segunda-feira, 22 de abril de 2024

Múltiplas Poéticas

OS CAMINHOS QUE ME TROUXERAM ATÉ AQUI

Quando me vejo retornando à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), onde cursei Licenciatura em Teatro entre os anos de 1997 e 2002, para falar sobre teatro e sobre o ensino profissionalizante, parece que alguns ciclos estão se completando, ou se conectando. É curioso pensar que estudei na Escola Técnica Federal de Campos, que hoje é a sede do Instituto Federal Fluminense (IFF), escola que possui catorze campi no Estado do Rio e um deles é Macaé, onde eu hoje trabalho.

 Lá eu fiz o curso Técnico de Química (quem diria?). Mas, na verdade, cursei apenas dois dos quatro anos. O que aconteceu nesta escola e que mudou a minha vida de forma decisiva - eu tinha planos de seguir estudando na área das ciências - foi o fato de ter feito a Oficina de Teatro na escola, com o professor Artur Gomes, um poeta campista que desenvolvia um trabalho essencialmente performático conosco. Lembro-me, por exemplo, de uma intervenção que fizemos na cantina da escola, em que andávamos perguntando às pessoas na fila do caixa: “Quanto custa um sonho na cantina?”. 

Andamos também pelos corredores da escola como em uma procissão cantando músicas de Milton Nascimento, entre outras propostas das quais ainda me recordo com certa clareza, apesar de mais de 20 anos já terem se passado. Como já disse, não concluí o curso técnico. Saí da escola e cursei um ensino médio propedêutico em uma escola estadual, mas continuei por mais alguns anos trabalhando com o Artur, ainda depois de sair de Campos para morar no Rio e cursar a faculdade de Teatro na UNIRIO. Sim, esta experiência foi decisiva para me levar a esta faculdade!

                                  *

 Obs.: introdução da Dissertação apresentada como pré-requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ensino de Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Artes Cênicas, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

 

                                Clarice Cruz Tearra


por mais que entre nós exista essa distância geográfica ou mesmo estética pensando a ética de não ferir nenhum dos 5 sentidos quando em mim o desejo é poesia mesmo assim roço tua pele pelos poros como quando pulsa plena a mulher dos sonhos na fotografia

 

                         Federika Lispector 


coito

 

teu corpo
 carne de manga
em meu pênis viril

enquanto sangra
quando beijo tua boca
              enfurecido
rasgando por trás
             o teu vestido

 

Artur Gomes
Do livro: Suor & Cio – 1985

https://arturgomesgumes.blogspot.com/ 


com  os  dentes  cravados  na memória 

Aos 20 Freud estava apenas de passagem, difícil era entender a insustentável leveza do ser onde tudo que é sólido se dissolve no ar. A barra era pesada, os sonhos exterminados a ferro e fogo, porões, exílio, trincheiras, barricadas, palavras eram caladas a golpes de espadas. Desse tempo ficaram marcas, cicatrizes fundas. aos 30 vieram filhos, e a compreensão da função biológica do sexo. aos 40 o que era submerso aflorou na superfície, foi brotando do inconsciente o que estava lá adormecido desfolhei nos livros Suor & Cio e Couro Cru & Carne Viva. aos 50 e 60 Freud se tornou companheiro de jornadas para exorcizar  os fantasma nos laboratórios de teatro. hoje  sonho imaginário fantasia são partes da mesma realidade, complementos inseparáveis da mutação do pós-juízo onde amo uma mulher de 26 e ela entra pela minha porta como uma outra nunca fez.

 

Artur Gomes

#ComOsDentesCravadosNaMemória

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oficina de Poesia Falada - Escrita Criativa

nesta próxima quarta entre as 17 e 21h estarei fazendo no Palácio da Cultura, uma demonstração da Oficina de Poesia Falada (escrita criativa...