A CASA QUE MORA EM MIM
Começo a me despedir de minha casa,
recolho lembranças no chão dos quartos,
gritos de crianças, cheiros, imagens de festas,
o rito do café da tarde, que trouxe comigo
da casa de minha mãe.
Junto sustos e tristezas que restaram no beiral
das janelas, que abrem para o jardim da frente,
encontro, por acaso, planos que se perderam,
memórias descoloridas,
o sonho que não se cumpriu,
no meio da sala ensolarada,
esperando por mim, em vão.
Envelheci.
Levo o que se recusa a ficar,
o amor, os primeiros dentes das crianças,
o hábito de vigiar suas chegadas noturnas,
na rumorosa adolescência,
a alma da minha morada, seu cheiro indefinido,
mas bom. Alecrim?
Deixo o arcabouço de alvenaria, o barulho de
chuva
no toldo das janelas, o assobio do vento
na telha francesa.
Uma parte da casa fica, outra parte vai em mim.
Fernando Leite Fernandes
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