mulher\cidade
curto
poema
curto
enxuto
curto e grosso
amo poema osso
o corpo
velo\cidade
língua\dente
mulher\cidade
mesmo não fosse
em mim tanto seria
e o que antes no foi feito
estando assim claro faria
algum poema no alvoroço
amo
a vera\cidade
amarelinho lapa
cinelândia
qualquer encontro de surpresa
a noite na lua tesa
no parque das ruínas
um beijo na rua guesa
o olhar quase alucina
vidrado em sua íris\retina
no trenzinho pra santa teresa
Artur
Gomes
https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/
cidade
plantada na moldura
ma/
dura
da cana verde
a cidade sustenta
a sua história
esquecida a fábula
perdeu-se o espelho
do amanhecer
o índio ex/
tinto
o negro misturado ao gozo do branco:
nova raça esmaecida em planto
suor e esperma na entrega escrava
e a vida fez-se em dádiva
em dúvida
em dívida
a sustentar na sombra do caminho
viva centelha de espera e ânsia
um rio que era peixe
corta seu dorso polu/ído
como espada fluída
em desuso de ferrugem:
urgente apelo de aquática fome
nessa cidade aflita
o tempo se fez espera
lenta
es/fera
a rodar gemidos
que o riso escandido esconde:
grito adormecido
a palha queimada da usina
espalha
negra fuligem
descorada sombra
do labor escuro
não revelado
em fotografria
cidade
(rapa/cidade)
descubro sua paisagem:
palácio casa choupana
asfalto pedra lama
avenida rua beco
cidade
(vera/cidade)
componho sua alegria:
carnaval baile fandango
jongo em terreiro batido
desfile jogo e corrida
cidade
(fero/cidade)
reinvento sua fé:
catedral templo terreiro
missa culto macumba e reza/dor
cidade
(morda/cidade)
surpreendo seu pesar:
uísque cerveja cachaça
clube bar buate e boteco
(espera que o mundo é um tombo
que a vida é um rombo)
cidade
(velo/cidade)
o tempo tem seu avesso
espera
Prata
Tavares
In Ato 5 – coletânea de poesia publicada em 1979 pelo grupo
UNI-VERSO, com poesias também de Artur Gomes, Antônio Roberto Góis Cavalcanti
(Kapi), João Vicente Alvarenga e Orávio de Campos
creio
até em quem
não cria
essa crença
me sustenta
nessa maresia
Rúbia
Querubim
https://fulinaimargem.blogspot.com/
com os dentes cravados na memória
em 1994 a Ex-Cola de Samba Curitibana Unidos do Botão,
homenageou Artur Gomes, em seu desfile na Rua 24 horas. Para quem não sabe essa fabulosa agremiação
carnavalesca foi criada pelo multiartista Hélio Letes e o desfile de 1994, com seu enredo chu chu rei no kinder ovo
desenvolvido em carros alegóricos criados com carretéis de linha puxados pelos
3 componentes da comissão de frente e costa: Hélio Letes, Kátia Horn e Artur
Gomes.
nunca mais voltei a capital paranaense, mas esse desfile continua fazendo um tremendo alvoroço nas minhas massas cefálicas.
Federico
Baudelaire
https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/
as vezes penso outras vezes me distraio quando em vertigem ou
desmaio penso nela lua nua e crua quando beija rua no mar de arcozelo rúbia
irina serafina vestida serpentina beleza fulinaímica em delírios
de carnaval
Artur
Gomes Fulinaíma
https://braziliricapereira.blogspot.com/
usina
usina:
usina são uns olhos
despertos antes do sol
a boca mal lavada
num gole de café
e um esfregar de mãos
para aquecer o dia
usina e uma longa
e curta
caminhada
inventada em carrocerias
carroças e bicicletas
ou um usar de pés
pra se fazer o dia
usina é um balé
de lenços de cabeça
camisa de xadrez
foice e facão
entre um gole e outro
de café
usina é um apito
de sol à pino
(feito de marmitas)
quando os olhos nada dizem
e as bocas são limpas
por mãos em conchas
usina é um gosto
(doce-amargo)
de uns caldos
escorrendo
ora nas moendas
ora nos moídos
é um fazer-de-conta
pós-apito
na birosca ao lado
com uns parceiros
um remedar de vida
depois
um mal dormir
de pais e filhos
(de fome de frio de medo)
para antes do sol
se tenha despertado
usina é usura
são olhos
que se estendem
quando em vez
a casa grande
são umas vidas
escapando
pela chaminé
Antônio
Roberto de Góis Cavalcanti(Kapi) – in Ato 5 – 1979
para
Prata Tavares in memória
cidade
quando penso nela
lembro
nossas angústias
dormem em camas
de
ferro
madeira
ou
palha
nossas palavras
também são foices
facãos
ou
car/navalhas
nossos poemas
estiletes
canivetes
para rasgarem
o pano de luxo
das mortalhas
nossas mágoas
lavamos
nas águas do paraíba
enquanto eles
que pensaram
serem donos da cidade
assassinaram
e incineraram os corpos
na usina cambaíba
Artur
Kabrunco
https://fulinaimargem.blogspot.com/
AQUELE QUE MATA
Mata
em nós
Por
nós
Mesma
espécie
Em
cada um que morre
Morremos
todos
Mesma
carne
Somos
quem mata e quem morre
O ato
vil de um único homem
Nos
envilece a todos
Quem
mata faz da humanidade uma espécie assassina
Quem
morre, nos faz vítimas
Os
imorais nos igualam
Os
íntegros nos diferenciam
Balança
desequilibrada
Tudo o
que é humano está latente
Nada
nos escapa
Podemos
tudo
E,
talvez por isso,
Perdemos
tudo
Armando Liguori Junior
Eu, Armando
Liguori Junior, 59 anos, paulistano, ator e jornalista por formação, humano
de nascença. Poderia ser médico, arquiteto, astronauta, oceanógrafo,
carcereiro, estilista, personagem num parque da Disney, limpador de lutador de
sumô, influenciador, meteorologista, filósofo, mergulhador. Poderia ser um
viajante rodando o mundo quantas vezes fosse possível numa vida. Poderia ser
qualquer coisa, qualquer um, sou humano: se outros podem, também posso. Mas escolhi escrever para estranhos.
2
As pessoas olham pra mim e dizem que pareço uma boneca de tão perfeita, que devia ser atriz de Hollywood. Mal sabem o trabalho que dá. Não é fácil se manter bonita, ser youtuber e produzir conteúdo todos os dias. Não posso sair na rua desarrumada que já tem um hater pra ficar falando. Tenho que pensar em cada passo que vou dar pra não ser cancelada. Até quando apareci em todos os sites de fofoca depois de ficar na varanda com o cabelo enrolado na toalha (mas maquiada, claro) foi pensado. Era pra fazer propaganda da máscara capilar que estava me patrocinando. Depois de falarem bastante eu fiz um vídeo falando do produto. O diretor de marketing deu pulos de alegria com tantos views, e até dobrou o meu cachê.
Como vou cuidar de casa, filhos e marido e ainda ficar
bonita? Fora que, se eu não me cuidar, João Alberto me larga. Ele é um homem de
negócios, não pode aparecer com uma mulher toda acabada do lado. Pra me ajudar,
contratei a Maria. Os meninos adoram ela, não sei que tanto veem naquela moça.
O cabelo está sempre com cara de sujo, usa um perfume fedorento, não sabe
combinar as roupas, se aparecesse em um vídeo meu era capaz de virar meme. Ao
menos lá em casa ela usa uniforme, não sou obrigada a ficar olhando para aquele
monte de cor e estampa misturada. Gente, qual a necessidade disso? Muita cor
misturada só fica bom mesmo nos quadros originais do Romero Britto que tenho na
minha sala, eles dão um toque todo especial na minha decoração. Mas aí é arte,
né?
Agora ficou tudo mais difícil. Porque veio o isolamento
social. Todos os vídeos têm que ser em casa, senão perco patrocinador. E fazer
vídeo com filho e marido em casa é um desafio maior do que qualquer quadro do
Caldeirão do Huck. E não é só fazer vídeo que ficou difícil. Se manter em forma
e bonita também. A academia fechou, tive que contratar um personal trainer
on-line. Também contratei uma nutri para fazer todo o meu cardápio da semana,
porque nem lipo, nem botox, nem drenagem, não tem nada disso funcionando. Um
horror esse cenário. Mesmo assim, esses dias João Alberto notou que engordei
oitocentos gramas, falou que a barriga estava aparecendo. Nem pensei: #partiu
comprar um kit detox mara pra consumir nesses tempos.
Pior foi a Maria, que deu a entender que queria ficar em
casa durante o isolamento, veja só se pode isso. Já dei logo o spoiler, falei
que se ela ficasse em casa eu não ia poder pagar o salário dela porque ia ter
que contratar outra pessoa. Só faltava ficar pagando pra ela ficar livre e
folgada em casa enquanto eu fico ralando por aqui. Tudo com medo de uma gripezinha.
Eu já estou tomando ivermectina e cloroquina, afinal uma mulher precavida vale
por duas. A gente trata como se fosse da família e depois é só punhalada.
Imagina ficar sem ela aqui justamente no período em que mais ia precisar. Ainda
bem que ela voltou atrás. Mas tive que instruir direitinho. Falei pra comprar
máscara, álcool em gel, não ficar saindo por aí. É do trabalho pra casa, da
casa pro trabalho. Só não falei pra ela ficar aqui porque senão ela ia querer
trazer o remelentinho do filho dela também. Se bobear ia querer trazer até a
mãe. A gente dá a mão pra esse povo e eles já querem logo o braço. Quero ver
arrumar outra família tão boa quanto a gente pra trabalhar. Tudo que sobra do
almoço ela pode comer à vontade. Só coisa de qualidade. Acha que ela come essas
coisas na casa dela? Nem sabe dar valor.
Difícil achar gente boa pra trabalhar, mas
pelo menos ela é de confiança, então finjo demência e fecho os olhos pra muita
coisa. Ela não tá dando conta dos meninos em casa não. Estão fazendo muito barulho.
O João Alberto vive nervoso, nem sai do quarto. Quando sai não diz aonde vai.
Confesso que andei dando uma stalkeada pra ver se não tinha nada errado, mas
não achei nada. Ele me ama, sei disso, só anda estressado por conta de ver a
casa assim, sempre bagunçada. Não sei o que ela faz o dia inteiro pra deixar
chegar nesse ponto. Mas quem eu vou colocar dentro de casa numa época dessas?
Difícil achar alguém novo pra trabalhar nesse período.
E não é que a Maria chegou ontem em casa, com a maior
cara lavada, e disse que estava se sentindo cansada, que não sentia gosto nem
cheiro das coisas, que a mãe dela estava com covid e ela devia estar também? Na
hora dei uma bugada. Aquela falsiane deve ter ido pras festinhas. Não respeitam
ninguém, você acha que ia ficar indo só do trabalho pra casa e de casa pro
trabalho como eu pedi?
Ela que reze pra ninguém lá em casa pegar. A minha sorte
é que todo mundo toma o kit covid desde o início. Da família toda, só quem
morreu foi uma tia do João Alberto. Ela também tomava o kit, mas já era velha e
obesa, e aí não dá pra fazer milagre.
Vivo recebendo mensagem das pessoas reclamando, dizendo
que as coisas estão ruins, que a pandemia arrasou com tudo. Eu não vejo nada
disso. Ganhei milhões de seguidores nesse período, João Alberto dobrou o
patrimônio na bolsa. Meus filhos estão tendo aula normal pelo computador. Não
pode é se entregar. Faço minha ginástica, minha ioga, me alimento bem. Reunião
com os amigos só em casa, mas ando bem exigente com isso, no máximo trinta
pessoas e só o pessoal que se cuida.
Agora, ir pro baile funk, pegar ônibus lotado, ir no
mercado, não dá, né? E ainda acham ruim da gente ter diminuído o salário deles
em 25% no período de isolamento, mas é porque as coisas ficaram mais difíceis,
tem que comprar as coisas on-line, estamos gastando muito mais. Depois de tudo
que fazemos, ainda aprontam, como foi o caso da Maria com a gente. É muita
ingratidão. Se não fosse nós pra dar um emprego, uma oportunidade, o que seria
desse povo? O que eles querem mais?
Por isso que não dá pra tratar como se fosse da família,
capaz ainda de querer colocar a gente na justiça. Chorei de raiva. Mandei ela
embora e ainda fiz ela sair com peso na consciência de ter feito isso comigo.
Como vou dar conta sem ela?
Mas já acionei meus contatos e consegui uma
moça que começa amanhã. Teve boas referências, mas é abusada, só aceitou
trabalhar aqui por um salário exorbitante. Vou gastar o dobro. Mas depois de um
dia inteiro com filho gritando, louça do almoço que, mesmo pedindo comida delivery,
ficou pra lavar, ver que a blusa que eu queria usar no vídeo de hoje não estava
passada, e tantas outras coisas, só o que eu consigo pensar é: Filha da puta!
Maldita Maria!
Isabela
Veras
o amor
é roda
que
move o mundo
que se
transforma
num
piscar de segundos
mesmo
que
espalhem
ódio
seu
brilho vai ficar
na
flor que brota
em
todo lugar
o amor
é feito larva
do
casulo borboleta
é o
poema mais lido
em
qualquer planeta
o amor
é como o mar
com as
ondas também
se
aprende a nadar
é
livre por natureza
é
arroz e feijão
é
ainda sobremesa
o amor
é moradia
salário
justo e rebeldia
é
terra para plantar
celeiro
da alegria
o amor
é justiça social
samba
valsa bolero
dias
de carnaval
o amor
é saúde
segurança
e educação
é o
existir de todos
sem
discriminação
o amor
é feito ave
acaba-se
o ninho
continua-se
o voo
do
passarinho
o amor
é dor doída
de
entortar o coração
é
alimento da vida
a sua
principal razão
o amor
é tema universal
é o
som de um violino
o
canto de um berimbau
o amor
é movimento
em
toda humanidade
o seu
genuíno invento
o amor
é beijo na boca
é
abraço solidário
dos
sentimentos
é o
mais revolucionário
essa
coisa louca
que
instiga o imaginário
o amor
das emoções
é a
mais sentida
é o
que dá maior
sentido
à vida
o amor
é tudo
que se
possa inspirar
é o
respiro do corpo
faz a
alma levitar
o amor
se aprende
ao
amar
Dinovaldo Gillioli
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