domingo, 21 de abril de 2024

a casa que mora em mim - Fernando Leite Fernandes

A CASA QUE MORA EM MIM

Começo a me despedir de minha casa,
recolho lembranças no chão dos quartos,
gritos de crianças, cheiros, imagens de festas,
o rito do café da tarde, que trouxe comigo
da casa de minha mãe.
Junto sustos e tristezas que restaram no beiral
das janelas, que abrem para o jardim da frente,
encontro, por acaso, planos que se perderam,
memórias descoloridas,
o sonho que não se cumpriu,
no meio da sala ensolarada,
esperando por mim, em vão.

Envelheci.

Levo o que se recusa a ficar,
o amor, os primeiros dentes das crianças,
o hábito de vigiar suas chegadas noturnas,
na rumorosa adolescência,
a alma da minha morada, seu cheiro indefinido,
mas bom. Alecrim?
Deixo o arcabouço de alvenaria, o barulho de chuva
no toldo das janelas, o assobio do vento
na telha francesa.

Uma parte da casa fica, outra parte vai em mim.

 

Fernando Leite Fernandes

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oficina de Poesia Falada - Escrita Criativa

nesta próxima quarta entre as 17 e 21h estarei fazendo no Palácio da Cultura, uma demonstração da Oficina de Poesia Falada (escrita criativa...