segunda-feira, 15 de abril de 2024

múltiplas poéticas

ENGENHO

 

minha terra

é

de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

 

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial

que a foice corta

 

mas cravão em ti

me ponho à luta

mesmo sabendo – o vão

- estreito em cada porta

 

Obs. Este poema está publicado na Antologia CARNE VIVA poesia erótica org. Olga Savary – 1984 - 



MOENDA

 

usina

mói a cana

o caldo e o bagaço

 

usina

mói o braço

a carne o osso

 

usina

mói o sangue

a fruta

e o caroço

 

tritura suga torce

dos pés até o pescoço

 

e do alto da casa grande

os donos do engenho controlam

o saldo & o lucro 


PoÉticas Fulinaímicas

 

a foto.grafia

é quase a mesma

mas não é arturiana

essa é fulinaímica

na geografia sagarana

eu não sou ator de mímica

nem cantor de amazona

a minha cara é muito cínica

sou um poeta bem sacana


Artur Gomes 

leia mais no blog

https://arturgomesgumes.blogspot.com/


ESPREITA

Mais mimética
que espera é espreita,
modo estrábico
de atar o simétrico,
corpo sem ossos
na emenda de fraturas,
modo reto de desatar
o oblíquo.

Desprovida é a espreita
em indigência desperta,
imóvel que se alastra
ao ruminar o encoberto,
ossos sem corpo
em tecidos disjuntos,
dinâmica do estático
no calor das sombras.

Cleber Pacheco

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https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/

A lua no cinema

 

A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

 

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

 

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

 

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!

 

Paulo Leminski


A p e t i t e

para Marceli A. Becker

 basta o desgastante falar das maturações

do tempo do verbo que nunca alcança

 

tez algodoada de um azul inquebrantável

onde a palavra é lúcida e a poesia é mansa

 

que o fruto ainda verde caia sobre as mãos

em um só sentido, uníssono e irreversível

desfazendo-se em grãos ao puir nos dentes

 

e confronte a etérea solombra atmosférica

com toda a força desgarrada das urgências

interrompendo o tempo sacro da semente

 

bendita seja a palavra daquilo que se consome

bendita a rebelião do lado de dentro da fome

 

Amanda Vital

Do livro Passagem

Editora Patuá - 2018

ofertório 

todo meu senso

político/social

dedico a ela

no livro que sou

enquanto coisa

sensual metáfora

para os olhos de quem lê

para os sentidos d

de quem vê

eu sou matéria argamassa

armadura

permaneço

de pé

encaro o tempo

contra o vento

contra a tirania da mordaça

nada que eu não faça

para ela

minha musa – o amor é cego

e dou de graça

 

Artur Kabrunco

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https://arturgomesgumes.blogspot.com/

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