hipótese
de abril
[sil
guimarães]
exatamente por que é dezembro
chove não chove esquenta esfria
não tem fim este mês apócrifo
como aquela tardinha errada
que fingia ser de uma sexta-feira
e era — sem dúvida — de segunda
não tem fim este espelho onde
mais uma ruga nos sobre/assalta
aos poucos somos o contrário de nós
enquanto os dias teimam & voltam
não tem fim esta espera pela festa
o bolo os balões os vivas os votos
tudo eclesiasticamente enfadonho
antropofágico
por traz dessa palavra
tem desejo
Dandara sempre me dizia
quando interpretava Adele
a personagem erótica
dos Retalhos Imortais do SerAfim
com os nervos comendo a própria pele
e não era Jura Secreta
era cena do Além da Mesa Posta
um banquete antropofágico
nesse país de bosta
Artur Gomes
https://fulinaimargem.blogspot.com/
A caminho do poente vou desconstruindo bezerros de ouro
A caminho do poente
deixo largos sorrisos na moldura,
uma árvore plantada em março de 72,
cadernos de caligrafia, medalhas de
bronze,
o emblema da primeira escola,
minhas calças de tergal,
e todas as migrações
do desejo...
A caminho do poente
deixo pedaços de espelhos quebrados,
um gol perdido no segundo tempo da
partida,
cartões postais, o apito da fábrica,
a vela da primeira comunhão,
minha boina vermelha,
e todos os translados
da paixão...
A caminho do poente
deixo um prego fincado na parede
branca,
viagens de trem para um subúrbio de
Caxias,
a boemia dos versos, a vida dura na
capital,
a lembrança do primeiro porre,
minhas sandálias franciscanas,
e todas as vicissitudes
do amor...
A caminho do poente
vou derretendo os desejos,
as paixões e os amores embrutecidos,
enquanto miro nas nuvens à minha
esquerda
as cores raras de um fim de tarde,
e o sol que encobre
tudo...
A caminho do poente
vou desarmando as ilusões,
desconstruindo os bezerros de ouro,
despindo as esperanças,
desfazendo os sonhos,
as utopias...
A caminho do poente
vou me desintegrando,
vou me despedindo,
vou me deixando...
Joilson Bessa.
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