domingo, 21 de abril de 2024

múltiplas poéticas


SAVANA GRIL

 

1.

 

Escuta, viajor da tempestade!

Prescruta a semente

que o mar feriu (e as razias secretas;

e as pilhagens festivas).

 

Aceita teu breve oásis

que nem sequer é a paz

fecundada.

É somente este agora

reduzido a metonímias.

 

Pregaram-te os séculos

de cicatrizes (e esta lágrima

de chantilly).

 

Não crescem planícies

sob teus pés: outra vez

são as ervas daninhas

e suas alegorias. Outra vez

a liturgia de espinhos.

 

Lembra-te do dromedário

que bebe a areia; lembra-te

do cacto sobre a rocha.

 

Salgado Maranhão

Pedra de Encantaria

7Letras Editora – 2021


               BraziLírica Pereira Pereira

: A Traição das Metárofas

para Dalila Teles Veras

 

Re-Visitando

 

aqui

onde as coisas acontecem

agora estou

onde já estive

mesmo não estando

 

independente de onde esteja

me viaja pra Lisboa

pelas Ilhas da Madeira

e eu aqui de Madureira

me transporto em barco à vela

me transformo em aquarela

com poemas de Kandinski

mando um beijo pro Leminski

e me refaço na Pessoa

 

Artur Gomes

https://arturkabrunco.blogspot.com/


 libertinagem


tudo entre nós é fresta

antes depois da festa

que ainda nem começou

 

inútil explicar o poema

o Dedo de Deus

estrela do mar

serra da Mantiqueira


inútil tentar entender a beleza

do azul/marinho da Portela

 o verde/rosa da Mangueira


inútil querer saber de mim

se FlorBela ainda vive

no outro lado da janela

ou nos Retalhos Imortais do SerAfim

se foi Cândido Portinari

quem pintou as portas de entrada da favela

ou se foi Rúbia Querubim

 

Artur Gomes

https://fulinaimicamente.blogspot.com/


Barbato

 

é o barato da voz

a todo vapor

mesmo não sendo Gal

é Fatal o que me toca

enquanto fala

nada cala enquanto move

os músculos da boca

e as cordas na garganta

quando sonoriza o ar

mesmo se não canta

é música que me traz

dos teus martírios

quando extravasa teus mistérios

quantos

 

Federico Baudelaire

https://arturkabrunco.blogspot.com


Cabeça

Quando eu sofria dos nervos,
não passava debaixo de fio elétrico,
tinha medo de chuva, de relâmpio,
nojo de certos bichos que eu não falo
pra não ter de lavar minha boca com cinza.
Qualquer casca de fruta eu apanhava.
Hoje, que sarei, tenho uma vida e tanto:
já seguro nos fios com a chave desligada
e lembrei de arrumar pra mim esta capa de plástico,
dia e noite eu não tiro, até durmo com ela.
Caso chova, tenho trabalho nenhum.
Casca, mesmo sendo de banana ou manga,
eu não intervo, quem quiser que se cuide.
Abastam as placas de ATENÇÃO! que eu escrevo e ponho perto.

Um bispo, quando tem zelo
apostólico, é uma coisa charmosa.
Não canso de explicar isso pro pastor
da minha diocese, mas ele não entende
e fica falando: ‘minha filha, minha filha’,
ele pensa que é Woman’s Lib, pensa
que a fé tá lá em cima e cá em baixo
é mau gosto só. É ruim, é ruim,
ninguém entende. Gritava até parar
quando eu sofria dos nervos.

Adélia Prado

https://www.youtube.com/watch?v=UDVM69xCOI4


Cabras Mandacaru

 

assim como mata a sede do pobre,

mandacaru não perdoa a falsidade

dos covardes que só pensam em sugá-lo

que chegam pra usá-lo

e depois o condenam à morte!

assim a mulher mais simplória do nordeste

assim todo homem e cabra do agreste

não aceita mais mentira dos velhacos

que não olham pros barracos

das cidades do sul e sudeste

vá, volte pra casa rapaz

aqui nesses nossos currais

não tem chance pra sua peste

vá, saiba que ninguém tem dó

do seu caminhar tão só

você não sabe nem o que veste!

 

Paulo Celso Ciranda

https://soundcloud.com/.../cabras-do-mandacuru-paulo-ciranda 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oficina de Poesia Falada - Escrita Criativa

nesta próxima quarta entre as 17 e 21h estarei fazendo no Palácio da Cultura, uma demonstração da Oficina de Poesia Falada (escrita criativa...