domingo, 21 de abril de 2024

mútiplas poéticas

 Esfinge

 

d elza ainda não sei de nada

o rio com seus mistérios

molha meu cio em silêncio

de onde vem pra onde vai

se usa sai rodada ou quem sabe

 tomara que cai

trindade da santíssima santa

fosse apenas o que já foi dito

ou quarteto metafísica quântica

dandara isadora angélica adele

com um beijo preso na garganta

se veste com a própria pele

ou quem sabe com outras tantas


poema freudelérico

 

contei duas estrelas do outro lado do muro

uma era baudelaire a outra luis melodia

se eu fosse zeca baleiro bolero blues cantaria

o poema freudelérico não tem nada de pessoa

na vitrola rola um disco dos demônios da garoa

nas margens terceira do rio

meu cavalo segue tenso a trilha que lhe cabe

mallarmaico mallarmélico um tanto quase

baudelérico exalando flores do mal

queimando em mar de fogo me registro

a lavra da palavra quero quando for  pluma

mesmo sendo espora

assombrado com o verbo desemprego

afio ainda mais a carnavalha rasgo as tralhas da mortalha com a faca de dois gumes

cu do mundo onde fica?

palácio do planalto alvorada  cu de boi

submundo mais profundo de um país que já se foi

 

Artur Kabrunco

Leia mais no blog

https://arturkabrunco.blogspot.com/


Jura Secreta 

não fosse essa jura secreta 
mesmo se fosse e eu não falasse 
com esse punhal de prata 
o sal sob o teu vestido 
o sangue no fluxo sagrado 
sem nenhum segredo 

esse relógio apontado pra lua 
não fosse essa jura secreta 
mesmo se fosse eu não dissesse 
essa ostra no mar das tuas pernas 
como um conto do Marquês de Sade 
no silêncio logo depois do susto
 

 

 

Jura secreta 1 

a língua escava entre os dentes 
a palavra nova 
fulinaimânica/sagarínica 
algumas vezes muito prosa 
outras vezes muito cínica 

tudo o que quero conhecer: 
a pele do teu nome 
a segunda pele o sobrenome 
no que posso no que quero 

a pele em flor a flor da pele 
a palavra dandi em corpo nua 
a língua em fogo a língua crua 
a língua nova a língua lua 

fulinaímica/sagaranagem 
palavra texto palavra imagem 
quando no céu da tua boca 
a língua viva se transmuta na viagem 

 

 

Jura secreta 2 

não fosse esse punhal de prata 
mesmo se fosse e eu não quisesse 
o sangue sob o teu vestido 
o sal no fluxo sagrado 
sem qualquer segredo 

esse rio das ostras 
entre tuas pernas 
o beijo no instante trágico 
a língua sem que ninguém soubesse 
no silêncio como susto mágico 
e esse relógio sádico 
como um Marquês de Sade 
quando é primavera 

 

 

Jura secreta 3 

fosse essa jura sagrada 
como uma boda de sangue 
às 5 horas da tarde 
a cara triste da morte 
faca de dois gumes 
naquela nova granada 
e Federico Garcia Lorca 
naquela noite de Espanha 
não escrevesse mais nada 

 

Jura secreta 4 

a menina dos meus olhos 
com os nervos à flor da pele 
brinca de bem-me-quer 
ela inda pensa que é menina 
mas já é quase uma mulher
 

 

 

 

Jura secreta 5 

não fosse essa alga 
queimando em tua coxa 
ou se fosse e já soubesse 
mar o nome do teu macho 
o amor em ti consumiria 

Olga Savary 
no sumidouro dos meus dias 

o couro cru 
na antropofágica erótica 
carne viva 
tua paixão em mim 
voraz língua nativa 

 

Jura secreta 6 

o que passou não ficará já foi 
a menina dos meus olhos 
roubou a tua menina 
e levou para festa do boi 

fosse um Salgado Maranhão 
nosso batismo de fogo 
25 de março 
e o morro querosene  em chamas 
no canto pro tempo nascer 

e o amor que a gente faria 
o sol acabou de fazer 

 

 

Jura secreta 7 

fosse Sampa uma cidade 
ou se não fosse não importa 

essa cidade me transporta 
me transborda me alucina 

me invade inter/fere na retina 
com sua cruel beleza 

como Oswald de Andrade 
e sua realidade 

como Mário de Andrade 
e sua delicadeza 

 

 

Jura Secreta 8

artefato (poema sujo)

 

numa cidade abstrata

sem sentido ou significado

matadouro é arte concreta

veracidade é pecado

pago com pena de morte

 

esta máquina de escrever

fotografada em Itaguara

como um poema de Lorca

escrito em Nova Granada

cravado em Araraquara

 

você não sabe onde está

você não sabe onde  é

você não sabe de quem foi

este punhal na metáfora

que sangra a carne do boi

 

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

https://arturgomesgumes.blogspot.com/


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