terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

múltiplas poéticas

 

mulher\cidade

 

curto

poema

curto

enxuto

curto e grosso

amo poema osso

 

o corpo

velo\cidade

língua\dente

mulher\cidade

mesmo não fosse

em mim tanto seria

e o que antes no foi feito

estando assim claro faria

algum poema no alvoroço

 

amo

a vera\cidade

amarelinho lapa

cinelândia

qualquer encontro de surpresa

a noite na lua tesa

no parque das ruínas

um beijo na rua guesa

o olhar quase alucina

vidrado em sua íris\retina

no trenzinho pra santa teresa  

 

Artur Gomes


https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/



cidade

 

plantada na moldura

                               ma/

                               dura

da cana verde

a cidade sustenta

a sua história

 

esquecida a fábula

perdeu-se o espelho

do amanhecer

 

o índio ex/

           tinto

o negro misturado ao gozo do branco:

nova raça esmaecida em planto

suor e esperma na entrega escrava

 

e a vida fez-se em dádiva

                              em dúvida

                              em dívida

a sustentar na sombra do caminho

viva centelha de espera e ânsia

 

um rio que era peixe

corta seu dorso polu/ído

como espada fluída

em desuso de ferrugem:

urgente apelo de aquática fome

 

nessa cidade aflita

o tempo se fez espera

lenta

                           es/fera

a rodar gemidos

que o riso escandido esconde:

grito adormecido

 

a palha queimada da usina

espalha

negra fuligem

descorada sombra

do labor escuro

não revelado

em fotografria

 

cidade

          (rapa/cidade)

descubro sua paisagem:

palácio casa choupana

asfalto pedra lama

avenida rua beco

 

cidade

         (vera/cidade)

componho sua alegria:

carnaval baile fandango

jongo em terreiro batido

desfile jogo e corrida

 

cidade

        (fero/cidade)

reinvento sua fé:

catedral templo terreiro

missa culto macumba e reza/dor

 

cidade

        (morda/cidade)

surpreendo seu pesar:

uísque cerveja cachaça

clube bar buate e boteco

 

(espera que o mundo é um tombo

que a vida é um rombo)

 

cidade

        (velo/cidade)

o tempo tem seu avesso

 

espera

 

Prata Tavares

In Ato 5 – coletânea de poesia publicada em 1979 pelo grupo UNI-VERSO, com poesias também de Artur Gomes, Antônio Roberto Góis Cavalcanti (Kapi), João Vicente Alvarenga e Orávio de Campos

 

creio

até em quem

não cria

essa crença

me sustenta

nessa maresia

 

Rúbia Querubim

https://fulinaimargem.blogspot.com/



com os dentes cravados na memória

em 1994 a Ex-Cola de Samba Curitibana Unidos do Botão, homenageou Artur Gomes, em seu desfile na Rua 24 horas.  Para quem não sabe essa fabulosa agremiação carnavalesca foi criada pelo multiartista Hélio Letes  e o desfile de 1994, com  seu enredo chu chu rei no kinder ovo desenvolvido em carros alegóricos criados com carretéis de linha puxados pelos 3 componentes da comissão de frente e costa: Hélio Letes, Kátia Horn e Artur Gomes.

 nunca mais voltei a capital paranaense, mas esse desfile continua fazendo um tremendo alvoroço nas minhas massas cefálicas.

 

Federico Baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/


as vezes penso outras vezes me distraio quando em vertigem ou desmaio penso nela lua nua e crua quando beija rua no mar de arcozelo rúbia irina serafina vestida serpentina beleza fulinaímica  em delírios  de carnaval

 

Artur Gomes Fulinaíma

https://braziliricapereira.blogspot.com/

 


usina

 

usina:

usina são uns olhos

despertos antes do sol

 

a boca mal lavada

num gole de café

e um esfregar de mãos

para aquecer o dia

 

usina  e uma longa

e curta

caminhada

 

inventada em carrocerias

carroças e bicicletas

ou um usar de pés

pra se fazer o dia

 

usina é um balé

de lenços de cabeça

camisa de xadrez

foice e facão

entre um gole e outro

de café

 

usina é um apito

de sol à pino

(feito de marmitas)

quando os olhos nada dizem

e as bocas são limpas

por mãos em conchas

 

usina é um gosto

(doce-amargo)

de uns caldos

escorrendo

ora nas moendas

ora nos moídos

 

é um fazer-de-conta

pós-apito

na birosca ao lado

com uns parceiros

um remedar de vida

 

depois

um mal dormir

de pais e filhos

(de fome de frio de medo)

para antes do sol

se tenha despertado

 

usina é usura

 

são olhos

que se estendem

quando em vez

a casa grande

 

são umas vidas

escapando

pela chaminé

 

Antônio Roberto de Góis Cavalcanti(Kapi) – in Ato 5 – 1979


o tempo tem seu avesso

para Prata Tavares in memória

 

cidade

quando penso nela

lembro

nossas angústias

dormem em camas

 

de

 ferro

madeira

ou

palha

 

nossas palavras

também são foices

facãos

ou

car/navalhas

 

nossos poemas

estiletes

canivetes

para rasgarem

o pano de luxo

das mortalhas

 

nossas mágoas

lavamos

nas águas do paraíba

 

enquanto eles

que pensaram

serem donos da cidade

assassinaram

e incineraram os corpos

na usina cambaíba

 

Artur Kabrunco

https://fulinaimargem.blogspot.com/






 AQUELE QUE MATA

Mata em nós

Por nós

Mesma espécie

 

Em cada um que morre

Morremos todos

Mesma carne

 

Somos quem mata e quem morre

 

O ato vil de um único homem

Nos envilece a todos

 

Quem mata faz da humanidade uma espécie assassina

Quem morre, nos faz vítimas

 

Os imorais nos igualam

Os íntegros nos diferenciam

Balança desequilibrada

 

Tudo o que é humano está latente

Nada nos escapa

Podemos tudo

E, talvez por isso,

Perdemos tudo

 

Armando Liguori Junior

Eu, Armando Liguori Junior, 59 anos, paulistano, ator e jornalista por formação, humano de nascença. Poderia ser médico, arquiteto, astronauta, oceanógrafo, carcereiro, estilista, personagem num parque da Disney, limpador de lutador de sumô, influenciador, meteorologista, filósofo, mergulhador. Poderia ser um viajante rodando o mundo quantas vezes fosse possível numa vida. Poderia ser qualquer coisa, qualquer um, sou humano: se outros podem, também posso.  Mas escolhi escrever para estranhos.

 

2

 As pessoas olham pra mim e dizem que pareço uma boneca de tão perfeita, que devia ser atriz de Hollywood. Mal sabem o trabalho que dá. Não é fácil se manter bonita, ser youtuber e produzir conteúdo todos os dias. Não posso sair na rua desarrumada que já tem um hater pra ficar falando. Tenho que pensar em cada passo que vou dar pra não ser cancelada. Até quando apareci em todos os sites de fofoca depois de ficar na varanda com o cabelo enrolado na toalha (mas maquiada, claro) foi pensado. Era pra fazer propaganda da máscara capilar que estava me patrocinando. Depois de falarem bastante eu fiz um vídeo falando do produto. O diretor de marketing deu pulos de alegria com tantos views, e até dobrou o meu cachê.

Como vou cuidar de casa, filhos e marido e ainda ficar bonita? Fora que, se eu não me cuidar, João Alberto me larga. Ele é um homem de negócios, não pode aparecer com uma mulher toda acabada do lado. Pra me ajudar, contratei a Maria. Os meninos adoram ela, não sei que tanto veem naquela moça. O cabelo está sempre com cara de sujo, usa um perfume fedorento, não sabe combinar as roupas, se aparecesse em um vídeo meu era capaz de virar meme. Ao menos lá em casa ela usa uniforme, não sou obrigada a ficar olhando para aquele monte de cor e estampa misturada. Gente, qual a necessidade disso? Muita cor misturada só fica bom mesmo nos quadros originais do Romero Britto que tenho na minha sala, eles dão um toque todo especial na minha decoração. Mas aí é arte, né?

Agora ficou tudo mais difícil. Porque veio o isolamento social. Todos os vídeos têm que ser em casa, senão perco patrocinador. E fazer vídeo com filho e marido em casa é um desafio maior do que qualquer quadro do Caldeirão do Huck. E não é só fazer vídeo que ficou difícil. Se manter em forma e bonita também. A academia fechou, tive que contratar um personal trainer on-line. Também contratei uma nutri para fazer todo o meu cardápio da semana, porque nem lipo, nem botox, nem drenagem, não tem nada disso funcionando. Um horror esse cenário. Mesmo assim, esses dias João Alberto notou que engordei oitocentos gramas, falou que a barriga estava aparecendo. Nem pensei: #partiu comprar um kit detox mara pra consumir nesses tempos.

Pior foi a Maria, que deu a entender que queria ficar em casa durante o isolamento, veja só se pode isso. Já dei logo o spoiler, falei que se ela ficasse em casa eu não ia poder pagar o salário dela porque ia ter que contratar outra pessoa. Só faltava ficar pagando pra ela ficar livre e folgada em casa enquanto eu fico ralando por aqui. Tudo com medo de uma gripezinha. Eu já estou tomando ivermectina e cloroquina, afinal uma mulher precavida vale por duas. A gente trata como se fosse da família e depois é só punhalada. Imagina ficar sem ela aqui justamente no período em que mais ia precisar. Ainda bem que ela voltou atrás. Mas tive que instruir direitinho. Falei pra comprar máscara, álcool em gel, não ficar saindo por aí. É do trabalho pra casa, da casa pro trabalho. Só não falei pra ela ficar aqui porque senão ela ia querer trazer o remelentinho do filho dela também. Se bobear ia querer trazer até a mãe. A gente dá a mão pra esse povo e eles já querem logo o braço. Quero ver arrumar outra família tão boa quanto a gente pra trabalhar. Tudo que sobra do almoço ela pode comer à vontade. Só coisa de qualidade. Acha que ela come essas coisas na casa dela? Nem sabe dar valor.

 Difícil achar gente boa pra trabalhar, mas pelo menos ela é de confiança, então finjo demência e fecho os olhos pra muita coisa. Ela não tá dando conta dos meninos em casa não. Estão fazendo muito barulho. O João Alberto vive nervoso, nem sai do quarto. Quando sai não diz aonde vai. Confesso que andei dando uma stalkeada pra ver se não tinha nada errado, mas não achei nada. Ele me ama, sei disso, só anda estressado por conta de ver a casa assim, sempre bagunçada. Não sei o que ela faz o dia inteiro pra deixar chegar nesse ponto. Mas quem eu vou colocar dentro de casa numa época dessas? Difícil achar alguém novo pra trabalhar nesse período.

E não é que a Maria chegou ontem em casa, com a maior cara lavada, e disse que estava se sentindo cansada, que não sentia gosto nem cheiro das coisas, que a mãe dela estava com covid e ela devia estar também? Na hora dei uma bugada. Aquela falsiane deve ter ido pras festinhas. Não respeitam ninguém, você acha que ia ficar indo só do trabalho pra casa e de casa pro trabalho como eu pedi?

Ela que reze pra ninguém lá em casa pegar. A minha sorte é que todo mundo toma o kit covid desde o início. Da família toda, só quem morreu foi uma tia do João Alberto. Ela também tomava o kit, mas já era velha e obesa, e aí não dá pra fazer milagre.

Vivo recebendo mensagem das pessoas reclamando, dizendo que as coisas estão ruins, que a pandemia arrasou com tudo. Eu não vejo nada disso. Ganhei milhões de seguidores nesse período, João Alberto dobrou o patrimônio na bolsa. Meus filhos estão tendo aula normal pelo computador. Não pode é se entregar. Faço minha ginástica, minha ioga, me alimento bem. Reunião com os amigos só em casa, mas ando bem exigente com isso, no máximo trinta pessoas e só o pessoal que se cuida.

Agora, ir pro baile funk, pegar ônibus lotado, ir no mercado, não dá, né? E ainda acham ruim da gente ter diminuído o salário deles em 25% no período de isolamento, mas é porque as coisas ficaram mais difíceis, tem que comprar as coisas on-line, estamos gastando muito mais. Depois de tudo que fazemos, ainda aprontam, como foi o caso da Maria com a gente. É muita ingratidão. Se não fosse nós pra dar um emprego, uma oportunidade, o que seria desse povo? O que eles querem mais?

Por isso que não dá pra tratar como se fosse da família, capaz ainda de querer colocar a gente na justiça. Chorei de raiva. Mandei ela embora e ainda fiz ela sair com peso na consciência de ter feito isso comigo. Como vou dar conta sem ela?

Mas já acionei meus contatos e consegui uma moça que começa amanhã. Teve boas referências, mas é abusada, só aceitou trabalhar aqui por um salário exorbitante. Vou gastar o dobro. Mas depois de um dia inteiro com filho gritando, louça do almoço que, mesmo pedindo comida delivery, ficou pra lavar, ver que a blusa que eu queria usar no vídeo de hoje não estava passada, e tantas outras coisas, só o que eu consigo pensar é: Filha da puta! Maldita Maria!

 

Isabela Veras


o amor é roda

que move o mundo

que se transforma

num piscar de segundos

 

mesmo que

espalhem ódio

seu brilho vai ficar

na flor que brota

em todo lugar

 

o amor é feito larva

do casulo borboleta

é o poema mais lido

em qualquer planeta

 

o amor é como o mar

com as ondas também

se aprende a nadar

 

é livre por natureza

é arroz e feijão

é ainda sobremesa

 

o amor é moradia

salário justo e rebeldia

é terra para plantar

celeiro da alegria

 

o amor é justiça social

samba valsa bolero

dias de carnaval

 

o amor é saúde

segurança e educação

é o existir de todos

sem discriminação

 

o amor é feito ave

acaba-se o ninho

continua-se o voo

do passarinho

 

o amor é dor doída

de entortar o coração

é alimento da vida

a sua principal razão

 

o amor é tema universal

é o som de um violino

o canto de um berimbau

 

o amor é movimento

em toda humanidade

o seu genuíno invento

 

o amor é beijo na boca

é abraço solidário

dos sentimentos

é o mais revolucionário

essa coisa louca

que instiga o imaginário

 

o amor das emoções

é a mais sentida

é o que dá maior

sentido à vida

 

o amor é tudo

que se possa inspirar

é o respiro do corpo

faz a alma levitar

 

o amor se aprende

ao amar

 

Dinovaldo Gillioli


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