SAVANA GRIL
1.
Escuta,
viajor da tempestade!
Prescruta
a semente
que
o mar feriu (e as razias secretas;
e as
pilhagens festivas).
Aceita
teu breve oásis
que
nem sequer é a paz
fecundada.
É
somente este agora
reduzido
a metonímias.
Pregaram-te
os séculos
de
cicatrizes (e esta lágrima
de
chantilly).
Não
crescem planícies
sob
teus pés: outra vez
são
as ervas daninhas
e
suas alegorias. Outra vez
a
liturgia de espinhos.
Lembra-te
do dromedário
que
bebe a areia; lembra-te
do cacto sobre a rocha.
Salgado Maranhão
Pedra de Encantaria
7Letras Editora – 2021
BraziLírica Pereira Pereira
: A Traição das Metárofas
para Dalila Teles Veras
Re-Visitando
aqui
onde as coisas acontecem
agora estou
onde já estive
mesmo não estando
independente de onde esteja
me viaja pra Lisboa
pelas Ilhas da Madeira
e eu aqui de Madureira
me transporto em barco à vela
me transformo em aquarela
com poemas de Kandinski
mando um beijo pro Leminski
e me refaço na Pessoa
Artur Gomes
https://arturkabrunco.blogspot.com/
libertinagem
tudo
entre nós é fresta
antes
depois da festa
que ainda nem começou
inútil
explicar o poema
o
Dedo de Deus
estrela
do mar
serra
da Mantiqueira
inútil
tentar entender a beleza
do
azul/marinho da Portela
o verde/rosa da Mangueira
inútil
querer saber de mim
se
FlorBela ainda vive
no
outro lado da janela
ou
nos Retalhos Imortais do SerAfim
se
foi Cândido Portinari
quem
pintou as portas de entrada da favela
ou
se foi Rúbia Querubim
Artur Gomes
https://fulinaimicamente.blogspot.com/
Barbato
é o barato da voz
a todo vapor
mesmo não sendo Gal
é Fatal o que me toca
enquanto fala
nada cala enquanto move
os músculos da boca
e as cordas na garganta
quando sonoriza o ar
mesmo se não canta
é música que me traz
dos teus martírios
quando extravasa teus mistérios
quantos
Federico
Baudelaire
https://arturkabrunco.blogspot.com
Cabeça
Quando
eu sofria dos nervos,
não passava debaixo de fio elétrico,
tinha medo de chuva, de relâmpio,
nojo de certos bichos que eu não falo
pra não ter de lavar minha boca com cinza.
Qualquer casca de fruta eu apanhava.
Hoje, que sarei, tenho uma vida e tanto:
já seguro nos fios com a chave desligada
e lembrei de arrumar pra mim esta capa de plástico,
dia e noite eu não tiro, até durmo com ela.
Caso chova, tenho trabalho nenhum.
Casca, mesmo sendo de banana ou manga,
eu não intervo, quem quiser que se cuide.
Abastam as placas de ATENÇÃO! que eu escrevo e ponho perto.
Um
bispo, quando tem zelo
apostólico, é uma coisa charmosa.
Não canso de explicar isso pro pastor
da minha diocese, mas ele não entende
e fica falando: ‘minha filha, minha filha’,
ele pensa que é Woman’s Lib,
pensa
que a fé tá lá em cima e cá em baixo
é mau gosto só. É ruim, é ruim,
ninguém entende. Gritava até parar
quando eu sofria dos nervos.
Adélia Prado
https://www.youtube.com/watch?v=UDVM69xCOI4
Cabras Mandacaru
assim como mata a sede do pobre,
mandacaru não perdoa a falsidade
dos covardes que só pensam em sugá-lo
que chegam pra usá-lo
e depois o condenam à morte!
assim a mulher mais simplória do nordeste
assim todo homem e cabra do agreste
não aceita mais mentira dos velhacos
que não olham pros barracos
das cidades do sul e sudeste
vá, volte pra casa rapaz
aqui nesses nossos currais
não tem chance pra sua peste
vá, saiba que ninguém tem dó
do seu caminhar tão só
você não sabe nem o que veste!
https://soundcloud.com/.../cabras-do-mandacuru-paulo-ciranda
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