ê fome negra incessante
febre voraz gigante
ê terra de tanta cruz
onde se deu primeira missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus
oh! myBrazyl
ainda em alto mar
Cabral quando te viu
foi logo gritando:
terra à vista!
e de bandeja te entregando
pra união democrática ruralista.
por aqui nem só beleza
nesses dias de paupéria
nação de tanta riqueza
país de tanta miséria
moenda
usina
mói a cana
o caldo e o bagaço
usina
mói o braço
a carne o osso
usina
mói o sangue
a fruta e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e do alto da casa grande
os donos do engenho controlam
:
o saldo e o lucro
olho de lince
onde engendro
a Sagarana
invento
a Sagaranagem
entre a vertigem
e a voragem
na palavra
de origem
entre a língua
e a miragem
São Bernardo e Diadema
mordendo: o vírus da linguagem
no olho de lince do poema
poética 93
Tenho nojo do Agro
Negócio que me dá asco
por tanta perversidade
quem planta veneno
é carrasco
assassino da humanidade
cacomanga
ali nasci
minha infância
era só canaviais
ali mesmo aprendi
a conhecer os donos de fazendas
e odiar os generais
pessoa
não tenho pretensões de ser moderno
nem escrevo poesia
pensando em ser eterno
veja bem na minha língua as labaredas do inferno
e só use o meu poema
com a força de quem xinga
por
aqui nem só beleza
nesses dias de paupéria
nação de tanta riqueza
país de tanta miséria
cacomanga
na roça desde cedo comecei a escavar palavras e
separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de milho para
os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não dependo de
mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada capinei a
liberdade e descobri que ditadura é uma palavra que não cabe nunca mais
| do livro Pátria A(r)mada (Editora
Desconcertos, 2019). |
Artur
Gomes é poeta, ator, videomaker e
produtor cultural. Tem diversos livros publicados, sendo os mais recentes Juras Secretas (Editora
Penalux, 2018) e Pátria
A(r)mada (Editora Desconcertos, 2019). E O Poeta Enquanto Coisa (Editora Penalux-2020).
Com o livro Pátria A(r)mada recebeu
o prêmio Oswald de Andrade,
concedido pela UBE-Rio em 2020
Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do Instituto
Federal Fluminense de em Campos dos Goytacazes-RJ de 1975 a 2002. Em 1983,
criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira e, em 1993, idealizou o
projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira Mário de Andrade — 100 anos —
realizada pelo SESC São Paulo. Lecionou Poéticas no Curso Livre de Teatro em Campos
dos Goytacazes-RJ em 2018 e 2019. Gravou
no home studio Fil Buc — Produções o disco Poesia
Para Desconcertos, ou, Fulinaíma Afro Tupiniquim, com produção
de seu filho Filipe Buchaul. Ainda não lançado
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