sábado, 25 de maio de 2024

múltiplas poéticas

soberba

 

a noite longa

por entre os

paralelepípedos

 

e Jaguarão

se espreme entre

a ponte e o cerro

 

passo a passo

o olhar adensa

 

no delito da espera

na podridão da

virtude

 

um galo geme

e o dia amanhece

 

Lau Siqueira

In o inventário do pêssego

CASA VERDE – Porto Alegre-RS – 2020

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POEMA DAS SETE FACES

(Carlos Drummond de Andrade)

 

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

 

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

 

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

 

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode,

 

Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

 

Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

 

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.

 

(Carlos Drummond de Andrade)

 

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Rubens Jardim  

Tchello d´Barros 

 

56

*

Ainda me faltam alguns anos, amor,

Para que eu me torne um velho.

Não são muitos,

mas me restam alguns.

Fique ouvindo baixo

música clássica

como é do seu feitio,

Que a mim

Ainda crispa

os pelos do braço

Um estrondoso

Riff de guitarra.

Eu sei que a você, que já me ajudou

A virar copos taças e tulipas,

Agora bastam alguns dedos

De pinot-noir

Para dormir antes das dez

E cumprir a finalidade melancólica

de nossa burocrática cama

Nos últimos tempos.

Mas a mim ainda restam alguns anos, amor,

E, segundo os exames,

Uns bons níveis de testosterona,

Levando-se em conta a idade.

Ainda faltam alguns anos

Para eu ficar velho,

E não duvide,

sou bem capaz de aguentar

Uma noite ao som do soul.

Então me deixe aqui

Com minha playlist

Que pode durar até às três,

Junto com essa garrafa inteira

E quem sabe mais alguns goles

quando ela acabar.

Ficarei ao menos até que os ponteiros

Se encontrem no topo

E o sono me venha feito

Um longo e lento

Solo de blues.

Porque ainda me restam

Alguns anos, amor,

Para a velhice

E eu não quero

Estar morto

Antes de morrer.

*

André Giusti, 2024


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