Sarau Campos
VeraCidade
Torquato Leminski - 80
Dia 15 de Março 19 - Palácio da Cultura - Campos
dos Goytacazes-RJ
Canção amiga
Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
no jeito mais natural
dois caminhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas
E tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.
Carlos Drummond de Andrade
este poema será falado no Sarau por Gezebel Mussi – estudante
de licenciatura em Teatro no IFF –
Instituto Federal Fluminense -
leia mais no blog
https://coletivomacunaimadecultura.blogspot.com/
Amor, então
também acaba?
não que eu saiba.
o que eu sei
é que se transforma
numa matria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva
ou em rima.
Paulo Leminski
desenhado por Tchello d´Barros
mamãe mamãe não chora
a vida é assim mesmo
eu fui embora
Torquato Neto
Anjo Torto
quando nasci Torquato Neto
veio ler a minha mão
tinha chegado de Teresina
com uma garrafa de cajuína
e um livro na outra mão
me disse aberto e franco
não tenha medo do inferno
seja um poeta moderno
cheire as flores do mal
que a poesia de Baudelaire
vai te salvar no final
Artur Gomes
www.fulinaimagens.blogspot.com
A dor da mãe só
mudou para outro cômodo da casa
Teu umbigo é a prova
Assim como já te foi emprestado
Tu tivestes que emprestar
Víceras, ossos e sangue
Para outro alguém aqui estar
É o ciclo
É belíssimo
Do teu veículo condutor
Carne dentro da carne
Teu corpo carrega outra alma
Teu útero exílio
De outro ser que regressa a luz
E quando evade-se em um sopro
De chamas, gases e cinzas
ou da falta de ar
Tua mão estendida no espaço
Teu corpo entre chão e abismos
Desamparado
Concentro em não compreender o inaceitável
Hei de arar o (ar)dor de hoje
Custa caro uma vida
Leva tempo sarar
Daniela Fantin
Escrita curandeira
no Sarau Campos
Veracidade - este poema será falado por Clara
Abreu – atriz e co-produtora do Sarau
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Garbo Gomes
3 poemas na revista Acrobata
clique no lik para ler
Com Usura
Com usura homem algum terá casa de boa pedra
cada bloco talhado em polidez
e bem ajustado
para que o esboço envolva suas faces,
com usura
homem algum terá paraíso pintado na parede de sua
igreja
harpes et luz
ou onde a virgem receba a mensagem
e um halo projeta-se do inciso,
com usura
homem algum vê Gonzaga seus herdeiros e concubinas
pintura alguma é feita pra ficar
nem pra com ela conviver
só é feita a fim de vender
e vender depressa
com usura, pecado contra a natureza,
sempre teu pão será rançosas côdeas
sempre teu pão será de papel seco
sem trigo da montanha, sem farinha forte
com usura uma linha cresce turva
com usura não há clara demarcação
e homem algum encontra sua casa.
O talhador não talha sua pedra
o tecelão não vê o seu tear
COM USURA
não vai a lã até a feira
carneiro não dá ganho com usura
a usura é uma peste, usura
engrossa a agulha lá nas mãos da moça
E só pára a perícia de quem fia. Pietro Lombardo
não veio via usura
Duccio não veio via usura
Nem Píer della Francesca; Zuan Bellini não pela
usura
nem foi pintada 'La Calunniua' assim.
Angélico não veio via usura; nem veio Ambrogio
Praedis,
Não veio igreja alguma de pedra talhada
com a incisão: Adamo me fecit.
Nem via usura St Trophime
Nem via usura Saint Hilaire.
Usura oxida o cinzel
Ela enferruja o ofício e o artesão
Ela corrói o fio no tear
Ninguém aprende a tecer ouro em seu modelo;
O azul é necrosado pela usura;
não se borda o carmesim
A esmeralda não acha o seu Memling
A usura mata o filho nas entranhas
Impede o jovem de fazer a corte
Levou paralisia ao leito, deita-se
entre a jovem noiva e seu noivo
CONTRA NATURAM
Trouxeram meretrizes para Elêusis
Cadáveres dispostos no banquete
às ordens de usura.
EZRA POUND (1885 - 1972)
(Tradução de José
Lino Grünewald / E.P. fotografado por Lisetta Carmi aos 81 anos
Difícil Ser Funcionário
João Cabral de Melo Neto
Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.
Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.
É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.
Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.
Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.
Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança
Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar…
Fazer seu nojo meu…
vertente
aragem embaça os contornos
eriça os pelos do corpo debaixo do vestido
a respiração profunda aguça os sentidos
inspira e expira lentamente
o aroma do óleo de andiroba na pele
entra pelo nariz
passa pelo peito
desce em direção ao baixo ventre
funde-se em suaves ondas por dentro
impregnando o ar
e ao anoitecer
a calmaria é miragem
uma língua silenciosa
sabe ler os traços
e nos entornos
deságua embaraços
Benette Bacellar - 2024
Ivana Lena Besevic Art
Muito em breve em Campos dos Goytacazes vai começar a acontecer mais um
Sarau Doméstico (já existe um) e pouca gente sabe. Esse próximo será na casa de
um amigo querido onde vou estar também na produção. Aguardem mais informações.
Artur Fulinaíma
Leia mais no blog
https://arturkabrunco.blogspot.com/
Caio Fernando Abreu: Mas a tua ficção dá a impressão de uma profunda desordem ordenada
através da palavra.
Hilda Hilst: Sempre foi essa luta. A física e a matemática que ordenam. E de
repente uma impulsividade, uma pulsão interna enlouquecedora. Eu penso: Como
nascem determinadas personalidades? Por que mulheres e homens fantásticos
ficaram fantásticos? Rosa Luxemburgo, Guevara, Marx.... Pessoas que fizeram da
própria vida um sacrifício absoluto em prol da vida do outro... E Teresa
D'ávila, Teresinha de Lisieux . Os Santos também. Que vírus acontece? Eu acho
que assim como existem os vírus do corpo, existem também os vírus do espírito
.Nós estamos aqui, estamos bem e tal. A gente escreve até com relativo êxito.
Um êxito meio xinfrim. Porque é Brasil, América Latina, é uma coisa modesta. E
de repente eu digo: "Caio, resolvi ir para o Afeganistão cuidar das
criancinhas". Aí você diz: "Pô, Hilda! Mas você acha que vai ter
estrutura? Que é prudente?" "Mas eu sinto que devo ir". Deu
aqui. O Vírus. Estou contaminada. É como as paixões. E é sobre esses estados
extremos que eu quero escrever.
_Trecho da entrevista feita pelo escritor Caio Fernando Abreu com a
amiga Hilda Hilst em 1987. A entrevista completa pode ser lida no livro
"Fico Besta Quando me Entendem", editado pela @Biblioteca Azul.
*Fonte: A Cidade On / Curadoria Hilda Hilst
**Foto: São Paulo Review
Imagem: Felipe Stefani –
ilustração para capa do livro Pátria A(r)rmada 2ª Edição – Artur Gomes – Desconcertos Editora - 2022
Imagens: Felipe Stefani
*
fechar os olhos devagar
a ver se existe uma vida
mais real e incandescente
do que essa com vistas dilatadas.
Angel Cabeça
𝐎 𝐈𝐍𝐃𝐈𝐎𝐙𝐈𝐍𝐇𝐎 𝐐𝐔𝐄 𝐒𝐄 𝐀𝐏𝐀𝐆𝐀𝐕𝐀
- de Remisson Aniceto
(Editora Coralina, 2019)
A fascinante história de Saíra, um menino indígena
que após sofrer um acidente na cidade grande, foi adotado por uma família de
brancos. Maltratado, fugiu em busca de sua origem. Na selva descobriu uma seiva
que o tornava invisível. A partir daí uma série de boas aventuras se sucedem,
tornando sua leitura mais emocionante e surpreendente a cada página. Fábula
folclórica que levará bons momentos à garotada alfabetizada.
Obra adotada em 2020 por algumas escolas públicas
e particulares de São Paulo e Minas Gerais.
Peça o seu exemplar:
https://www.editoracoralina.com.br /.../o-indiozinho-que.../
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