segunda-feira, 15 de abril de 2024

múltiplas poéticas


usina

 

usina:

usina são uns olhos

despertos antes do sol

 

a boca mal lavada

num gole de café

e um esfregar de mãos

para aquecer o dia

 

usina  e uma longa

e curta

caminhada

 

inventada em carrocerias

carroças e bicicletas

ou um usar de pés

pra se fazer o dia

 

usina é um balé

de lenços de cabeça

camisa de xadrez

foice e facão

entre um gole e outro

de café

 

usina é um apito

de sol à pino

(feito de marmitas)

quando os olhos nada dizem

e as bocas são limpas

por mãos em conchas

 

usina é um gosto

(doce-amargo)

de uns caldos

escorrendo

ora nas moendas

ora nos moídos

 

é um fazer-de-conta

pós-apito

na birosca ao lado

com uns parceiros

um remedar de vida

 

depois

um mal dormir

de pais e filhos

(de fome de frio de medo)

para antes do sol

se tenha despertado

 

usina é usura

 

são olhos

que se estendem

quando em vez

a casa grande

 

são umas vidas

escapando

pela chaminé

 

Antônio Roberto de Góis Cavalcanti(Kapi) – in Ato 5 – 1979


ENGENHO

 

minha terra

é

de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

 

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial

que a foice corta

 

mas cravão em ti

me ponho à luta

mesmo sabendo – o vão

- estreito em cada porta

 

Obs. Este poema está publicado na Antologia CARNE VIVA poesia erótica org. Olga Savary – 1984 - 



MOENDA

 

usina

mói a cana

o caldo e o bagaço

 

usina

mói o braço

a carne o osso

 

usina

mói o sangue

a fruta

e o caroço

 

tritura suga torce

dos pés até o pescoço

 

e do alto da casa grande

os donos do engenho controlam

o saldo & o lucro 


Artur Gomes 

Leia mais no blog

https://arturgomesgumes.blogspot.com/


ANJOS TARDIOS

 

Na palma da mão

a linha da vida

descostura a alma

em descompasso,

alinhava as asas

em pleno voo.

É preciso muita calma

na rota de colisão

entre a partida

e a chegada,

se, ao final,

o destino

nos trouxer

outra surpresa,

virando a mesa

para além das margens.

Na palma da mão,

na linha da vida,

remendos costumeiros

seguram nossas asas

bem comportadas.

Seremos

todos nós

- sem exceção -

humanos desafios

ou anjos tardios?

 

(Nic Cardeal, 20/09/2016 - poema integrante do livro 'Sede de céu', editora Penalux, 2019, p. 153 -


CarNAvalha

 

roberta gora só se for cainelli

bruna só se for poletto

vestido pode ser a própria pele

que cobre a nudez do esqueleto

 

camila agora só se for pitanga

carnaval tem que ser sem tanga

se tiver tempo a gente transa no coreto

juliana só se for stefani

paola só se oliveira

damares zeus me livre credo

ela trepa com jesus na goiabeira

 

Federico Baudelaire

https://arturkabrunco.blogspot.com/


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