As Luas
de Miró
desde os tempos de
Moacy Cirne
com seu Balaio Vermelho
que o Cordel é um Rio de Trovão
com o seu fogo encantado
quando me olho no espelho
vejo Chico Doido de Caicó
com seus dois Zóio grandão
na Feira de São Cristóvão
rasgando o verbo sem dó
fazendo do povão seu amante
tecendo a poesia nas rendas
em oferendas para as luas de Miró
Bracutaia
Silva
https://arturkabrunco.blogspot.com/
As
Vitrines
Chico Buarque
Eu te vejo sumir por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não
Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir
Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar
Na galeria, cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
https://www.youtube.com/watch?v=jrVABzDK6MM
Atentado poético
a hipocrisia aqui é muita
liberdade muito pouca
com meus dentes
língua/navalha
vou rasgar a tua roupa
para esse poema
bomba
explodir na tua boca
o
obscuro objeto do desejo
de
pedra dourada ficaram portas
janelas de entradas e saídas
a sedução de dois olhos
em minha carne proibida
nem tanto pelo o que falo
nem tanto pelo que sinto
a vodka a cereja o conhac
o abismo o
labirinto
de
pedra dourada
ficou um café orgânico
no teu sertão encantada
numa manhã de domingo
do outro lado da trilha
com tanta veraCidade
que me esqueci da idade
e me apaixonei por tua filha
de
pedra dourada ficaram
olhos acesos do outro lado a janela
o espelho as contas de vidro
o jogo da sedução a maravilha
os passeios nas cachoeiras
os banhos de bar o carnaval
aquela delícia louca
o batom na minha língua
o cheiro das flores do mal
meu bem-me-quer a tua boca
bandeira nacional
com palavras
sons
imagens
versos
inauguro o monumento
no planalto central
araçá azul
domingo no parque
vapor barato
mal secreto
pérola negra
construção
cabeça Gothan City
poema concreto
arte poesia teatro cinema pós
poema
terra em transe tropicália grande
sertão
veredas vidas secas
memórias do cárcere
parangolés
hélio oiticica
artur bispo do rosário
bacurau
seja herói seja marginal
pudesse eu divagar pelos teus
poros
bosque do teu reino entre teus pelos
mergulhar contigo o mar da fonte
atravessar da carne a pele a ponte
penetrar no orgasmo dos teus selos
pudesse eu cavalgar por tuas
crinas
no dorso cavalar onde deflora
deixando assim então de ser menina
e me tornar mulher por toda sina
no inferno céu da tua hora
tragédia infame
empresto minha voz aos deserdados
os desnutridos
os que não tem pela manhã café
com pão
e sobre a mesa no almoço nem mesa
nem carne seca com farinha
espinha de peixe na garganta
é o que sobrou pra curuminha
*
empresto meu corpo minha voz
a esses personagens
os que tem sede os que tem
fome
ou os que morrem assassinados
nos guetos nos campos nas cidades
por balas de fuzil está fudido o brasil
entregue as traças então me resta
exterminar o nome o sobrenome o
apelido
do causador dessa desgraça
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux - 2020
leia mais no blog
https://arturgumes.blogspot.com/
Avianca
quem voa ama
trepo na tua anca
me leva pra tua cama.
Avianca
quem ama voa
embarco nas tuas asas
e me chama de Pessoa.
Federico
Baudelaire
https://arturkabrunco.blogspot.com/
Aviso aos náufragos
Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que
cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não e assim que é a vida?
Paulo Leminski
Nenhum comentário:
Postar um comentário