paixão é quando
linguagem de cinema
corta o verso pelo avesso
a cena segue em outra dimensão
sem seta rumo sem endereço
como se a nova meta
sem meio fim ou começo
enlouquecesse o coração
poética
57
sinto tudo de você - me
vem
sinto tudo de você meu bem
sinto tudo de você que nem
meus zóios tristes no
trem
nos trilhos por onde vais
por pero vaz e caminhas
por um brasil do nunca mais
poética 58
o poema é um
silêncio dentro de um copo vazio de gin um beijo sujo de asfalto bêbado num
boteco em botafogo olhando o pão de açúcar como um cristo redentor do amor não consumado stela ainda passeia
direto na veia o mar revolto em são conrado o sangue da curuminha no hotel
nacional e a vida se esvai na rocinha nessa cidade partida no olho do corcovado
desfiando as flores do mal
poética 59
elis tem o sal do mar
na língua - e me lança
ondas num lance de lamber
meu cais - me atira
sobre as vagas
quando estou em calmas
porque sabes
que me tens nos temporais
poética 60
para
paulo sabino e marisa vieira
preciso atravessar
o impreciso
no branco do papel
quando pressinto
a
lentidão de alguma lesma
no absinto
de mym mesma
poética 61
eu rabisco azulejos
no azul da tuas pedras
na língua quando te beijo
na boca que não medra
poética 62 - vale dos
vinhedos
hora do almoço
a boca com gosto de repolho roxo
salada de pimentão vermelho
beterraba - codorna temperada
com os vinhos das outroras
para o churrasco das colônias
bem na quinta das senhoras
com legumes e frutas de quintal
colhidas
pelas nonas antes do vendaval
as falas sobressaltas falas
vozes escancaradas sobre as mesas
a brasa da pimenta é viva
quase tudo de bom vem das
surpresas
o sabor da uva o agridoce das pitangas
o licor curtido das amoras
como o fogo dessa flor nativa
é o beijo que me deste agora
poética muito prosa
a paisagem atrás da praia é
abstrata quase oculta invisível a mulher que escondeu o sol dentro das ondas e
recolheu os peixes por entre as coxas depois de beijar espumas pela areia passeava
as 3 da tarde depois da oficina cine poesia na pedra do arpoador
federika recolheu as ovas de
namorados espalhadas nas encostas agradeceu aos pescadores do posto 6
mergulhou as iguarias numa sacola de
plástico seguiu para casa feliz pensando o banquete de omelete para comer depois da noite
entre os lençóis da sua cama plástico das suas cortinas de vento
amar/a/lírica
bebo teus olhos
dentro da noite escura
de onde me vens criatura
que me consomes na fala
quando me olhas se cala
no seu profundo pensar
mergulho no teu silêncio
pelos mistérios do cio
pelos segredos do ar
o que me trazes do rio
o que me teces no fio
o que me levas para o mar
profanalha nu rio
a flecha de são sebastião
como ogum de pênis/faca
perfura o corpo da glória
das entranhas ao coração
do catete ao largo do machado
onde aqui afora me ardo
como bardo do caos urbano
na velha aldeia cariOca
sem nenhuma palavra bíblica
e muito menos avária
orgasmo é falo no centro
lá dentro da candelária
repressão
dentro do arame farpado
esse poema enterrado
para nunca mais sair
sabre que
sangra
não tenho nada contra
muito menos a favor
não sou do tipo isso e aquilo
tenho um kilo de farinha
dentro da caixa de isopor
a latinha sei o quanto custa
e pago o preço
pra beber por onde esteja
vinho conhac cerveja
no meu bolo de cereja
só não cabe quem não for
não sou do tipo
sangue de porco no chouriço
fulinaimânico mestiço
você sabe o que é isso
entrar pela porta de serviço
pela pele da minha cor
você não sabe quanto custa
o preço da minha ira
o custo do meu amor
sou eu quem sabe onde o sabre
sangra sem dó - a minha dor
santíssima
trindade
brincando
de zeus e vênus
plantei uma conchinha do mar
no teu
umbigo
- mora comigo - o amor nunca é de menos
transcende o sol - e sua luz
atravessa o litoral da santa cruz
afrodite me atirou na tempestade
quando subi a pedra do arpoador
para o salto no abismo
a flor de cactos feriu meus olhos
ali sangrei – matei a morte
santíssima trindade me deu o norte
para ressuscitar de novo aqui.
sarcasmo
o olho clínico não responde
fechou o livro na vigésima
sétima página
eu
fico sem saber o que pensa
da minha crença no naturalismo
das coisas que ainda não tem nome
se a
fome é meta física
ou a meta é sobrenatural
se tesão
é força quântica
reação
química ou apenas
a parte mais intensa
de uma transa casual
subversãopoética
duvido do poeta
que nunca amolou a língua
afiou a faca
atirou a pedra
saltou da ponte
para o outro lado da linguagem
duvidodo poeta
que nunca escreveu sagaranagem
explodiu a fala
saltou para dentro do abismo
de qualquer palavra
no poço fundo da voragem
duvido do poeta
que nunca pensou fulinaimagem
não sabe o que é drummundo
nem mergulhou mais fundo
em algum corpopoema
nunca quebrou a meta
na carne da metáfora
duvido do poeta
que nunca arrombou a porta
nem assaltou janela
quem não entortou a linha reta
não sabe quando beta
alpha
não sabe quando alpha beta
terra/mãe
agora que pairas sobre o tempo
quando o tempo ainda é tempo
ou quando invento no meu corpo
este teu tempo de existir
e re-invento o que ainda não existe
ou
quando o tempo já se foi
sem sequer se existisse
ou se não visses tudo em ti
se já passou
agora mãe
é quando terra ainda me lembro
de algum tempo
na ferrugem que ficou
roendo os ossos dos meus dedos
não tenhas medo
de dizer que ainda é cedo
se alguma lágrima
sai do tempo que brotou
tempestade/temporais
eu
sou avesso
atravesso
a cidade
com
o que me interessa
as
vezes sou sossego
outras
vezes tenho pressa
não
procuro o que não quero
me
abstenho no que faço
me
abstrato quando posso
me
concreto em cada passo
o
compasso é argamassa
o
absinto quando traço
uma
linha nunca reta
da
palavra em descompasso
se
sou torto não importa
em
cada porta risco um ponto
pra
revelar os meus destroços
no
alfabeto do desterro
a
carnadura dos meus ossos
tempestade/temporais
eu
sou avesso
atravesso
a cidade
com
o que me interessa
as
vezes sou sossego
outras
vezes tenho pressa
não
procuro o que não quero
me
abstenho no que faço
me
abstrato quando posso
me
concreto em cada passo
o
compasso é argamassa
o
absinto quando traço
uma
linha nunca reta
da
palavra em descompasso
se
sou torto não importa
em
cada porta risco um ponto
pra
revelar os meus destroços
no
alfabeto do desterro
a
carnadura dos meus ossos
anjo torto
eu sou o que invoca
o que provoca
e incorpora
desconcentra
desconforta
desconstrói
e desconcerta
eu sou o que interpreta
representa
o que inventa
e desafora
o anjo torto
graças a zeus
a pedra e ao machado de xangô
a capitã do mato
a
caipora
me xinga de poeta enganador
mal sabe ela
que eu sou da reza
e que o homem que se preza
nunca se escraviza
com chicote de feitor
metáfora
meta
dentro
meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
na carne seca do futuro
meta dentro dessa meta
a chama da lamparina
com facho de fogo na retina
pra clarear o fosso escuro
psicótica
– 67
não frequento academias
físicas – e muito menos literárias
minha palavra avária
está à beira do precipício
nem sei porque não continuei
internado no hospício
onde choques elétricos aconteciam as tantas
no manicômio henrique roxo
na cidade de campos dos goytacazes
onde a medicina psiquiátrica
era exercida por capatazes de médicos açougueiros
e um capixaba de nome vespasiano
não resistiu ao surto
explodiu a cabeça contra a parede
e nenhum jornal da cidade
noticiou o suicídio
que eu trago na lembrança
como dentes encravados
na memória
meta/fórica
ouço a música
nesse disco estrangeiro
a musa tem o nome: guanabara
no silêncio ela ri da nossa cara
a flor do mangue agora mora
onde seu leito jorra lama
por sua boca desdentada
peixe podre explode angra
em meu poema carNAvalha
naturalismo onde supunha
sal da terra no esgoto
eco sistema não interessa
ao senhor do mato grosso
agro-negócio é matadouro
soja pasto para os bois
o simbolismo da escrita é só metáfora
a concretude o modernismo vem depois
Texto em homenagem ao Poeta Artur Gomes – Na 11ª Mesa-redonda
Poesia Visual Contemporânea, no CCJF Cinelândia – Rio de Janeiro
por Paulo Sabino
Ao fim de Memória de Fogo, peça teatral em temporada neste
Centro Cultural até domingo passado, SadyBianchin, ator, diretor, roteirista e
um dos responsáveis pelo texto do espetáculo, depois de fazer vários
agradecimentos, fez um que, segundo ele, era o mais importante de ser feito: o
agradecimento a plateia. Isso, porque, para SadyBianchin, à realização de um
espetáculo teatral, podem faltar luz, a trilha sonora, o figurino, a maquiagem,
o cenário; podem faltar todos esses itens. Porém, duas coisas são
imprescindíveis para que a magia do teatro aconteça, para que o espetáculo
possa realizar-se o ator e o público. Sem ator e público, a apresentação
torna-se inviável. É dessa troca, entre ator e plateia, que uma apresentação
teatral torna-se possível.
Saí da sala, após o espetáculo, com essa sábia perspectiva
levantada pelo Sady e, naturalmente, eu transpus, para a minha vivência com a poesia: eu, Paulo
Sabino, que adoro realizar saraus, encontro poéticos, a interação entre poetas
e seus leitores, sei o quão importante é, para um poeta com esses mesmos
interesses, ter em suja plateia, aqueles que comunguem da sua paixão maior. E
hoje o Centro Cultural da Justiça Federal, a convite do curador deste evento, o
querido Tchello d´Barros, eu tenho o prazer a alegria de prestar essa homenagem
a um poeta cujos nome e sobrenome podemos perfeitamente trocar por “palco”, “ribalta”, “proscênio”, “sarau”,
“encontro literário”, oficina de arte cênica”, “festival literário”, porque seu
movimentos em prol da poesia está em perfeita sintonia com os espaços onde se
dá, onde acontece, a magia da poesia falada: este poeta é o grande e super querido
ARTUR GOMES.
Falar de ARTUR GOMES é falar de um dos maiores responsáveis
pela manutenção e preservação de espaços onde desfrutamos da troca que é
imprescindível às artes cênicas troca
entre poeta e plateia. Falar de ARTUR GOMES é falar de um dos poetas mais
atuantes na manutenção e preservação de
locais onde a poesia falada, a poesia oral, a poesia trocada pelo verbo, é a
grande estrela. E nesse seu esforço de manutenção e preservação desses espaços,
ARTUR GOMES é dos poetas que mais roda o Brasil, participando de inúmeros
saraus, festivais, encontros e festas literárias, ao longo de sua extensa
carreira artística, mas de 40 anos dedicados à palavra – a grande musa e amante
de qualquer poeta.
Nestes 45 anos de carreira, contabilizados a partir do ano de
lançamento do seu primeiro livro de poesia, Um Instante No Meu Cérebro, 1973,
ARTUR GOMES, no seu amor pela palavra, e de modo abrangente, no seu amor pelas
artes, desenvolveu uma série de outras frentes de trabalho: além de sua atuação
como poeta, ARTUR GOMES é um artista multifacetado, um artista antenado a
diversas linguagens artísticas, como o teatro, a fotografia, o audiovisual e a
performance.
Para que todos os presentes tenham ciência do que digo, de
1985 a 2002, o poeta dirigiu a “Oficina de Artes Cênicas”, do CEFET-Campos,
hoje, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. De 2011 a
2012, coordenou oficinas de produção audiovisual, na mesma instituição de
ensino. Em 1999 criou o FestCampos de Poesia Falada, que até hoje é realizado
pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, em Campos dos Goytacazes. De
2014 a 2016, esteve à frente das oficinas de teatro no “Sesc Campos”. Em 2017
dirigiu o curso de teatro multi-linguagens, no SINASEFE (Sindicato Nacional dos
Servidores Federais de Educação Tecnológica), núcleo do Instituto Federal
Fluminense. Atualmente, ARTUR GOMES é professor de interpretação, do Curso
Livre de Teatro, da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, em Campos dos Goitacazes,
no estado do Rio, e apresenta a performance “Poesia Viva Poesia” que já conta
com mais de uma centena de apresentações. Mês passado ele participou do 1º
Festival de Brasília da Poesia Brasileira, e este mês, hoje, está aqui
participando da 11ª Mesa-redonda sobre Poesia Visual Contemporânea.
E a presença de um poeta multifacetado, como é ARTUR GOMES,
nesta noite, não é mera coincidência. Quando pensamos ou falamos em poesia
visual, não podemos jamais, desvincular esse tipo poético do nome ARTUR GOMES.
Desde o início dos anos 80, ARTUR GOMES é uma voz que dá voz-espaço à poesia
visual. Em 1983, criou o projeto “Mostra Visual de Poesia Brasileira”, com o
objetivo de reunir, num mesmo espaço físico, todas as linguagens poéticas
contemporâneas. Em 1993, na sua décima edição, em parceria com o “Grupo Livre
Espaço de Poesia”, a MVPB (Mostra Visual de Poesia Brasileira) foi realizada
pele rede SESC-SP, em homenagem ao centenário de Mário de Andrade, que culminou com o prêmio de “Evento do Ano”,
concedido pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), ao Grupo Livre
Espaço de Poesia.
Por muito, portanto, a homenagem prestada ao poeta precursor
da poesia visual é mais do que justa. Encerrando a minha participação saúdo a
poética de ARTUR GOMES lendo um poema do livro que o poeta lança neste evento,
o Juras Secretas, e autografa assim que eu me calar.
*
meta metáfora no poema meta
como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico plumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste
como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em plumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece
Artur Gomes
poeta.ator.produtor cultural vídeo maker
*
2021 - Curador da Mostra Cine Vídeo de Poesia Falada realizada pelo SESC – Piracicaba-SP
Curador do 1º Festival Cine Vídeo de Poesia Falada
Integrou a Mostra De vídeopoemas dentro do Projeto Arte de Toda Gente realizado pela FUNARTE-Rio com curadoria de Tchello d´Barros
livros publicados:
Um Instante No meu Cérebro – 1973
Mutações Em Pré-Juízo – 1975
Além Da Mesa Posta – 1977
Jesus Cristo Cortador De Cana – 1979
Boi-Pintadinho – 1980
Carne Viva – 1984 – Antologia de Poesia Erótica –
Org. Olga Savary
Suor & Cio – 1985
Couro Cru & Carne Viva – 1987
20 Poemas Com Gosto de JardiNÓpolis & Uma Canção Com Sabor de Campos – 1990
Conkretude Versus ConkrEreções – 1994
CarNavalha Gumes – 1995
BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas –
Alpharabio Edições – 2000
SagaraNagens Fulinaímicas – 2015
Juras Secretas – Editora Penalux 2018
Pátria A(r)mada – Editora Desconcertos – 2019
Prêmio Oswald de Andrade – UBE_Rio- 2020
O Poeta Enquanto Coisa – Editora Penalux - 2020
Criador dos Projetos:
Mostra Visual de Poesia Brasileira – realizado de 1983 a 1994 em diversas cidades brasileiras.
Mostra Visual de Poesia Brasileira – Mário de Andrade -100 Anos – realizado pelo SESC-SP em 1993
Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim – realizado pelo SESC-SP em 1995
FestCampos De Poesia Falada – realizado pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, na cidade de Campos dos Goytacazes, de 1999 a 2019
De 1975 a 2002 Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do Escola Técnica Federal de Campos e Cefet-Campos
Em 2002 lançou o CD Fulinaíma Sax Blues Poesia e tem gravado e ainda inédito o CD Fulinaíma Afro Tupiniquim
De 2011 a 2012 – Dirigiu o Laboratório de Produção Cine Vídeo – no IFF Campos Campus Centro
De 2011 a 2012 – Dirigiu no SESC Campos Oficinas de Produção Cine Vídeo
De 2014 a 2016 – Dirigiu no SESC Campos Oficinas de Artes Cênicas
De 214 a 2017 – Dirigiu no SINASEFE – seção Campos o Curso de Teatro Multi Linguagens
De 2018 a 2018 – Lecionou Poéticas no Curso Livre de Teatro da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima em Campos dos Goytacazes-RJ
Tem poesia publicada nas principais revistas digitais de arte e literatura, tais como: GERMINA, GUETO, ACROBATA, RUÍDO MANIFESTO, QUATETÊ, ESCRITA DROIDE, MALLARMARGENS, CRONÓPIOS e ALGUMA POESIA
*
tem inédito os livros: Itabapoana Pedra Pássaro Poema
Mar De Letras Rio De Palavras
e
Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim
*
Fulinaíma MultiProjetos