terça-feira, 30 de abril de 2024

Tchello d´Barros entrevista Artur Gomes


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO

 

VIDEOPOESIA NA ERA DO LIKE:

MÍDIAS SOCIAIS COMO JANELAS DE EXIBIÇÃO

 Marcelo Barros - Rio de Janeiro/RJ - 2020

 Entrevista

Artur Gomes (RJ) entrevistado via e-mail por Marcelo Barros / Tchello d’Barros (RJ) para a pesquisa Videopoesia na era do like: mídias sociais como janelas de exibição, na ECO/UFRJ. 24-26 nov.2020.

Artur Gomes

Poeta, cineasta, performer, curador e produtor cultural.

É natural de Campos dos Goytacazes (RJ), onde vive. Ministra cursos no Cefet e oficinas na rede Sesc. Com diversos prêmios no Brasil e Exterior, sua trajetória pela Poesia Experimental iniciou na década de 1980, transitando por diversas linguagens e mídias, constituindo um extenso portfólio que passa pela Videopoesia, Poesia Visual, Performance, Teatro, Fotografia e Audiovisual. Entre seus livros de poemas publicados estão Juras secretas, Pátria a(r)mada, O homem com a flor na bocaO poeta enquanto coisa e o recente projeto Com os dentes cravados na memória. Organizou significativas mostras de Poesia Visual e curadorias em Videopoesia. Fundador e diretor da Fulinaíma MultiProjetos culturais, atualmente tem realizado atividades artísticas em diversas instituições pelo Brasil.

 Tchello d’Barros: Autor de uma extensa produção em videopomas, você iniciou nessa linguagem ainda antes do fenômeno das Mídias Sociais. Em que circunstâncias e circuitos eram exibidos tais trabalhos?

 Artur Gomes: Quando iniciei essa trajetória lá pelos idos dos anos de 1980, eu estava na ativa na então Escola Técnica Federal de Campos, que é hoje o Instituto Federal Fluminense - IFF. Essa produção era feita pelo Departamento Audiovisual, que atendia as demandas gerais da Escola, e como eu dirigia a Oficina de Artes Cênicas, toda encenação era documentada pelo Departamento Audiovisual. Daí, comecei a produzir videopoemas em 1983, quando criei a Mostra Visual de Poesia Brasileira, que produzi e executei até o ano de 1994. Os vídeos eram exibidos em TV, salas de aula e auditórios. Essa mostra foi realizada uma vez por ano em cidades como Campos dos Goytacazes, Macaé, Miracema e Rio de Janeiro, no Estado do Rio. Em 1993 ela foi realizada em São Paulo, São Caetano, Santo André e São Bernardo, num projeto executado pelo SESC-SP. Em 1994 foi realizada em Teresina (PI), com apoio da Universidade Federal do Piauí – UFPI e União Brasileira de Escritores - UBE.

Figura 1 – Captura de tela do videopoema Poesia in Concert I

https://www.youtube.

com/watch?v=TwA3RZXkaqQ

 

                   Fonte: Canal Artur Gomes na Mídia Social Youtube

 

Td’B: Em seu videopoema Poesia In Concert I, acessável no Youtube, você mistura linguagens: são áudios de poesia sonora, fotografia, música, atuação, sobreposição de filmagens e registros de videoperformance. Existe um fio condutor em seu processo criativo que justifica essa convergência de linguagens? 

 

AG: Existe sim: o propósito de experimentar linguagens. O conceito que dou à palavra Fulinaíma é a possibilidade das misturas, mixegenar a linguagem. Quando resolvi começar a experimentar pra valer a produção audiovisual com poesia, foi exatamente para aproveitar essa plataforma para divulgar poesia. Em 2007 comecei com Jiddu Saldanha, a fazer vídeo com uma câmera de 5 megapixels. No Youtube tem vídeos dessa primeira experiência. A partir daí, comecei a entender as possibilidades que o programa de edição me oferecia para que a experimentação não tivesse limites.

 

Td’B: Considerando-se que você organizava nos Anos 80 a Mostra Visual de Poesia Brasileira (SP) e nesta década realizou edições da Mostra Internacional de Poesia Visual (RS), como você interpreta o parentesco entre essa modalidade de expressão artística, geralmente gráfica e estática, com a imagem em movimento da Videopoesia? 

 

AG: A partir do envolvimento com essas mostras e eventos, comecei a ver o poema, não apenas como palavra, mas também como grafismo, plasticidade, movimento, para juntar tudo isso com a fala. A oralidade do poema para mim é onde ele fala mais alto, onde ele toca outros sentidos. Essa inquietação me levou a criar em Campos dos Goytacazes em 1999 o FestCampos de Poesia Falada, que foi realizado pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima até o ano de 2019.

 

Td’B: Seu histórico é de participação em relevantes festivais literários do Brasil, como o Psiu Poético (MG), Congresso Brasileiro de Poesia (RS) e o Art&Fatos Poéticos (SP), encontros com Videopoesia na programação. Ao mesmo tempo, sua intensiva atuação nas Mídias Sociais inclui a disseminação de seus videopoemas nesse meio digital. A Videopoesia em eventos presenciais está com os dias contados ou as mídias sociais são apenas mais uma janela para exibição de videopoemas? 

 

AG: Acredito que o momento faz com que estejamos tendo que utilizar as redes sociais, o virtual, para a disseminação de nossos projetos, nossas performances e videopoemas. Mas para mim a ocupação do espaço físico com poesia é fundamental, porque sei que sem poesia uma cidade não é nada. Pelo menos tenho a intenção de levar para um espaço físico a Mostra Cine Vídeo de Poesia Falada, que estou começando a produzir.

 

Td’B: O poeta e cineasta Herman Berlandt (EUA), um dos precursores teóricos do Poetry Film ou Videopoetry, apontava que para uma obra audiovisual ser considerada um videopoema deveria conter ao menos um poema narrado ou o texto de alguma forma escrito na tela (Meyer, 2019, p.42). Essa afirmação ainda será válida para a próxima década? E ainda: há alguma teoria ou conceito que norteia suas criações audiovisuais?  

 

AG: Eu sou levado pela prática. Meus conceitos e teorias, se é que eles existam, nascem depois do que pratico, experimento, executo. Acredito que essas afirmações tentando definir como o poema deve ser escrito, como deve ser falado, como deve ser levado para o audiovisual, limitam a criatividade.

 

Td’B: Você foi curador da Kinopoéticas - Mostra Internacional de Audiovisual (2015), evento presencial onde os videopoemas foram exibidos em telas de computador, TV de plasma e projeção em telão de auditório. Já sua atual Mostra Cine Vídeo de Poesia Falada é exibida diretamente nas Mídias Sociais. Como você tem percebido a reação do público nestes dois ambientes?  

 

AG: Quando a Mostra é exibida em um espaço físico, ela tem tempo determinado para acontecer, e esse tempo certamente acaba limitando o acesso do público ao que está sendo exposto. Nas mídias sociais, isso não acontece, a Mostra pode não estar em destaque em algum espaço virtual, mas se ela existe, você faz uma busca no Google que, se o assunto lhe interessa, você vai tê-lo diante dos olhos. Mas para a atual geração, ocupar as redes sociais com seus videopoemas parece ser o bastante.

 

Td’B: Em sua trajetória, você teve contato presencial com nomes seminais que se dedicaram à linguagens múltiplas, como Videopoesia, Performance, Poesia Sonora e Poesia Visual, a exemplo de E. M. Melo e Castro (POR), Fernando Aguiar (POR), Enzo Minarelli (ITA), Julien Blaine (FRA), Clemente Padin (URU) e Jiddu Saldanha (BRA). Que aprendizado com estas referências da Poesia Experimental merece ser repassado para a parcela que se interessa por arte da cada vez mais conectada geração millennial

 

AG: Sim, todos esses poetas citados, estiveram presentes com sua poesia, em pelo menos uma das edições das Mostras que produzi. Alguns não apenas em uma edição, mais em várias. Posso citar pelo menos mais quatro poetas que contribuíram decisivamente para me lançar na experimentação, e nos processos criativos, como: Almandrade, Hugo Pontes, Uilcon Pereira e Moacy Cirne. Acho que todos esses poetas merecem ser pesquisados e estudados por todos que se interessam em experimentação de múltiplas linguagens. E esse legado pus em prática quando comecei a produzir a Mostra Visual de Poesia Brasileira: a intenção não era apenas expor videopoemas, mas todas as linguagens contemporâneas experimentais. Duas frases que li, acho que servem para a geração millennial: “olhar com olhos livres” (Oswald de Andrade), e “experimentar a produção poética conjugando o verbo V(L)ER” (Uilcon Pereira).

 

BARROS, M. Videopoesia na era do like: mídias sociais como janelas de exibição. Monografia. Rio de Janeiro: UFRJ, 2020, 69p.




com os dentes cravados na memória

 


Com os Dentes Cravados na Memória

Artur Gomes e a poesia em carne viva -extraído do blog do escritor Salomão Sousa


                             *

Artur Gomes nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ), em 27 de agosto de 1948. Poeta, ator e artista gráfico, acumula uma bagagem de 25 anos de carreira com prêmios nacionais e internacionais em teatro, música, literatura e artes gráficas.

Seu livro Couro Cru & Carne Viva foi premiado no Concurso Internacional de Poesia da Universidade de Laval-Quebec, Canadá, em 1987. Poemas do seu Suor & Cio são partes dos objetos de estudo para tese de Doutorado em Antropologia do Historiador Jorge Santiago, em Paris.

Criador da Mostra Visual de Poesia Brasileira, em 1983. Em 1993, com a realização pelo SESC-SP da MVPB – Mário de Andrade 100 Anos, em São Caetano do Sul e Santo André, foi premiado, junto com a Revista Livrespaço de Poesia, pela APCA, na categoria realização cultural do ano.

Criador do Projeto Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim, realizado em Campos dos Goytacazes (junho 95), Ouro Preto (julho 95), São Paulo (outubro 95) e São Caetano do Sul (novembro 95).

Durante os meses de julho de 1995 e 1997, foi uma das atrações do Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, na cidade de Ouro Preto, mostrando sua arte gráfica, poética e teatral. Foi um dos poetas selecionados para o projeto Poesia 96, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Viajou com o seu Ateliê de Performances por diversas cidades do país com um espetáculo de Dança.Teatro.Poesia, ao lado da bailarina Nirvana Marinho (Curso de Dança da Unicamp). Foi um dos organizadores da Mostra Euro Latino Americana - Poema Visual, realizada em 96 e 97 na cidade de Bento Gonçalves (RS).

De 27/4 a 1/5 de 1996 coordenou workshop sobre Utopia Versus Realidade Possível, na UNIFRAN, durante o IX Encontro de Estudantes de Arquitetura. Criou o Projeto Uma Viagem Pelas Galáxias de Gutemberg, que resultou na criação da Escolinha de Teatro Alpharrabio em Santo André (SP).

Coordenou o I Seminário - Arte Educação, realizado de 16 a 20/9/96, na Casa de Cultura do Ipiranga (SP). Criou e dirigiu o espetáculo O Dia Em Que a Federal Soltou a Voz e Surgiu um Coro de 67 Vertebrados, montado pela Oficina de Música e Teatro do CEFET-Campos (RJ).

Em 1998, criou e dirigiu os espetáculos Brecht Versus Suassuna e Mendigos Jantam Brecht, ambos montados com alunos da Oficina de Artes Cênicas do CEFET-Campos, com textos de Ariano Suassuna e Bertolt Brecht.

Em 2000, lançou Brazilírica Pereira, A Traição das Metáforas, sua primeira obra de ficção e, em 2002, o CD Fulinaíma - sax, blues e poesia, com Dalton Freire, Luís Ribeiro, Naiman e Reubes Pess, parceiros com quem apresenta espetáculos em espaços culturais de várias cidades brasileiras.

É responsável por alguns dos blogs poéticos mais bem transados da blogosfera:


antLírica

eu não sou zen
muito menos zhô
nem tão pouco
zapa
nem ando na contra capa
do teu disquinho
digital
não alinho pela esquerda
nem à direita do fonema
vôo no centro/viagem
olho rasante/miragem
veia pulsante/poema


Galope

 

com espada
em riste
galopamos
pradarias
e lutamos
ferozmente
por dois segundos
e meio
tua fúria era louca
que agarrei-me
em tuas crinas
pra não cair na lama
mas o amor era tanto
e tanto era o prazer
que quando fomos pra cama
não tinha mais o que fazer.



Lady Gumes African's Baby

meto meus dedos cínicos
no teu corpo em fossa
proclamando o que ainda possa
vir a ser surpresa
porque amor não tem essa
de cumer na mesa

é caçador e caça
mastigando na floresta
todo tesão que resta
desta pátria indefesa

ponho meus dedos cínicos
sobre tuas costas
vou lambendo bostas
destas botas NeoBurguesas

porque meu amor não tem essa
de vir a ser surpresa
é língua suja grossa
visceral ilesa
pra lamber tudo que possa
vomitar na mesa
e me livrar da míngua
dessa língua portuguesa.



sousAndrática

leve
ave pena
leve
arara amazônica
breve sobrevoa
rara lâmpada
límpida

azul de zinco
impávida oceânica
cérebro vivo
ofusca
a serra
wall street
cega
bela city desumana
anti passarada
morte
que me roa
ave pena
leve
sousândrade


SampleAndo

o poema pode ser um beijo em tua boca
carne de maçã em maio
um tiro oculto sob o céu aberto
estrelas de néon em vênus
refletindo pregos no meu peito em cruz

na paulista consolação da na água branca barra funda
metal de prata desta lua que me inunda
num beijo sujo como a estação da luz

nos vídeosfilmes de TV eu quero um clip
em tuas coxas japa
uma cilada nos teus seios quentes
como uma flecha em tuas costas índia
ninja, gueixa eu quero a rota teu país ou mapa
teu território devastar inteiro
como uma vela ao mar de fevereiro
molhar teu cio e me esquecer na lapa






PUNÇÃOPOÉTICA

INs Piração
onde se cata
lixo intacto
remoVendo escombros
de letras por letras corroendo
o vírus letal da veia
clara da gema
como prova
lamparina não clareia
a palavra NÃO poema
Ovo
Ova


Pontal.Foto.Grafia

caranguejos explodem

mangues em pólvora
Ovo de Colombo quebrado

areia branca inferno livre
Rimbaud áfrica virgem
carne na cruz dos escombros
trapos balançam varais
telhados bóiam nas ondas
tijolos afundando náufragos
último suspiro da bomba
na boca incerta da barra
esgoto fétido do mundo
grafando lentes na marra
imagens daqui saqueadas
jerusalém pagã visitada
atafona.pontal.grussaí
:
as crianças são testemunhas
jesus cristo não passou por aqui



todo poema tem dois gomes 
toda faca tem dois gumes
de um eu não digo os nomes da outra não mostro os lumes
se um corta com palavras a outra com corte mesmo
se um é produto da fala a outra do ódio a esmo

todo poema tem dois gomes toda faca tem dois gumes
e um amor cego nas asas brilhante de vagalumes
se em um a linguagem é sacana
na outra o corte é estrume
todo poema tem dois gomes toda faca tem dois gumes

se em um peixe é palavra na outra o brilho é cardume
é fio estrela na lavra mal cheiro vício costume
de um eu não digo os nomes da outra não mostro os lumes

se em um a coisa é sagrada ofício provindo das vísceras
na outra a fé é lacrada hóstia servida nas missas
se em um é cebola cortada aroma palavra carniça
na outra o ferro, é tempero fé cega - fome amolada
– poema é só desespero


                            *


Tecidos sobre a terra

 

Terra
antes que alguém morra
escrevo prevendo a morte
arriscando a vida
antes que seja tarde
e que a língua da minha boca
não cubra mais tua ferida

entre/aberto
em teus ofícios
é que meu peito de poeta
sangra ao corte das navalhas
e minha veia mais aberta
é mais um rio que se espalha,

amada
de muitos sonhos
e pouco sexo
deposito a minha boca
no teu cio
e uma semente fértil
nos teus seios como um rio

o que me dói
é ter-te
devorada por estranhos olhos
e deter impulsos por fidelidade

ó terra
incestuosa de prazer e gestos
não me prendo ao laço
dos teus comandantes
só me enterro à fundo
nos teus vagabundos
com um prazer de fera
e um punhal de amante

minha terra
é de senzalas tantas
entrerra em ti
milhões de outras esperanças
soterra em teus grilhões
a voz que tenta - avança
plantada em ti
como canavial
que a foice corta
mas cravado em ti
me ponho a luta
mesmo sabendo - o vão
- estreito em cada porta


Usina


mói a cana
o caldo
e o bagaço
Usina
mói o braço
a carne
o osso
Usina
mói o sangue
a fruta
e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço

e do alto da casa grande
os donos do engenho
controlam:

- o saldo e o lucro.

 

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Vampiro Goytacá

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Balbúrdia PoÉtica

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segunda-feira, 29 de abril de 2024

fulinaíma sax blues poesia


herói nacional

 

meu coração marçal tupã

sangra tupi e rock and roll

meu sangue tupiniquim

em corpo tupinambá

samba jongo maculelê

maracatu boi-bumbá

a veia de curumim

é coca cola e guaraná

 

Artur Gomes

do livro Suor & Cio

MVPB Edições – 1985

Gravada pelo autor no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia - 2002

Pátria Ar(r)mada - 2022

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ou a gente se raoni

ou se torna SerAfim

se a gente se sting

mallarmè sobra pra mim

 

Rúbia Querubim  

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profissão

meu ofício

é de poeta

pra rimar

poema e blusa

e ficar em tua pele

pelo tempo em que me usa

 

Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB Edições – 1985

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tempero

 

é preciso socar certas palavras

com sal pimenta & alho

para dar o gosto

o ardido

que se traz na boca

é tempero mal cuidado

 

é preciso cortar o mofo

das ações de certas palavras

para quando for poema

ter ação presente

penetrar a carne

e ter sabor de gente

 

Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB Edições – 1985

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mulher

 

meu poema

se completa

em seu vestido

roçando sua carne

no algodão

                   tecido 

 

Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB Edições 1985

imagem: Jiddu Saldanha – apareceu a margarida

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Querubim da Goiabeira

 

amo papa goiaba

meu cio sempre desaba

no encanto dessa fruta

mas não trepo

deste a última sexta feira

santa

me entupi de fanta

na sacristia do devasso

e dormi  no samba de páscoa

no terreirão do olivácio

perdi minha carteira de freira

na identidade agora é bruta

 

Rúbia Querubim

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carnavalizando

 

tropicaetanamente

meus versos uilconianos

em carnaval pela cidade

vão ficar durante o ano

desbundando a troup-sex

 

e a mulatinha andradiana

com bundinha a caetano

despe a gil bertinidade

no patamar do meu triplex

 

Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB Edições - 1985

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pedra pássaro poema - Artur Kabrunco

pedra pássaro poema

 

era uma vez um mangue

e por onde andará macunaíma

na sua carne no seu sangue

 na medula no seu osso

será que ainda existe

 algum vestígio de Macunaíma

 na veia do seu pescoço?

 

na teoria dos mistérios

dos impérios dos passados

 nas covas dos cemitérios

desse brasil desossado?

macunaíma não me engana

 bebeu água do paraíba

nos porões dos satanazes

está nos corpos incinerados

 na usina de cambaíba

 em campos dos goytacazes

macunaíma não me engana

está nas carcaças desovadas

na praia de manguinhos

em são  francisco do Itabapoana

 

Artur Kabrunco

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cor da pele

 

áfrica sou: raiz & raça

orgia pagã na pele do poema

couro em chagas que me sangra

alma satã na carne de Ipanema

 

o negro na pele

é só pirraça

de branco

na cara do sistema

 

no fundo é amor

que dou de graça

dou mais do que moça

no cinema

 

Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB Edições – 1985

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Artur Gomes - entrevista Tanussi Cardoso

O meu primeiro contato com  Tanussi Cardoso,  se deu através de cartas, lá pelos idos de 1983, em tempos de  Mostra Visual de Poesia Brasile...