soberba
a noite longa
por entre os
paralelepípedos
e Jaguarão
se espreme entre
a ponte e o cerro
passo a passo
o olhar adensa
no delito da espera
na podridão da
virtude
um galo geme
e o dia amanhece
Lau Siqueira
In o inventário do pêssego
CASA VERDE – Porto Alegre-RS – 2020
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Balbúrdia Poética
POEMA DAS
SETE FACES
(Carlos Drummond de Andrade)
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
(Carlos Drummond de
Andrade)
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Balbúrdia PoÉtica
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56
*
Ainda me faltam alguns anos, amor,
Para que eu me torne um velho.
Não são muitos,
mas me restam alguns.
Fique ouvindo baixo
música clássica
como é do seu feitio,
Que a mim
Ainda crispa
os pelos do braço
Um estrondoso
Riff de guitarra.
Eu sei que a você, que já me ajudou
A virar copos taças e tulipas,
Agora bastam alguns dedos
De pinot-noir
Para dormir antes das dez
E cumprir a finalidade melancólica
de nossa burocrática cama
Nos últimos tempos.
Mas a mim ainda restam alguns anos, amor,
E, segundo os exames,
Uns bons níveis de testosterona,
Levando-se em conta a idade.
Ainda faltam alguns anos
Para eu ficar velho,
E não duvide,
sou bem capaz de aguentar
Uma noite ao som do soul.
Então me deixe aqui
Com minha playlist
Que pode durar até às três,
Junto com essa garrafa inteira
E quem sabe mais alguns goles
quando ela acabar.
Ficarei ao menos até que os ponteiros
Se encontrem no topo
E o sono me venha feito
Um longo e lento
Solo de blues.
Porque ainda me restam
Alguns anos, amor,
Para a velhice
E eu não quero
Estar morto
Antes de morrer.
*
André Giusti, 2024
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