anti-homem-primeiro de abril,
homem cano, homem-milícia,
homem dano, homem-perícia,
homem ufano, homem-sevícia,
homem tirano, homem-polícia,
homem insano, homem-notícia,
homem engano, homem-malícia,
homem garrano, homem-inscícia,
homem profano, homem-icterícia,
homem miliciano, homem-puerícia,
homem palaciano, homem-sordícia,
homem inumano, homem-espurcícia,
homem americano, homem-imundícia,
homem antiafricano, homem-iniquícia,
peixes verdes, azuis e amarelos,
indóceis e insipientes, através
da névoa entoam seu nome:
homem psicopata, homem-arminha,
homem-aparência, homem-catástrofe.
esse anti-homem, armado
até os dentes, esvazia
qualquer poema.
*
by Ziul
Serip, in "Olhar de Guernica" [inédito]
QUE PAÍS É ESTE?
Fragmento
Universidade Livre de Alvito
(Afonso Romano de Sant'Anna)
1
Uma coisa é um país,
outra um ajuntamento.
Uma coisa é um país,
outra um regimento.
Uma coisa é um país,
outra o confinamento.
Mas já soube datas, guerras, estátuas
usei caderno “Avante”
— e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um “berço esplêndido” para
um “futuro radioso”
e éramos maiores em tudo
— discursando rios e pretensão.
Uma coisa é um país,
outra um fingimento.
Uma coisa é um país,
outra um monumento.
Uma coisa é um país,
outra o aviltamento.
Deveria derribar aflitos mapas sobre
a praça
em busca da especiosa raiz? ou
deveria
parar de ler jornais
e ler anais
como anal
animal
hiena patética
na merda nacional?
Ou deveria, enfim, jejuar na Torre do
Tombo
comendo o que as traças descomem
procurando
o Quinto Império, o primeiro
portulano, a viciosa visão do paraíso
que nos impeliu a errar aqui?
Subo, de joelhos, as escadas dos
arquivos
nacionais, como qualquer santo
barroco
a rebuscar
no mofo dos papiros, no bolor
das pias batismais, no bodum das
vestes reais
a ver o que se salvou com o tempo
e ao mesmo tempo
– nos trai
2
Há 500 anos caçamos índios e
operários,
há 500 anos queimamos árvores e
hereges,
há 500 anos estupramos livros e
mulheres,
há 500 anos sugamos negras e
aluguéis.
Há 500 anos dizemos:
que o futuro a Deus pertence,
que Deus nasceu na Bahia,
que São Jorge é que é guerreiro,
que do amanhã ninguém sabe,
que conosco ninguém pode,
que quem não pode sacode.
Há 500 anos somos pretos de alma
branca,
não somos nada violentos,
quem espera sempre alcança
e quem não chora não mama
ou quem tem padrinho vivo
não morre nunca pagão.
Há 500 anos propalamos:
este é o país do futuro,
antes tarde do que nunca,
mais vale quem Deus ajuda
e a Europa ainda se curva.
Há 500 anos
somos raposas verdes
colhendo uvas com os olhos,
semeamos promessa e vento
com tempestades na boca,
sonhamos a paz da Suécia
com suíças militares,
vendemos siris na estrada
e papagaios em Haia,
nada nada congemina:
a senzalamos casas-grandes
e sobradamos mocambos,
bebemos cachaça e brahma
joaquim silvério e derrama,
a polícia nos dispersa
e o futebol nos conclama,
cantamos salve-rainhas
e salve-se quem puder,
pois Jesus Cristo nos mata
num carnaval de mulatas.
Este é um país de síndicos em geral
este é um país de cínicos em geral
este é um país de civis e generais.
Este é o país do descontínuo
onde nada congemina
e somos índios perdidos
na eletrônica oficina
Nada nada congemina:
a mão leve do político
com nossa dura rotina,
o salário que nos come e
nossa sede canina,
e a esperança que emparedam
a nossa fé em ruína,
placidez desses santos
e a nossa dor peregrina,
e nesse mundo às avessas
– a cor da noite é obsclara
e a claridez, vespertina.
eu não sou zen
muito menos zhô
nem tão pouco zapa
nem ando na contracapa
do teu disquinho digital
não alinho pela esquerda
nem à direita do fonema
voo no centro/viagem
olho rasante/miragem
veia pulsante/poema
Artur
Gomes
Brazilírica Pereira : A Traição das Metáforas - Alpharrábio –
Edições 2000
o yanomâmi traz consigo
em seu olhar de ser digno
o mistério da verde relva
no vento um vivo da selva
um yanomâmi tem o foco
fixo não perdido, é luz
transvestida de fluxo e paz
te olha rindo: sabe o que faz
o yanomâmi um ser divino
humano em desenhos gráficos
de corpo alma rios matas
andarilhos de pés descalços
o que ofende no yanomâmi
é seu olhar doce de frieza
nada a dar e tudo imaginar
nem tão feliz nem vã tristeza
faróis de uma floresta densa
brilham olhos luminares
yanomâmis não são lendas
são irmãos...familiares
há algo de muito espúrio
na invasão garimpeira
contaminação de mercúrio
contrabando de madeira
como é possível um povo
tão integrado à selva e belo
viver no desassossego de
mortes fomes flagelos
defendo-os com minha flecha
força do punho em negra tinta
nos acordes do meu instrumento
canto o grito: yanomâmi é vida
Luis Turiba
Rio de Janeiro-RJ
https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/
antropomágica
a primeira vez
foi um primeiro beijo então
roubado
ali já ficou sacramentado em
tropicália
o que iríamos desvendar
por entre cinzas nos currais
nas aldeias, ocas, nas
taperas
por quantas Eras iríamos encontrar
agora como pa/lavro outras amoras
plantei tuas sementes
no quintal da estação três
cinco três
os frutos colherei junto ao
teu nome
da tua carne comerei mais uma
vez
aonde vai cinzia farina
toda vestida de letras
como quem grafita na areia
um espelho d´água
à beira mar na lua cheia?
Federico Baudelaire
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