A poética das Juras Secretas opõem-se a instância pretérita numa espiral de presente com futuro. Metafisicamente, desliga-se do momento agonizante e os olhos do poeta não se cansam, ainda que a paisagem queira cansá-los. Seu toque lembra o neoconcretismo, por vezes, cuja aparição na semana da arte moderna mexeu com os mais tradicionais versos da literatura ordinária. Mas sua temporalidade vence Chronos, na denúncia de um calendário tirano ao anúncio de Kairós, também senhor do tempo, mas que media pelos ritmos do coração. 

20 horas 20 noites 20 anos 20 dias até quando esperaria... até quando alguém percebesse que mesmo matando o amor o amor não morreria
. (jura secreta 51) 


É óbvio que a materialidade da linguagem, sua prosódia e seu léxico se mantêm no texto. Mas foge das estruturas engessadas do arrombo repetitivo, florescendo em neologismos verossímeis e ritmos cardíacos. Amiúde, são palavras jorradas em potente cultura significante. No chão dialogante, este poeta desestabiliza a normalidade com suas criações. 

por que te amo e amor não tem pele nome ou sobrenome não adianta chamar que ele não vem quando se quer porque tem seus próprios códigos e segredos mas não tenha medo pode sangrar pode doer e ferir fundo mas é razão de estar no mundo nem que seja por segundo por um beijo mesmo breve por que te amo no sol no sal no mar na neve. (jura secreta 34) 

ARTUR GOMES é, para mim, um grande relato de seu próprio devir, que sabe poetizar a partir de seu vivido. E por isso, enfeitiça. 

 

Michèle Sato – Bióloga, pesquisadora na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

sábado, 25 de novembro de 2023

vampiro goytacá

no concreto do abstrato

na argamassa do concreto

sou

vampiro bêbado de sangue

assassinei os alfarrábios

para inventar meu alfabeto

 

irina me disse há um poema seu debaixo das escadas atrás de cada porta dos palácios metaforicamente fulinaíma desvenda todos os mistérios interplanetários na invasão dos intra poderes que comandam a invasão cibernética dos ventos e por consequencia a invasão dos corpos


inquieto procuro mais uma palavra cínica fulinaimânica sagarínica no corpo da palavra corpo o sangue no corpo da palavra polifônico sinético poema biotômico ressigni –ficar cada lugar na sua coisa cada coisa em seu lugar o ser da coisa serafim vampiro goytacá canibal tupiniquim cbf vergonha geral desastrosa overdose poética você entra com a dose eu entro com a boca depois a gente troca para o over não dormir de toca meu diário escrito em aramaico me persegue que mias que o quiabo vos carregue uma tragédia chamada enel se alastra pelo país quando nasci meu pai me deu caju minha mãe severina cuscuz com carne seca no leite da manbã vã filosofiia lembra daquele dia dezembro mil novecentos e noventa e quatro? j medeiros deu um show trepado no túmulo do torquato saímos do cemitério pro mercado para lamber a cajuína era uma tarde de sol em teresina não sei se foi assim só sei do mal-me-quer nas pétalas das flores do mal tem  EuGênio Mallarmè sangrei a carne da rosa com duas dentadas devorei as pétalas vermelhas de sangue abri um vinho com meu leque de vento e ofereci aos deuses das encruzilhadas com  Federika

Bezerra - A Porta Bandeira tropicalha na escola de samba da poesia contemporânea brasileira não curto palavra morta oca prefiro minha língua torta lembendo a saliva viva no canto da tua boca

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/


quieta aqui nessa solidão capixaba quantas vezes me vem em sonhos ou alucinações contemporâneas tudo o que não fui eu não era a bruna beber muito menos débora seco mas ele gostava até queria que fosse assim como biúte me chamava de vários nomes ao mesmo tempo aquela profusão de palavras como inseto em volta da lâmpada e os cálices nos lençóes de algodão as vezes linho para atiçar nossa luxúria com a contribuição da enel que nos deixava quase sempre no escuro na guarapari do espírito santo uma noite ele passou o tempo todo lendo pagu no meu ouvido e macabea não se conforma por ter sido deixada de lado nas artes cínicas do presídio federal de brazilírica trafega com seus fantasmas pelos corredores falando para o vento que entra pelos buracos das fechaduras

 

Rúbia Querubim

https://fulinaimargem.blogspot.com/


você está se aproveitando da nossa situação e está de olho na minha mulher não vai colar porque gigi federika lady rúbia eu gênia agora é minha quem mora com ela em iriri do espírito santo sou eu pode tirar seu cavalhinho da chuva seu tempo de guarapari passou se não é capixaba que se dana quero mais que o quiabo voz carrege porque sua banda de reggae aqui não toca aqui não é freguesia do ó e você nem conhece quibe de peixe pra ficar jogando isca no meu quintal de areia sua sereia já morreu faz tempo o templo agora é outro pastor de andrade me deu a chave de entrada da cancela principal gado não entra e o bom cabrito vai berrar do lado de fora

Federico Baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/


acho que meus queridos estão todos pirados esses últimos anos de pandemia deve ter afetado as ondas elétricas dos múltiplos cerebelos os fios dos cabelos enferrujados de sal e maresia lá nos anos 90 uilcon serafim me alertava sobre essa onda magnética que se espalharia pelo planeta nos currais nos palácios nas bodegas ademar cardoso também em jardel ricardo pereira lima márcio coelho gabriel de lapuente antes até nos 80 no by brazil do black river de registro a batatais enquanto dalila do abc continua pilotando os alpharrábios zhôo muito zen pensava que tudo seria nuvem passageira enquanto césar conversando com raul já me dizia que a lucidez mora ali do outro lado esquerdo de assombradado enquanto rubens  jardim só quer saber das mulheres com  poesia

 

Artur Gomes Fulinaíma

https://braziliricapereira.blogspot.com/


personas

 quieta aqui nessa solidão capixaba quantas vezes me vem em sonhos ou alucinações contemporâneas tudo o que não fui eu não era a bruna beber muito menos débora seco mas ele gostava até queria que fosse assim como biúte me chamava de vários nomes ao mesmo tempo aquela profusão de palavras como inseto em volta da lâmpada e os cálices nos lençóes de algodão as vezes linho para atiçar nossa luxúria com a contribuição da enel que nos deixava quase sempre no escuro na guarapari do espírito santo uma noite ele passou o tempo todo lendo pagu no meu ouvido e macabea não se conforma por ter sido deixada de lado nas artes cínicas do presídio federal de brazilírica trafega com seus fantasmas pelos corredores falando para o vento que entra pelos buracos das fechaduras


você está se aproveitando da nossa situação e está de olho na minha mulher não vai colar porque gigi federika lady rúbia eu gênia agora é minha quem mora com ela em iriri do espírito santo sou eu pode tirar seu cavalhinho da chuva seu tempo de guarapari passou se não é capixaba que se dana quero mais que o quiabo voz carrege porque sua banda de reggae aqui não toca aqui não é freguesia do ó e você nem conhece quibe de peixe pra ficar jogando isca no meu quintal de areia sua sereia já morreu faz tempo o templo agora é outro pastor de andrade me deu a chave de entrada da cancela principal gado não entra e o bom cabrito vai berrar do lado de fora

Federico Baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/



a traição das metáforas

uma viagem aos 80

 

acho que meus queridos estão todos pirados esses últimos anos de pandemia deve ter afetado as ondas elétricas dos múltiplos cerebelos os fios dos cabelos enferrujados de sal e maresia lá nos anos 90 uilcon serafim me alertava sobre essa onda magnética que se espalharia pelo planeta nos currais nos palácios nas bodegas ademar cardoso também em jardel ricardo pereira lima márcio coelho gabriel de lapuente antes até nos 80 no by brazil do black river de registro a batatais enquanto dalila do abc continua pilotando os alpharrábios zhôo muito zen pensava que tudo seria nuvem passageira enquanto césar conversando com raul já me dizia que a lucidez mora ali do outro lado esquerdo de assombradado enquanto rubens  jardim só quer saber das mulheres com  poesia

 

Artur Gomes Fulinaíma

https://braziliricapereira.blogspot.com/


Sarau Gente de Palavra homenageia Artur Gomes

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Fragmento do prefácio do livro O Homem Com A Flor Na Boca

Artur Gomes, este homem com a flor na boca, anda a espalhar o veneno agridoce de sua poesia, numa obra em que não há fronteiras entre o artista, o cidadão, o personagem, o eu poético, a obra. Seu livro não é um objeto, mas um produto interno e nada bruto. A obra é sempre muito maior que o livro, pois este, matéria assim como o homem, finda. A obra, esse totem que se pode cultuar no altar da memória, está sempre presente. E é disso que o poeta fala: do tempo presente, do homem presente, da vida presente. Parafraseando Drummond, com O Homem Com A Flor Na Boca,, “não nos afastemos, não nos afastemos muito”, vamos de mãos dadas com a poesia de Artur.

Adriano Carlos Moura

Professor de Literatura – IFFluminense, Campos dos Goytacazes-RJ – Poeta, Ator, Dramaturgo


terça-feira, 21 de novembro de 2023

Sarau Gente de Palavra Paulistano Homenageará Artur Gomes

 


SARAU GENTE DE PALAVRA PAULISTANO homenageará Artur Gomes, também conhecido como Artur Fulinaíma, poeta irrequieto que faz uma poesia política, antropofágica, nonsense, musical, polifônica. segundo observação de Adriano Moura, autor do prefácio. O livro O HOMEM COM A FLOR NA BOCA será lançado numa festa da poesia viva, no próximo dia 29 de novembro, a partir das 19 horas, na Patuscada-Livraria&Café. Sinta-se convidado para essa festa.

 

Rubens Jardim

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https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/


 

Dia 29, quarta-feira, a partir das 19:30, será a vez desse ser arretado e impressionante que está completando 50 anos de poesia! Artur Gomes, autor (entre tantos outros) do premiado PÁTRIA A(R)MADA, Desconcertos Editora, será homenageado pelo GENTE DE PALAVRA PAULISTANO, sob a batuta dos grandes Cesar Augusto de Carvalho e Rubens Jardim, e lançará seu mais recente O HOMEM COM A FLOR NA BOCA! No PATUSCADA, Rua Luis Murat, 40 - Pinheiros - São Paulo.

 

Claudinei Vieira

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sexta-feira, 17 de novembro de 2023

inciso

Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

para Yve Carvalho in memória


vamos comer mastigar chupar beber
devorar  deglutir cuspir escrever  xingar falar sobreviver  sobrevoar os telhados  de todos os fantasmas  goytacá  ancestrais  invadir os palácios de todos tupiniquins canibais  mesmo que o templo esteja escuro não me mostre o que preciso não quero perder o meu n juízo nos currais de assombradado tem um morcego nas cancelas principais vamos pichar nos muros : sem justiça não haverá paz

 

 

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https://coletivomacunaimadecultura.blogspot.com/

 


no lado esquerdo

do peito

o direito não conforta
nem comporta a estrada
que preciso

nu poema 

a porta
que se abre
a procura do inciso



31 janeiro 2010

era um domingo de sol rock and roll e poesia Irina gozou comigo quando beijei santa teresa no parque das ruínas com uma bela imagem de cristo tatuada em nossas costas depois de uma noite de sonhos amanhecemos nas laranjeiras dentro do severina o famoso botequim mais uma vez me beijou e bem ali no pé do ouvido me falou assim:

 

- vamos pra saideira

meu vampiro goytacá

canibal tupiniquim meu serafim

 

a saideira foi itacoatiara itaipu

 

engenho do mato dentro

engenho de dentro fora

quando penso que clara está vindo

irina já foi embora

 

na argamassa

do abstrato

no abstrato

do concreto

sou

um vampiro bêbado de sangue

que assassinou os alpharrábios

para inventar seu alphabeto 


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domingo, 12 de novembro de 2023

Vampiro SerAfim

o barro de alguns barracos  continuam entranhados na carne como nomes tapera cacomanga cupim queimado cambaíba ururaí olinda morro grande santa cruz quilombo lagamar guriri trago a poeira na sola dos meus pés o sangue das pessoas trouxe impregnados nas  unhas Vampiro SerAfim Goytacá Tupiniquim 

no  branco do papel deponho a faca a foice navalha canivete já fui moleque pivete das esquinas dos bordéis da rua do vieira paraíso perdido joazeiro coqueirinho nas mallarmargens da BR

já fui do breque dos pandeiros das cuícas do couro cru na carne viva goytacá boy perdido na paulista  roubei poemas dos piva para vender nas lanchonetes mar a vista em bertioga e o coisa ruim do ademir continua na ponta da língua da memória

 quando  criança brincava nos sonhos com cobras de pique esconde no porão da casa onde aprendi a enxergar   clara/luz na escuridão quando seus olhos de vidro viraram espelhos para os meus numa madrugada  27 agosto  1948 datas também me acompanham desde que vi o primeiro clarão diurno quando o trem passou para dores de macabu 

quando estive na bolívia senti o cheiro de corumbá ali de perto em assunção do paraguai porto viejo canavarro o barro vermelho no carnaval pelas fronteiras cerveja com caldo de piranha  a dona de um bordel no pantanal chamava os jacarés com nomes de jogadores de futebol quando perdi o avião pra boa vista


na argamassa

do abstrato

no abstrato

do concreto

sou

um vampiro bêbado de sangue

que assassinou os alpharrábios

para inventar seu alphabeto

lançamento dia 29 de novembro

Sarau Gente de Palavra - São Paulo-SP

Local: Patuscada - Livraria Bar & Café - Rua Luis Murat, 40,

 

tem noites que a lua cheia me chega com sangue entre os dentes com aquele gosto de veneno escorrido das serpentes tem dias que as serpentes me chegam com gosto de lua cheia




Meta/fórica

 

ouço a música

nesse disco estrangeiro

e a musa tem o nome: Guanabara

no silêncio ela ri da nossa cara

a flor do mangue agora mora

onde seu leito jorra lama

por sua boca desdentada

peixe podre explode Angra

em meu poema CarNAvalha

naturalismo onde supunha

sal da terra no esgoto

eco sistema não interessa

ao senhor do Mato Grosso

agro-negócio é matadouro

soja pasto para os bois

o simbolismo da escrita é só metáfora

a concretude o modernismo vem depois

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2020

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O ator, produtor, videomaker e agitador cultural Artur Gomes acumula uma bagagem de 50 anos de carreira com prêmios nacionais e internacionais em teatro, música, literatura e artes gráficas. Gomes poderia se filiar na tradição literária dos chamados poetas malditos, como comumente e simplistamente nos referimos àqueles autores que constroem uma obra “rebelde” em face do que é aceito pela sociedade, vista como meio alienante que aprisiona os indivíduos em normas e regras. Tais autores rejeitam explicitamente regras e cânones. Rejeição que se manifesta-se também, com a recusa em pertencer a qualquer ideologia instituída. A desobediência, enquanto conceito moral exemplificado no mito de Antígona é uma das características de tais sensibilidades poéticas, que no Brasil já vem de longe com um Gregório de Mattos e ganhou impulso e seguidores com o famoso trio da “parafernália” rebelde: Verlaine, Baudelaire e Rimbaud.

      Já tivemos oportunidade de observar em outras obras do autor, que suas construções poéticas seguem sempre renovadas para cima em matéria de criatividade, elencando uma variada diversidade temática que aborda, sempre em perspectiva ousada e radical, desde o doce e suave sentido do amor, ao cruel da relação amorosa, flertando com o libidinoso, e questões existenciais que expressam indignação, desobediência e transgressão. É que, explica ele: “arde em mim / um rio / de palavras / corpo lavas erupção / mar de fogo / vulcão”.  Outra faceta do autor, digna de nota, é a criação de vários heterônimos como sejam Federico Baudelaire, EuGênio Mallarmè ou Gigi Mocidade, talvez a mais irreverente de todos, porque fala a bandeiras despregadas, sem papas na língua. “Muitas vezes a língua pulsa pula para o outro lado do muro outras vezes a língua pira punk nesses tempos obscuros às vezes a língua Dada vai rolando dados nesse jogo duro muitas vezes a língua dark jorra luz nas trevas desse templo escuro”. 

E aqui temos afinal, mais uma obra desse múltiplo e incansável poeta que caminha com uma flor na boca, símbolo universal de amor, de paz e beleza. A ele não importa verdadeiramente por quais meios: “se sou torto não importa / em cada porta risco um ponto / pra revelar os meus destroços / no alfabeto do desterro / a carnadura dos meus ossos”. É poética que, para além de perquirir as dores e delícias da condição humana em si, envereda pelo viés de nossa condição social sempre ultrajada. Encontramos um poema que nos pergunta: “quem se alimenta / dessa dor / desse horror / desse holocausto // desse país em ruínas / da exploração dessas minas / defloração desse cabaço // quem avaliza o des(governo / simboliza esse fracasso?”

Artur Gomes segue sua árdua caminhada, agora com o poderoso concurso da maturidade que lhe chega. Segue emprestando sua voz aos deserdados, aos desnutridos, aos que têm sede, aos que têm fome, ou aos que morrem assassinados nos guetos, nos campos, nas cidades por balas de fuzil, desse país que tarda em referendar a cidadania.

Krishnamurti Góes dos Anjos - Escritor e crítico literário.

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balburdiar

    balburdiar eis o verbo ver pra crer :                difícil de falar ótimo de fazer   Artur Gomes Leia mais n blog http...