sexta-feira, 9 de maio de 2025

Fé no Evoé - por Igor Fagundes

 

Fé no Evoé:

Confissões dionisíacas na poética e política de Artur Gomes

Igor Fagundes *

 

Depois das excitadas e excitantes Juras Secretas, de 2018, o poeta e artista multimídia Artur Gomes volta a tornar pública sua jura de amor e fidelidade ao arcaico deus Dionísio em O poeta enquanto coisa, de 2020, incorporando as ébrias forças de Baco sob novos goles e ritos, tão poéticos quanto políticos, numa contemporaneidade que avança em lama e vertigem e, assim, exige a potência do mítico da palavra corpórea e originária.

 Comparece ao ethos deste livro a mesma embriaguez fulinaímica de sempre: a que toma, mediante o delírio atento frente aos passos obtusos do ser e estar das gentes, cada palavra como taça, vinho tinto e uma tinta capaz de, em contrapartida, rogar lúcida a passagem dilacerada do humano pelas páginas turvas do mundo.

 

Que, em prefácio, ressoe agora-aqui a face mesma de assonâncias de Artur. Que em pré-faces (a da melopeia, a da fanopeia, a da logopeia) o poeta se apresente, por assim dizer, multifacetado, contaminando-nos com os tempos de seu ritmo venéreo. Que se capte, enfim, o próprio escape das imagens ímpares e afiadas pelo gume de Gomes, repetindo-se – com outros nomes e aliterações – seus deleitosos jogos de palavras em nossa fome de análise e anúncio: incorporemos, nessa prosa de abertura, a música de seus trocadilhos, a curvatura das paranomásias no retilíneo das linhas do livro: a que verte vulva em verso, Afrodite em afro-ditos de orixás em orgias com Ártemis e Hermes.

 

Que o veraz poeta, para aquém do denominado moderno, para além do já clichê pós-moderno, para quem dos rótulos e taxonomias previstas pelas literárias teorias, atravessa o pós-pós de tudo e mesmo o pó da historiografia.

Artur Gomes se exibe, ao revés, pré-antigo (tão dentro quanto fora do chronos) na atualidade incorrigível de uma poesia dedicada à Gaia (lê-se na dedicatória: “e a Terra/Mãe/Terra a musa eterna dos meus estados de surtos dos meus estados de sítio dos meus estados de cio”). Enquanto bebe, no tempo cronológico (“tempo de bestas”, “na caretice dos bostas”), as lutas e lutos de sua época e século (“esse país que atravesso corpo devassado em grito na cara do silêncio”), inebria-os e subverte-os no tempo imemorial da Terra para fundar o Aion sem fundo do instante-em-transe da experiência artística.

 

Por isso, não basta citar, em cacoete analítico, os tiques nervosos que convêm à crítica (mencionar modernismos influentes, a geração beat, a poesia pop, a tropicália...) para entender sua lírica. Nem seria preciso. Soaria até repetitivo elencar, neste preâmbulo, as personagens caras a Gomes, forjando-o efeito do esbarro nelas todas, do encontro com elas, das tramas e transas com obras e corpos do passado e presente: o poeta já o faz e cumpre a coletânea como a dramaturgia de sua errância pelo imaginário e pelo inconsciente, os quais derramam sobre o copo do real e da consciência alter-egos confessos e inventados – tudo o que for líquido nos vasos sanguíneos do poeta alcooliza o poemário com o híbrido de fogo fátuo e frios fatos.

Artur Gomes – assinatura por vir, heteronímica, heteromórfica – assim apresenta em O poeta enquanto coisa suas juras não mais secretas, mas públicas, ainda púbicas, aos afetos que compõem e decompõem sua literaturavida. Seus versos são rascunhos, rasuras e ranhuras a passar a limpo os nexos e os nervos de sua fatura formal e estilística, deixando sobre a página tanto um rastro de unha quanto o esmalte dos escritos e vozes que em sua alma avultam e nos dedos instauram cutículas.

 

Tais intertextos e intratextos, ou ainda, tais hipertextos insaciáveis se disseminam pela obra na mesma proporção com que se concentram em cada poema, lado a lado ou embaralhados; falseando nos rebentos líricos as certidões de batismo e, em poligamia, proliferando as certidões de casamento com as leituras/releituras de livros, bem como com o folhear de rostos amigos, ou com o riso e risco do desconhecido, não obstante o postergar de comprovantes de residência, de pátrias de origem: cada gesto, um tanto Ulisses, desmente Ítacas, deslinda labirintos (do Minotauro?) ou mesmo fios (de Ariadne?), teatralizando ad infinitum as alteridades que servem como impressão digital provisória e polimórfica para alguma identidade fluida, fragmentada, ao rés da fantasia.

 

Mas nada disso seria possível – nenhuma conversa com livros, nenhum sexo com as líricas de um outro e de uma outra – seria concreto sem a lascívia uma vez mais dionisíaca de um cérebro em gozo sináptico, em psiké-análise, em psiké-catálise, em psiké-catábase: esta que põe no divã do poeta as divas Oxum e Afrodite atravessadas, fosse a sala do analista também um templo pagão ou uma ilha de Lesbos, de modo que Artur construa entre sua cama e seu karma de vate uma Igreja imoral/amoral do Reino de Zeus. E dos muitos Eus que exilam hóstias e comungam com o jamais fixo e intransigente credo.

 

Esta, a sacralização do profano e do erótico, ou a profanação do sagrado enquanto humano, do poeta enquanto coisa (“o amor mesmo quando profano / tem muito mais de sagrado”): filho de um deus com uma mortal, Dionísio dança na recorrência da palavra “vinho” no livro, a exemplo dos versos: “aqui / a poesia pulsa / na veia / no vinho”; “por vinho tinto e poesia”; “ela tem sede de vinho / nas madrugadas dos bares”; “o vinho do tempo na boca”; “em nossas bocas tinto – vinho”; “beijo tua boca ainda suja / do vinho que sobrou”; “me consagro teu amante / pelos vinhedos de Baco / no ápice sagrado / da su-real pornofonia”.

 

A embriaguez dos significantes e dos significados é a que tanto forja imagens insólitas (como a de um “céu de estanho” ou como em “ela mastiga meus ponteiros”) quanto a que costura melodias bem trabalhadas entre vogais, consoantes ( “entre paredes pedras facas de dois gumes / nos parreirais depois da lua), ratificando a inteligência verbal (a logopeia) de Artur Gomes dobrada em melopeia (música) e fanopeia (imagética).

Visualidade provocada, a saber, não só pelas imagens significadas pelos significantes, mas visualidade ou imagem do próprio significante, o qual, dentro de si, dá à luz significâncias outras (“EuGênio Andrade”, “Afro-dite, “BolivariAndo”, “eletriCidade”), pois Artur Gomes – nesta “pornofonia” – é mestre na criação de neologismos (em tudo se vê uma “carNavalha”).

 

Não apenas o corpo do homem, da mulher, se sensualiza e se sexualiza sob a força cósmica de Eros. É o poema mesmo que, em O poeta enquanto coisa, é corpo sensualizado, sexualizado, da mesma maneira que a cidade, o mundo, os tempos e o Tempo são Eros, vez que a palavra é pele e poro (duas palavras aliterantes e frequentes em Artur Gomes). Nessa porosidade, o poeta se entende permeável a coisas e pessoas (a pessoas já misturadas às coisas, a pessoas já coisas): “por entre poros entre pelos / minhas unhas tuas costas”. Também por isso, por essa poesia de tamanho contato, fricção, a relação com a língua se confirma erotizada e – vale dizer – tanto a língua física quanto a verbal, o que equivale a dizer que escrita e oralidade se reencontram no poeta: a sofisticação da escritura literária não perde (pelo contrário, potencializa) a dimensão primigênia do poeta como cantor, como ator “na divina língua de Baco”, a qual se exalta mediante a recorrência também da palavra “boca” e da palavra “coxa”: uma é a que beija, lambe, morde e degusta; outra é a beijada, a lambida, a mordida, a degustada.

Ambas em rima toante também entoam ritmos e ritos profanos-sagrados:

 

o poema fala do teu corpo

como se o tocasse

o reconhecesse em cada verso

cada palavra que sai da boca

como um canto bíblico

com louvor profano

 

Nessa performance e performatividade lingual-linguística, todo signo cisma um erotismo entre o significante e o significado, sim, mas também entre página e palco, palco e praça, praça e povo, a babel dos povos e a babel das palavras: daí, tantos trocadilhos (troca-trocas, orgias, surubas...), como o da “flór do lótus” com a “flor do lácio”, o das “coxas” com as “costas”, o do “fauno” com a “flauta”, o da “alvorada” com o “alvoroço”, o da “antítese” com a “Antígona”.

 

Eis a língua física, outrossim, a trocar com a verbal, mas sendo ao mesmo temo pelo verbal trocado, e vice-versa. Eis o poeta trocando com outros poetas ou sendo trocado por poetas outros, vestindo a roupa dos outros e tirando a sua roupa para ser outro: Federico Baudelaire, Gigi Mocidade, Bracutaia Silva, Federika Bezerra, Cristina Bezerra etc.

 

O poeta, analista translógico da psique, troca com sua psicanalista. E o poeta se tenta analista de si mesmo, elevando o caos para a troca de seu nome Artur por timbres e assinaturas novos. Do mesmo modo, o nome dos poetas que existem, os que morreram e ainda não, os vivos hoje e sempre, vai se trocando, em rearranjos da memória (e do recriativo esquecimento).

 

Artur Gomes troca poetas em seu corpo e, trocando com eles, entende que todos trocam entre si, a exemplo do diálogo poético de Clarice com Baudelaire. Mais ainda: o corpo do poeta troca com o corpo do poema e, consoante em “Poética”, a metalinguagem elabora um troca-troca de textos sob o mesmo título, pois o poema “Poética” se metamorfoseia em outros poemas: o tema “Poética” permanece, mas se trocando: o mesmo sendo diferente. A palavra “outro(s)” se sugere, enfim, ouro neste livro, e é nessa não indiferença ao outro, que o poético se faz ético e político. E nessa política da e pela diferença, a cidade do corpo se troca e vira o corpo da cidade. Assim, o poeta é – quando e enquanto coisa.

 

No meio de tantas referências e reverências, borrões (d)e assinaturas (como as de Mário de Andrade, Drummond, Torquato Neto, Rimbaud, Mallarmé, Tanussi Cardoso, Tchello d’Barros, Jiddu Saldanha, Ronaldo Werneck, Reinaldo Valinho Alvarez, Reinaldo Jardim, deuses e deusas gregas, orixás), o “anjo torto” de Artur Gomes não sopra no livro Manoel de Barros ou James Joyce, escritores também engenhosos e que se vale de muitos ilogismos ou neologismos.

 

Todavia, O poeta enquanto coisa não deixa, na qualidade de título de livro, de repercutir o Retrato do artista quando coisa (de Barros) e o Retrato do artista quando jovem (de Joyce). Do mesmo modo, não havendo menção (ao menos, explícita e intencional), ao “Teatro Oficina” de José Celso Martinez Corrêa, a dimensão orgiástica da arte e a reunião – não menos sacro-promíscua – de mitos gregos e africanos, a assimilação pela cultura ocidental de outras culturas, aparece em Artur Gomes nesta, quiçá, Poesia Oficina. A relação gozosa e experimental com que a palavra se faz poema e se teatraliza faz de seus livros um grande laboratório da língua, do corpo e da cultura, com repercussões nitidamente políticas.

 

Se Pantanal é o corpo poético e o poema experimental, de aparente falta de lógica, lembrando o discurso infantil, no Manoel de Barros do Retrato do artista quando coisa, a urbe é o corpo prenhe de sexualidade e sensualidade em Artur Gomes, nos supostos ilogismos do discurso adulto que se vê fragmentado e devorado por Eros e Thanatos, e no qual a relação sujeito-objeto já não dá conta quando o humano se vê coisa (não mais agente ou paciente, voz ativa ou passiva: talvez, as duas ao mesmo tempo).

 

 Como no Pantanal de Barros, a linguagem de Gomes é lamacenta, cheia de líquidos e delírios: a seiva se expande e se intensifica com (ou se troca por) suor e sêmen. Lama, agora, é a cama: o mangue ou o pantaneiro é a cama de Artur onde dormem, acordam, sonham, gozam e ardem todos os corpos (humanos e não humanos) aqui já citados e dispostos nos lençóis, colchas e fronhas da página.

 

Por outro lado, temos na trajetória literária de James Joyce, a intertextualidade com Ulisses de Homero. Artur Gomes ouve o canto da sereia em sua cama, livro, divã, e talvez do inconsciente escute a voz de um “artista quando jovem”, vinda de Joyce. Nesta, a personagem protagonista Stephen Dedalus, aquele que será adiante o anti-herói de Ulysses, diz à sua mãe que não poderá seguir a vocação de padre. Ele descobriu uma nova e grandiosa missão em sua vida: a de criar uma nova e poderosa mitologia para o povo irlandês. O romance autobiográfico de Joyce narra a infância de Dedalus (máscara de Joyce), personagem que vai aparecer novamente em Ulysses. A vida do pequeno Dedalus é marcada pela religiosidade da mãe. Ela quer que o filho siga a carreira eclesiástica. Vários padres fazem parte da vida de Dedalus e vão moldando sua consciência. O momento de virada na vida da personagem principal se dá no momento em que ele escuta um horrível sermão feito por um padre sobre o inferno que o deixa muito impressionado. Dedalus passa a viver como um carola seguindo à risca todos os jejuns e mandamentos da igreja católica. Nesse momento, ele até se sente como um futuro padre. Com a sequência do romance, vemos o jovem Dedalus passar de uma fase religiosa para uma de sensualidade. Sente-se cada vez mais obcecado com a ideia da confissão. Ele então confessa a um padre todos os pecados sensuais que pratica. Abandona definitivamente a convocação de ser padre e passa a se interessar por ideias artísticas e estéticas. Dedalus abandona a carreira de padre mas não a fé.

 

Assim, Artur Gomes se obstina pela ideia de confissão, mas de uma confissão dionisíaca. Primeiro, fazendo suas Juras Secretas, suas confidências sensuais, sexuais, eróticas, fulinaímicas. Em suma, suas sagaranagens (há algo de Joyce em Guimarães Rosa, ou vice-versa; no Rosa que há em Artur Gomes, no sagarana dos três). Agora, em O poeta enquanto coisa, arriscando-se a abandonar todo credo político-religioso paralisante, move-se – avesso ao dogmático – no sentido de dançar o mitopoético, o dionisíaco. Daí, uma Igreja Universal do Reino Zeus faça todo sentido na cosmogonia e teogonia de Artur Gomes. Em primeiro lugar, como deboche diante de quaisquer fundamentalismos. Em segundo lugar, como denúncia do que um Reino de Deus pode roubar do político o vigor do poético, preferindo um louvor a Dionísio a um Deus que não sabe dançar, que não sabe gozar, na liturgia de uma poesia que roga

 

por um poema  que desconcerte

entorte desconforte arrombe a porta

dos céus  da tua boca

arranhe os dentes da loba

arrebanhe os cordeiros no pasto

e lhes ensine a subverter

as ordens do pastor

assumo o risco não sou demo

nem corisco  eu sou cantor

 

Iansã é quem me lava

Oxossi é quem me leva

Ogum é quem me manda

Oxum é quem me guarda

 

eu sou o que invoca  o que provoca

e incorpora  desconcentra  desconforta

desconstrói  e desconcerta

eu sou o que interpreta representa

o que inventa e desafora

o Anjo Torto  graças a Zeus

a pedra e ao Machado de Xangô

a Capitã do Mato Caipora

me xinga de poeta enganador

mal sabe ela  que eu sou da reza

que o homem que se preza

nunca se escraviza  com chicote de feitor

 

*Igor Fagundes é poeta, ensaísta, doutor em Poética e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autor, dentre outros, de pensamento dança (2018) e Poética na incorporação (2016). Macumbança (2020)

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terra de santa cruz

I

ao batizarem-te

deram-te o nome:

posto que a tua profissão

é abrir-te em camas

dar-te em ferro

ouro

prata

rios

peixes

minas

mata

deixar que os abutres

devorem-te na carne

o derradeiro verme

 

Artur Gomes

poema dos livros Couro Cru & Carne Viva - 1987

e Pátria A(r)mada - 2022

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CarNAvalha Gumes

 

Escrito nos anos de 1990 este poema hoje no Brasil  é atualíssimo visto esse atual congresso da desordem democrática que o país em hoje. O que será que fizemos nos verões passados para chegarmos a essa situação?

 

neste país de fogo & palavra

se falta lenha na fornalha

uma mordaz língua não falha

cospe grosso na panela

           da imperial tropicanalha

 

não me metam nesses planos

verdes/amarelos

meus dentes vãos  a(r)mados

nem foices nem martelos

meus dentes encarnados

alvos brancos belos

          já estão desenganados

             desta sopa de farelos

 

Artur Gomes

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Balbúrdia PoÉtica 10

Dia 12 de julho

Das 14 às 19h

Casa da Palavra – Santo André-SP

Blog atualizado com poemas de Julio Mendonça e Simone Bacelar

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Jura secreta 34

por que te amo
e amor não tem pele
nome ou sobrenome

não adianta chamar
que ele não vem quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos

mas não tenha medo
pode sangrar pode doer
e ferir fundo
mas é razão de estar no mundo

nem que seja por segundo
por um beijo mesmo breve
por que te amo
no sol no sal no mar na neve

Artur Gomes
poema do livro Juras Secretas
Litteralux – 2018

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Lidiane Carvalho Barreto na Balbúrdia PoÉtica 9 falando o poema Itabapoana Pedra Pássaro Poema de Artur Gomes
12ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ

tabapoana Pedra Pássaro Poema

uma metáfora
não é apenas uma metáfora
quando a pedra é pássaro

em gargaú
às 5 horas da tarde
as garças voam
em direção
ao outro lado da pedra
em guaxindiba
tenho em mim
que pássaros voam
peixes nadam
quando procuram
outro pouso

bracutaia eterna lenda
estranho pássaro
da pedra ouviu o grito
que voou de gargaú pro infinito

Artur Gomes
poema do livro Itabapoana Pedra Pássaro Poema

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choveu pedra em São Francisco do Itabapoana se de gelo ou granizo inda nem sei só depois da apuração da comissão de inquérito instaurada por alguns moradores da localidade  do Macuco saberei.

 

                       Federico Baudelaire

 

cada qual com sua Natureza , pode ser garoa ou correnteza , é o tempo comandando a sua Fortaleza

 

                                       Zhô Bertholini

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 O poeta enquanto coisa


o meu lugar não é aqui
o meu lugar não é ali
o meu lugar é lá

onde garrincha entorta
os laterais esquerdos
dibla até o goleiro
e debaixo da trave
não faz o gol

um desacerto

volta ao meio do campo
para re-começar o desconcerto

Artur Gomes
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*


um brinde a balbúrdia

 

nesta cidade de palha

minha balbúrdia poética

não falha

corta palavra morta

na nervura dessa pedra

na carnadura desse osso

corte grosso de navalha

pra descascar esse caroço

 

Artur Gomes

Balbúrdia PoÉtica

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Balbúrdia PoÉtica 7

Balburdiar : Eis O Verbo

Dia 23 – maio – 19:30h

Santa Paciência – Casa Criativa

Rua Barão de Miracema, 81 – Campos dos Goytacazes-RJ 

Performance Teatro.Poesia

com Artur  Gomes + Estefany Nogueira + Jonas Menezes + Paulo Victor Santanna 

Lançamento do livro

Itabapoana Pedra Pássaro Poema 

Roda de Conversa

com Artur Gomes + Tetê Peixoto + Fernando Rossi 

Poesia Ali Na Mesa 

com a poesia de

Adão Ventura + Ademir Assunção + Angel Cabeça + Armando Liguori Junior + Aroldo Pereira + Artur Gomes + Belchior + Caetano Veloso + Celso de Alencar + César Augusto de Carvalho + Clara Baccarin + Dalila Teles Veras + EuGênio Mallarmè + Federika Lispector + Federico Baudelaire + Ferreira Gullar + Gigi Mocidade + Irina Sefarina + Jorge Ventura + José Facury Heluy  + Jidduks + Jurema Barreto + Karlos Chapul + Lau Siqueira + Lira Auxiliadora Lima de Castro + Luis Turiba + Mário Faustino + Mário Quintana + Martinho Santafé + Marcelo Atahulpa + Mônica Braga + Nicolas Behr + Noélia Ribeiro + Oswald de Andrade + Paulo Leminski + Pastor de Andrade + Ricardo Vieira Lima + Rosana Chrispim + Rúbia Querubim + Sady Bianhcin + Sebastião Nunes + Sérgio de Castro Pinto + Simone Bacelar + Silvana Guimarães + Tanussi Cardoso +Torquato Neto +  Wélcio de Toledo + Yara Fers + Zhô Bertholini + Vivane Mosé

* 

Fulinaíma MultiProjetos

22 99815-1268 - whatsapp

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Balbúrdia PoÉtica 7
Poesia Ali Na Mesa
Balburdiar : Eis O Verbo
Dia 23 – maio - 19:30
Santa Paciência Casa Criativa
Rua Barão de Miracema, 81
Campos dos Goytacazes-RJ

balburdiar eis o verbo
ver pra crer
:
difícil de falar
ótimo de fazer

amor
balbúrdia gozosa
jorrando poesia
enquanto goza

*

fazer balbúrdia
jogo de cartas
sem baralho
:
dá prazer
mas dá trabalho

Artur Gomes
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Itabapoana Pedra Pássaro Poema

Link para compra

https://www.editoralitteralux.com.br/loja/itabapoana


Balbúrdia PoÉtica 7

Poesia Ali Na Mesa

23 de maio - 19:30h

na Santa Paciência - Casa Criativa

Rua Barão de Miracema, 81

Campos dos Goytacazes-RJ

choveu pedra em São Francisco do Itabapoana se de gelo ou granizo inda nem sei só depois da apuração da comissão de inquérito instaurada por alguns moradores da localidade  do Macuco saberei.

                       Federico Baudelaire

*

cada qual com sua Natureza , pode ser garoa ou correnteza , é o tempo comandando a sua Fortaleza

                                       Zhô Bertholini  

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Grande Hotel Gaspar

 

 as andorinhas de Campos

 cantam desesperadas

 na madrugada quase amanhecer

 como estivem engaioladas

 cantam para não enlouquecer

como se fossem cigarras

cantam até morrer.

 

Roda Viva

Cidade veraCidade

 

uma cidade sem memória não é uma cidade como bem disse federico Baudelaire despedaçando as pétalas do  bem ou do mal-me-quer mas se uma cidade tem nome de Santo um fato histórico ou se tem nome de mulher procure saber quem é para que depois não viva por aí jogado nos becos como objeto qualquer porque quem não tem conhecimento aceita tudo do jeito que vier.

https://www.instagram.com/p/DJjMX_Mun47/



Balbúrdia PoÉtica 6

Artur Gomes e José Facury

Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos

Dia 17 de maio – 20h

lançamento do livro: Itabapoana Pedra |Pássaro Poema

poetas convidados: Jiddu Saldanha e Tanussi Cardoso

Roda de Samba com : Clarêncio Rodrigues e Digo Conceição

Poesia Ali Na Mesa

 

traição grega

 

 helena me deu

um cavalo de pau

me jogou no vento

me pegou em troia

 me roubou a jóia

me deixou em trento

 

Artur Gomes

Poema do livro Itabapoana Pedra Pássaro Poema

Realização: Usina4 – Fábrica de Cultura, Kino3 – Congresso Brasileiro de Poesia – Fulinaíma MultiProjetos

22 99815-1268 – whatsapp

link para ver o vídeo

https://www.instagram.com/p/DJkezVQPRU4/


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Confissões dionisíacas na poética e política de Artur Gomes 

Igor Fagundes * 

Depois das excitadas e excitantes Juras secretas, de 2018, o poeta e artista multimídia Artur Gomes volta a tornar pública sua jura de amor e fidelidade ao arcaico deus Dionísio em O poeta enquanto coisa, de 2019, incorporando as ébrias forças de Baco sob novos goles e ritos, tão poéticos quanto políticos, numa contemporaneidade que avança em lama e vertigem e, assim, exige a potência do mítico da palavra corpórea e originária. Comparece ao ethos deste livro a mesma embriaguez fulinaímica de sempre: a que toma, mediante o delírio atento frente aos passos obtusos do ser e estar das gentes, cada palavra como taça, vinho tinto e uma tinta capaz de, em contrapartida, rogar lúcida a passagem dilacerada do humano pelas páginas turvas do mundo. Que, em prefácio, ressoe agora-aqui a face mesma de assonâncias de Artur. Que em pré-faces (a da melopeia, a da fanopeia, a da logopeia) o poeta se apresente, por assim dizer, multifacetado, contaminando-nos com os tempos de seu ritmo venéreo. Que se capte, enfim, o próprio escape das imagens ímpares e afiadas pelo gume de Gomes, repetindo-se – com outros nomes e aliterações – seus deleitosos jogos de palavras em nossa fome de análise e anúncio: incorporemos, nessa prosa de abertura, a música de seus trocadilhos, a curvatura das paranomásias no retilíneo das linhas do livro: a que verte vulva em verso, Afrodite em afro-ditos de orixás em orgias com Ártemis e Hermes.

      Que o veraz poeta, para aquém do denominado moderno, para além do já clichê pós-moderno, para quem dos rótulos e taxonomias previstas pelas literárias teorias, atravessa o pós-pós de tudo e mesmo o pó da historiografia. Artur Gomes se exibe, ao revés, pré-antigo (tão dentro quanto fora do chronos) na atualidade incorrigível de uma poesia dedicada à Gaia (lê-se na dedicatória: “e a Terra/Mãe/Terra a musa eterna dos meus estados de surtos dos meus estados de sítio dos meus estados de cio”). Enquanto bebe, no tempo cronológico (“tempo de bestas”, “na caretice dos bostas”), as lutas e lutos de sua época e século (“esse país que atravesso corpo devassado em grito na cara do silêncio”), inebria-os e subverte-os no tempo imemorial da Terra para fundar o Aion sem fundo do instante-em-transe da experiência artística. Por isso, não basta citar, em cacoete analítico, os tiques nervosos que convêm à crítica (mencionar modernismos influentes, a geração beat, a poesia pop, a tropicália...) para entender sua lírica. Nem seria preciso. Soaria até repetitivo elencar, neste preâmbulo, as personagens caras a Gomes, forjando-o efeito do esbarro nelas todas, do encontro com elas, das tramas e transas com obras e corpos do passado e presente: o poeta já o faz e cumpre a coletânea como a dramaturgia de sua errância pelo imaginário e pelo inconsciente, os quais derramam sobre o copo do real e da consciência alter-egos confessos e inventados – tudo o que for líquido nos vasos sanguíneos do poeta alcooliza o poemário com o híbrido de fogo fátuo e frios fatos.

Artur Gomes – assinatura por vir, heteronímica, heteromórfica – assim apresenta em O poeta enquanto coisa suas juras não mais secretas, mas públicas, ainda púbicas, aos afetos que compõem e decompõem sua literaturavida. Seus versos são rascunhos, rasuras e ranhuras a passar a limpo os nexos e os nervos de sua fatura formal e estilística, deixando sobre a página tanto um rastro de unha quanto o esmalte dos escritos e vozes que em sua alma avultam e nos dedos instauram cutículas.

Tais intertextos e intratextos, ou ainda, tais hipertextos insaciáveis se disseminam pela obra na mesma proporção com que se concentram em cada poema, lado a lado ou embaralhados; falseando nos rebentos líricos as certidões de batismo e, em poligamia, proliferando as certidões de casamento com as leituras/releituras de livros, bem como com o folhear de rostos amigos, ou com o riso e risco do desconhecido, não obstante o postergar de comprovantes de residência, de pátrias de origem: cada gesto, um tanto Ulisses, desmente Ítacas, deslinda labirintos (do Minotauro?) ou mesmo fios (de Ariadne?), teatralizando ad infinitum as alteridades que servem como impressão digital provisória e polimórfica para alguma identidade fluida, fragmentada, ao rés da fantasia. Mas nada disso seria possível – nenhuma conversa com livros, nenhum sexo com as líricas de um outro e de uma outra – seria concreto sem a lascívia uma vez mais dionisíaca de um cérebro em gozo sináptico, em psiké-análise, em psiké-catálise, em psiké-catábase: esta que põe no divã do poeta as divas Oxum e Afrodite atravessadas, fosse a sala do analista também um templo pagão ou uma ilha de Lesbos, de modo que Artur construa entre sua cama e seu karma de vate uma Igreja imoral/amoral do Reino de Zeus. E dos muitos Eus que exilam hóstias e comungam com o jamais fixo e intransigente credo.

Esta, a sacralização do profano e do erótico, ou a profanação do sagrado enquanto humano, do poeta enquanto coisa (“o amor mesmo quando profano / tem muito mais de sagrado”): filho de um deus com uma mortal, Dionísio dança na recorrência da palavra “vinho” no livro, a exemplo dos versos:  aqui / a poesia pulsa / na veia / no vinho”; por vinho tinto e poesia”; ela tem sede de vinho / nas madrugadas dos bares”; “o vinho do tempo na boca”; “em nossas bocas tinto – vinho”; “beijo tua boca ainda suja / do vinho que sobrou”; “me consagro teu amante / pelos vinhedos de Baco / no ápice sagrado / da su-real pornofonia”. A embriaguez dos significantes e dos significados é a que tanto forja imagens insólitas (como a de um “céu de estanho” ou como em “ela mastiga meus ponteiros”) quanto a que costura melodias bem trabalhadas entre vogais, consoantes ( “entre paredes pedras facas de dois gumes / nos parreirais depois da lua), ratificando a inteligência verbal (a logopeia) de Artur Gomes dobrada em melopeia (música) e fanopeia (imagética). Visualidade provocada, a saber, não só pelas imagens significadas pelos significantes, mas visualidade ou imagem do próprio significante, o qual, dentro de si, dá à luz significâncias outras (“EuGênio Andrade”, “Afro-dite, “BolivariAndo”, “eletriCidade”), pois Artur Gomes – nesta “pornofonia” – é mestre na criação de neologismos (em tudo se vê uma “carNavalha”).

Não apenas o corpo do homem, da mulher, se sensualiza e se sexualiza sob a força cósmica de Eros. É o poema mesmo que, em O poeta enquanto coisa, é corpo sensualizado, sexualizado, da mesma maneira que a cidade, o mundo, os tempos e o Tempo são Eros, vez que a palavra é pele e poro (duas palavras aliterantes e frequentes em Artur Gomes). Nessa porosidade, o poeta se entende permeável a coisas e pessoas (a pessoas já misturadas às coisas, a pessoas já coisas): “por entre poros entre pelos / minhas unhas tuas costas”. Também por isso, por essa poesia de tamanho contato, fricção, a relação com a língua se confirma erotizada e – vale dizer – tanto a língua física quanto a verbal, o que equivale a dizer que escrita e oralidade se reencontram no poeta: a sofisticação da escritura literária não perde (pelo contrário, potencializa) a dimensão primigênia do poeta como cantor, como ator na divina língua de Baco”, a qual se exalta mediante a recorrência também da palavra “boca” e da palavra “coxa”: uma é a que beija, lambe, morde e degusta; outra é a beijada, a lambida, a mordida, a degustada. Ambas em rima toante também entoam ritmos e ritos profanos-sagrados:

o poema fala do teu corpo
como se o tocasse 
o reconhecesse em cada verso
cada palavra que sai da boca 
como um canto bíblico
com louvor profano 

Nessa performance e performatividade lingual-linguística, todo signo cisma um erotismo entre o significante e o significado, sim, mas também entre página e palco, palco e praça, praça e povo, a babel dos povos e a babel das palavras: daí, tantos trocadilhos (troca-trocas, orgias, surubas...), como o da “flór do lótus” com a “flor do lácio”, o das “coxas” com as “costas”, o do “fauno” com a “flauta”, o da “alvorada” com o “alvoroço”, o da “antítese” com a “Antígona”. Eis a língua física, outrossim, a trocar com a verbal, mas sendo ao mesmo temo pelo verbal trocado, e vice-versa. Eis o poeta trocando com outros poetas ou sendo trocado por poetas outros, vestindo a roupa dos outros e tirando a sua roupa para ser outro: Federico Baudelaire, Gigi Mocidade, Bracutaia Silva, Federika Bezerra, Cristina Bezerra etc. O poeta, analista translógico da psique, troca com sua psicanalista. E o poeta se tenta analista de si mesmo, elevando o caos para a troca de seu nome Artur por timbres e assinaturas novos. Do mesmo modo, o nome dos poetas que existem, os que morreram e ainda não, os vivos hoje e sempre, vai se trocando, em rearranjos da memória (e do recriativo esquecimento). Artur Gomes troca poetas em seu corpo e, trocando com eles, entende que todos trocam entre si, a exemplo do diálogo poético de Clarice com Baudelaire. Mais ainda: o corpo do poeta troca com o corpo do poema e, consoante em “Poética”, a metalinguagem elabora um troca-troca de textos sob o mesmo título, pois o poema “Poética” se metamorfoseia em outros poemas: o tema “Poética” permanece, mas se trocando: o mesmo sendo diferente. A palavra “outro(s)” se sugere, enfim, ouro neste livro, e é nessa não indiferença ao outro, que o poético se faz ético e político. E nessa política da e pela diferença, a cidade do corpo se troca e vira o corpo da cidade. Assim, o poeta é – quando e enquanto coisa.

No meio de tantas referências e reverências, borrões (d)e assinaturas (como as de Mário de Andrade, Drummond, Torquato Neto, Rimbaud, Mallarmé, Tanussi Cardoso, Tchello d’Barros, Jiddu Saldanha, Ronaldo Werneck, Reinaldo Valinho Alvarez, Reinaldo Jardim, deuses e deusas gregas, orixás), o “anjo torto” de Artur Gomes não sopra no livro Manoel de Barros ou James Joyce, escritores também engenhosos e que se vale de muitos ilogismos ou neologismos. Todavia, O poeta enquanto coisa não deixa, na qualidade de título de livro, de repercutir o Retrato do artista quando coisa (de Barros) e o Retrato do artista quando jovem (de Joyce).  Do mesmo modo, não havendo menção (ao menos, explícita e intencional), ao “Teatro Oficina” de José Celso Martinez Corrêa, a dimensão orgiástica da arte e a reunião – não menos sacro-promíscua – de mitos gregos e africanos, a assimilação pela cultura ocidental de outras culturas, aparece em Artur Gomes nesta, quiçá, Poesia Oficina. A relação gozosa e experimental com que a palavra se faz poema e se teatraliza faz de seus livros um grande laboratório da língua, do corpo e da cultura, com repercussões nitidamente políticas.

Se Pantanal é o corpo poético e o poema experimental, de aparente falta de lógica, lembrando o discurso infantil, no Manoel de Barros do Retrato do artista quando coisa, a urbe é o corpo prenhe de sexualidade e sensualidade em Artur Gomes, nos supostos ilogismos do discurso adulto que se vê fragmentado e devorado por Eros e Thanatos, e no qual a relação sujeito-objeto já não dá conta quando o humano se vê coisa (não mais agente ou paciente, voz ativa ou passiva: talvez, as duas ao mesmo tempo). Como no Pantanal de Barros, a linguagem de Gomes é lamacenta, cheia de líquidos e delírios: a seiva se expande e se intensifica com (ou se troca por) suor e sêmen. Lama, agora, é a cama: o mangue ou o pantaneiro é a cama de Artur onde dormem, acordam, sonham, gozam e ardem todos os corpos (humanos e não humanos) aqui já citados e dispostos nos lençóis, colchas e fronhas da página.

Por outro lado, temos na trajetória literária de James Joyce, a intertextualidade com Ulisses de Homero. Artur Gomes ouve o canto da sereia em sua cama, livro, divã, e talvez do inconsciente escute a voz de um “artista quando jovem”, vinda de Joyce. Nesta, a personagem protagonista Stephen Dedalus, aquele que será adiante o anti-herói de Ulysses, diz à sua mãe que não poderá seguir a vocação de padre. Ele descobriu uma nova e grandiosa missão em sua vida: a de criar uma nova e poderosa mitologia para o povo irlandês. O romance autobiográfico de Joyce narra a infância de Dedalus (máscara de Joyce), personagem que vai aparecer novamente em Ulysses. A vida do pequeno Dedalus é marcada pela religiosidade da mãe. Ela quer que o filho siga a carreira eclesiástica. Vários padres fazem parte da vida de Dedalus e vão moldando sua consciência. O momento de virada na vida da personagem principal se dá no momento em que ele escuta um horrível sermão feito por um padre sobre o inferno que o deixa muito impressionado. Dedalus passa a viver como um carola seguindo à risca todos os jejuns e mandamentos da igreja católica. Nesse momento, ele até se sente como um futuro padre. Com a sequência do romance, vemos o jovem Dedalus passar de uma fase religiosa para uma de sensualidade. Sente-se cada vez mais obcecado com a ideia da confissão. Ele então confessa a um padre todos os pecados sensuais que pratica. Abandona definitivamente a convocação de ser padre e passa a se interessar por ideias artísticas e estéticas. Dedalus abandona a carreira de padre mas não a fé.

Assim, Artur Gomes se obstina pela ideia de confissão, mas de uma confissão dionisíaca. Primeiro, fazendo suas Juras Secretas, suas confidências sensuais, sexuais, eróticas, fulinaímicas. Em suma, suas sagaranagens (há algo de Joyce em Guimarães Rosa, ou vice-versa; no Rosa que há em Artur Gomes, no sagarana dos três). Agora, em O poeta enquanto coisa, arriscando-se a abandonar todo credo político-religioso paralisante, move-se – avesso ao dogmático – no sentido de dançar o mitopoético, o dionisíaco. Daí, uma Igreja Universal do Reino Zeus faça todo sentido na cosmogonia e teogonia de Artur Gomes. Em primeiro lugar, como deboche diante de quaisquer fundamentalismos. Em segundo lugar, como denúncia do que um Reino de Deus pode roubar do político o vigor do poético, preferindo um louvor a Dionísio a um Deus que não sabe dançar, que não sabe gozar, na liturgia de uma poesia que roga

 

por um poema 
que desconcerte
entorte
desconforte
arrombe a porta
dos céus 
da tua boca

arranhe os dentes
da loba
arrebanhe os cordeiros
no pasto
e lhes ensine
a subverter
as ordens do pastor

assumo o risco
não sou demo
nem corisco 
eu sou cantor
 

Iansã é quem me lava
Oxossi é quem me leva
Ogum é quem me manda
Oxum é quem me guarda

eu sou o que invoca 
o que provoca 
e incorpora 
desconcentra 
desconforta 
desconstrói 
e desconcerta 
 

eu sou o que interpreta representa 
o que inventa 
e desafora
 

o Anjo Torto 
graças a Zeus 
a pedra e ao Machado de Xangô
 

a Capitã do Mato Caipora 
me xinga de poeta enganador 
mal sabe ela 

que eu sou da reza 
que o homem que se preza

nunca se escraviza 
com chicote de feitor
 

 

*Igor Fagundes é poeta, ensaísta, doutor em Poética e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autor, dentre outros, de pensamento dança (2018) e Poética na incorporação (2016). Macumbança (2020)

 

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O POETA ENQUANTO COISA: “NO COURO CRU DA CARNE VIVA” – LINGUAGEM CORPO

por Deneval Siqueira de Azevedo Filho

 

 Ao ler O Poeta Enquanto Coisa, de Artur Gomes, já na apresentação do poeta, 64, suas palavras sugerem que o poeta é sujeito e objeto. Perguntei-me: “Mas como será isso? Sujeito e Objeto?” Sim! Só um punho lírico muito forte, porém despojado, - “no couro cru da carne viva”. (64) pode com “esporas” ”sangrar corpos” e “abrir cadafalsos”.

Trata-se de uma poemática em que a linguagem é o corpo. A expressão que se depreende é o estrondo acompanhado do gozo, la petite mort. Entretanto a Musa eterna dos estados de surtos e de sítio e estados de surtos e de sítio e de cio do sujeito (quem sabe do poeta ele mesmo?) nos diz em alto tom: é a Terra/Mãe/Terra. Por este viés confesso do poeta, entendo que o salto lírico desta poética ou destes versos “de surtos, de sítio e de cio” é, por excelência, telúrico.

Assim como a vida é telúrica, o amanhã também o é, assim como o são os lugares geográficos presentes em muitos versos e que ilustram a teleologia dos poemas por toda a obra.

Explico: há em toda O Poeta enquanto Coisa, obra de fôlego e tanto, uma doutrina arturiana que identifica a presença de uma metalírica em riste, com fins e objetivos metalinguísticos ou ainda criando situações que deslocam a natureza e a humanidade, considerando a finalidade como o princípio explicativo fundamental na organização e nas transformações de todos os seres da realidade, uma espécie de finalismo.

Estes poemas são inerentes a um possível aristotelismo de hoje e seus desdobramentos, pois se fundamentam na ideia de que tanto os múltiplos seres existentes, quanto o universo como um todo direcionam-se, em última instância, a uma finalidade que, por transcender a realidade material, é inalcançável de maneira plena ou permanente.

Hegel também tratou disso em seus epígonos, segundo os quais o processo histórico da humanidade assim como o movimento de cada realidade particular, são explicáveis como um trajeto em direção a uma finalidade que, em última instância, tem como objetivo uma realização plena e exequível do espírito humano: em Gomes, inquieto, rebelde, sagaz, verbal, metafórico, carnal, cuja realização dá-se no sobressalto, no grito, na dicção da audácia, tanto na poíesis quanto na techné. Sujeito e Objeto reencontram-se no ritmo da techné: “eu acho que é tempo ainda”. Aí se igualam Sujeito e Objeto.

Oswald de Andrade experimentou um tanto disso na sua Poesia Pau-Brasil do 1º. Modernismo. Mário de Andrade em Paulicéia Desvairada. Com outro fluxo nos poemas, obviamente. Artur Gomes reverbera alguns momentos do nosso 1º. Modernismo, sem dúvida, trazendo-o ao picadeiro contemporâneo:

 

Cocada agora

só se for de coco

paçoca de amendoim

cigarro só se for de palha

 cacique só se for da mata

 linguagem só tupiniquim

 

bala só se for de prata

 água só se for aguardente

 tônica só se for com gim

estado só se for de surto

eleição só se for sem furto

 brilho só no camarim

A existência de uma minemósine (grego Mνημοσύνη), titânide, filha de Urano e Gaia, deusa que personificava a memória está em

 

 nas pipas nos arcos

nas madrugadas dos bares

 descritas num guardanapo

no copo de vinho

na boca de Vênus

 na bola da vez da sinuca

sangrada pelo meu taco

 

pois,

aqui a poesia pulsa

 nos cabelos brancos da barba

na divina língua  de Baco.

 

Reiteram-se, assim, os motivos (leit motiv): em Poética 31, “delírio pouco é bobagem”/ “assim como fantasia”/ “é louca SagaraNAgem”/”no carnaval Real da Orgia””/”Dentro da Noite Veloz”/ “ou na Vertigem do Dia”/ “a luz do sol sobre nós”/”onde marés maresia? O corpo – a própria linguagem”/ no mar da antropofagia”. 

O delírio teatral, a física quântica leve, o simulacro pós-moderno, o deboche e a pilhéria percorrem, só para ilustrar a recorrência dos recursos, Poética 33 – Em/Cena Um possível encontro de Clarice Lispector e Federico Baudelaire. O diálogo com Oswald de Andrade retorna em Poética 34. Carregada de muito humor. Grande arma! 

Em Poética 38, encontram-se o erótico e o satírico, grande sacação (Ah, os sátiros!), diga-se de passagem, um encontro inusitado, de verve crítica e geografia erótica, uma sugestão para um Kama Sutra tupiniquim, por que não. Grande momento do livro!

 

Enquanto escavo a seiva

Entre o vão das suas coxas

Para desfrutar teu cio

 E santificar teu ócio

A selva amazônica perde

Mais 200 mil hectares de mata

Virgem

Para as moto-serras assassinas Desse venal agro-negócio. 

Sendo um flâneur do século XXI, Artur Gomes, caminha, antes de tudo, como um detetive, no sentido que lhe deu Walter Benjamin: detecta um fato, poetiza-o e, às vezes, deforma-o. De que forma? Investigando-o, pilhando-o, desmascarando suas circunstâncias. Venalmente.

 

Dr. Deneval Siqueira de Azevedo Filho Teoria e História Literária (Unicamp/Ufes) Letras, Artes e Culturas (Fairfield University, CT, USA)

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Texto em homenagem ao Poeta Artur Gomes – Na 11ª Mesa-redonda Poesia Visual Contemporânea, no CCJF Cinelândia – Rio de Janeiro

 

                        por Paulo Sabino

 

Ao fim de Memória de Fogo, peça teatral em temporada neste Centro Cultural até domingo passado, SadyBianchin, ator, diretor, roteirista e um dos responsáveis pelo texto do espetáculo, depois de fazer vários agradecimentos, fez um que, segundo ele, era o mais importante de ser feito: o agradecimento a plateia. Isso, porque, para SadyBianchin, à realização de um espetáculo teatral, podem faltar luz, a trilha sonora, o figurino, a maquiagem, o cenário; podem faltar todos esses itens. Porém, duas coisas são imprescindíveis para que a magia do teatro aconteça, para que o espetáculo possa realizar-se o ator e o público. Sem ator e público, a apresentação torna-se inviável. É dessa troca, entre ator e plateia, que uma apresentação teatral torna-se possível.

 

Saí da sala, após o espetáculo, com essa sábia perspectiva levantada pelo Sady e, naturalmente, eu transpus,  para a minha vivência com a poesia: eu, Paulo Sabino, que adoro realizar saraus, encontro poéticos, a interação entre poetas e seus leitores, sei o quão importante é, para um poeta com esses mesmos interesses, ter em suja plateia, aqueles que comunguem da sua paixão maior. E hoje o Centro Cultural da Justiça Federal, a convite do curador deste evento, o querido Tchello d´Barros, eu tenho o prazer a alegria de prestar essa homenagem a um poeta cujos nome e sobrenome podemos perfeitamente trocar por  “palco”, “ribalta”, “proscênio”, “sarau”, “encontro literário”, oficina de arte cênica”, “festival literário”, porque seu movimentos em prol da poesia está em perfeita sintonia com os espaços onde se dá, onde acontece, a magia da poesia falada: este poeta é o grande e super querido ARTUR GOMES.

 

Falar de ARTUR GOMES é falar de um dos maiores responsáveis pela manutenção e preservação de espaços onde desfrutamos da troca que é imprescindível às artes cênicas  troca entre poeta e plateia. Falar de ARTUR GOMES é falar de um dos poetas mais atuantes  na manutenção e preservação de locais onde a poesia falada, a poesia oral, a poesia trocada pelo verbo, é a grande estrela. E nesse seu esforço de manutenção e preservação desses espaços, ARTUR GOMES é dos poetas que mais roda o Brasil, participando de inúmeros saraus, festivais, encontros e festas literárias, ao longo de sua extensa carreira artística, mas de 40 anos dedicados à palavra – a grande musa e amante de qualquer poeta.

 

Nestes 45 anos de carreira, contabilizados a partir do ano de lançamento do seu primeiro livro de poesia, Um Instante No Meu Cérebro, 1973, ARTUR GOMES, no seu amor pela palavra, e de modo abrangente, no seu amor pelas artes, desenvolveu uma série de outras frentes de trabalho: além de sua atuação como poeta, ARTUR GOMES é um artista multifacetado, um artista antenado a diversas linguagens artísticas, como o teatro, a fotografia, o audiovisual e a performance.

 

Para que todos os presentes tenham ciência do que digo, de 1985 a 2002, o poeta dirigiu a “Oficina de Artes Cênicas”, do CEFET-Campos, hoje, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. De 2011 a 2012, coordenou oficinas de produção audiovisual, na mesma instituição de ensino. Em 1999 criou o FestCampos de Poesia Falada, que até hoje é realizado pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, em Campos dos Goytacazes. De 2014 a 2016, esteve à frente das oficinas de teatro no “Sesc Campos”. Em 2017 dirigiu o curso de teatro multi-linguagens, no SINASEFE (Sindicato Nacional dos Servidores Federais de Educação Tecnológica), núcleo do Instituto Federal Fluminense. Atualmente, ARTUR GOMES é professor de interpretação, do Curso Livre de Teatro, da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, em Campos dos Goitacazes, no estado do Rio, e apresenta a performance “Poesia Viva Poesia” que já conta com mais de uma centena de apresentações. Mês passado ele participou do 1º Festival de Brasília da Poesia Brasileira, e este mês, hoje, está aqui participando da 11ª Mesa-redonda sobre Poesia Visual Contemporânea.

 

E a presença de um poeta multifacetado, como é ARTUR GOMES, nesta noite, não é mera coincidência. Quando pensamos ou falamos em poesia visual, não podemos jamais, desvincular esse tipo poético do nome ARTUR GOMES. Desde o início dos anos 80, ARTUR GOMES é uma voz que dá voz-espaço à poesia visual. Em 1983, criou o projeto “Mostra Visual de Poesia Brasileira”, com o objetivo de reunir, num mesmo espaço físico, todas as linguagens poéticas contemporâneas. Em 1993, na sua décima edição, em parceria com o “Grupo Livre Espaço de Poesia”, a MVPB (Mostra Visual de Poesia Brasileira) foi realizada pele rede SESC-SP, em homenagem ao centenário de Mário de Andrade, que  culminou com o prêmio de “Evento do Ano”, concedido pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), ao Grupo Livre Espaço de Poesia.

Por muito, portanto, a homenagem prestada ao poeta precursor da poesia visual é mais do que justa. Encerrando a minha participação saúdo a poética de ARTUR GOMES lendo um poema do livro que o poeta lança neste evento, o Juras Secretas, e autografa assim que eu me calar.

*

meta metáfora no poema meta

 

como alcançá-la plena

no impulso onde universo pulsa

no poema onde estico plumo

onde o nervo da palavra cresce

onde a linha que separa a pele

é o tecido que o teu corpo veste

 

como alcançá-la pluma

nessa teia que aranha tece

entre um beijo outro no mamilo

onde aquilo que a pele em plumo

rompe a linha do sentido e cresce

onde o nervo da palavra sobe

o tecido do teu corpo desce

onde a teia que o alcançar descobre

no sentido que o poema é prece

 

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

em dezembro lançamento segunda edição ampliada

aguardem mais informações 

https://www.youtube.com/watch?v=wIlxWXBaRW8&t=7s


A poesia pulsa

para Tanussi Cardoso



aqui

a poesia pulsa

na veia

no vinho

no peito

no pulso

na pele

nos nervos

nos músculos

nos ossos



posso falar o que sinto

posso sentir o que posso



aqui

a poesia pulsa

nas coisas

nos códigos

nos signos

os significantes

os significados


aqui

a poesia pulsa

na pele da minha blusa

na íris dos olhos da minha musa

toda vez que ela me usa

nas iguarias de Bento

quando trampo mais não troco

quando troco mas não trapo

 

nas pipas

nos vinhedos nos arcos

nas madrugadas dos bares

sampleando  bolero in blues

rasgado  num guardanapo

o poema pra Juliana

escrito na cama do quarto

no copo de vinho

na boca de Vênus

na bola da vez da sinuca

sangrada pelo meu taco



aqui

a poesia pulsa

nos cabelos brancos da barba

nas gargalhadas de Bacca

na divina língua de Baco


Manual para desaparecer

Fui quedando em mim mesma
feito poça no quintal de casa vazia.
A solidão, essa comadre bêbada,
chegou sem bater,
com hálito de absinto e olhos de marisco morto,
instalou-se entre as frestas do meu corpo,
fez ninho na arcada dos meus silêncios.

Sou mulher com boca cheia de palavras não ditas,
meus gritos são fósseis em salitre,
versos roídos por ratos eruditos.
Ando com as entranhas à mostra,
em carne viva e vírgula torta,
fazendo do peito um relicário de ferrugens.

Minha cama é um campo minado de memórias,
lençóis que rangem como dentes trincando gelo,
e os travesseiros?
Albergam fantasmas com mania de poeta,
recitam meus fracassos como se fossem
canções de ninar.

Há noites em que a lâmpada me interroga.
Respondo com monólogos insanos,
palavras que mastigo com dentes moles,
ruminando desamores como quem
mastiga cinzas à procura de ouro.

Desaprendi o cheiro da pele alheia,
sou ruína com batom,
sou igreja profanada,
sou a mulher que dança com os ossos do que não foi,
em salões escuros de si mesma.

Meu espelho já não me devolve —
ele cospe.
Cuspe amargo, com gosto de ausência e ferrão,
como se dissesse: “vai, dá um tempo de ti,
antes que até o vazio peça pra sair.”

Tenho sede de um toque que não venha com promessas,
só com o calor exato da carne contra o medo.
Mas tudo o que encosto
vira pedra,
vira prece,
vira piada.

Ninguém me lê com olhos limpos.
Sou rabisco em caderno de bêbado,
sou carta nunca enviada,
sou corpo desabitado por dentro,
mas com as paredes ainda quentes —
como se alguém tivesse partido só há segundos.

A solidão não é ausência —
é excesso.
Excesso de mim,
dos ecos que me estupram a sanidade,
dos relógios que me devoram com mastigação lenta,
excesso de lembranças que me colonizam
como um império podre.

Se me perguntarem quem sou,
direi: sou um erro de sintaxe no poema da criação,
sou vírgula onde deveria haver um ponto-final.

E ainda assim,
respiro.
Feito planta em sala sem janelas,
teimando em ver sol
onde só há pó.

Simone Bacelar

 Balbúrdia PoÉtica

Poesia Ali Na Mesa

Edição Especial

À Memória de Renato Aquino

Performance Teatro.Poesia

Roda de Conversa – lançamento do livro Itabapoana Pedra Pássaro Poema

Dia 13 de maio – 21h

Auditório Reginaldo Rangel

IFF Instituto Federal Fluminense

Campus Centro – Rua Dr. Siqueira, 273 – Campos dos Goytacazes-RJ

 

tempo de poesia

para Renata Magliano

 

lancei o tempo

na agulha de uma fresta

ainda bêbado de ontem

bebo as 35 pausas

de uma mulher em chamas

que ainda não conheço

o tempo me dirá o endereço

como metáfora ou alquimia

e sendo drama ou festa

tempo de poesia

                  é o que nos resta

 

Artur Gomes

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Fé no Evoé - por Igor Fagundes

  Fé no Evoé: Confissões dionisíacas na poética e política de Artur Gomes Igor Fagundes *   Depois das excitadas e excitantes Jura...