segunda-feira, 15 de abril de 2024

múltiplas poéticas

Jura Secreta 16 
para may pasquetti 
poema do livro Juras Secretas
Editora Penalux

 

fosse esta menina Monalisa 
ou se não fosse apenas brisa 
diante da menina dos meus olhos 
com esse mar azul nos olhos teus

 

não sei se MichelÂngelo 
Da Vinci Dalí ou Portinari te anteviram 
no instante maior da criação 
pintura de um arquiteto grego 
quem sabe até filha de Zeus

 

e eu Narciso amante dos espelhos 
procuro um espelho em minha face 
para ver se os teus olhos 
já estão dentro dos meus

 

Artur Gomes

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 Ali

ali 
só 
ali 
se

 

se alice 
ali se visse 
quanto alice viu 
e não disse

se ali 
ali se dissesse 
quanta palavra 
veio e não desce

ali 
bem ali 
dentro da alice 
só alice 
com alice 
ali se parece

 

Paulo Leminski



Aline

 

fosse muito mais  que uma jura secreta
poema em linha reta  nos vales do café 

às margens da 040 nas Minas do Espírito Santo

entre uma linha e outra  da estrada do encontro muito mais que fotografia  a pele na grafia do dia que amanheceu na porta de uma igreja da noite que viemos


fosse muito mais onde estivemos 
e quase não tocamos  a lua no espelho 
no poema que escrevesse 
por quanto muito mais se quisesse

 

Artur Gomes 

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alvoroças pelos em mim
sobre águas que bebi
            morta de sede

                                     Rúbia Querubim 


Amar você é
coisa de minutos…

 

Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui


amor, então,
também acaba?
não, que eu saiba.

o que eu sei

 é que transforma
numa matéria prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.

ou em rima

 

Paulo Leminski



Amavisse


Como se te perdesse, assim te quero.

Como se não te visse (favas douradas

Sob um amarelo) assim te apreendo brusco

Inamovível, e te respiro inteiro


Um arco-íris de ar em águas profundas.


Como se tudo o mais me permitisses,

A mim me fotografo nuns portões de ferro

Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima

No dissoluto de toda despedida.


Como se te perdesse nos trens, nas estações

Ou contornando um círculo de águas

Removente ave, assim te somo a mim:

De redes e de anseios inundada.

 

Hilda Hilst


            A guerra de Troia

 

Helena me traiu

por um copo de cerveja

no réveillon de 2004

pra bem dizer

pra bem fazeja

naquele sítio de Machado  Ernesto

ela sabia que eu não presto

não foi por falta de aviso

ou foi tamanho o seu desejo

que não recusou fugir comigo

mas percebeu tanto perigo

e então brochou

sentiu o medo na medula no pescoço

calou a boca para o beijo

e resolveu seguir a mãe

e apanhar do seu marido

 

Federico Baudelaire


Grávida de serpentes

 

Baco me lambuza de vinho

até a uva me lança na chuva

e me lambe com suas línguas de Vênus

sem aviso deita no meu corpo um Dioniso

com seu caralho de fogo

me engravida de serpentes

e me faz gozar na boca até os dentes

 

Federika Bezerra


Navegar é preciso

para Fernando Aguiar

 

Aqui

redes em pânico

pescam esqueletos no mar

esquadras descobrimento

espinhas de peixe convento

cabrálias esperas relento

escamas secas no prato

e um cheiro podre no AR

 

caranguejos explodem

mangues em pólvora

 

é surreal a nossa realidade

tubarões famintos devoram cadáveres

em nossa sala de jantar

como levar o barco

em meio a essa tempestade

 

navegar é preciso

mas está dificilíssimo navegar

 

Artur Gomes

Pátria A( r)mada

Desconcertos Editora

2ª edição - 2022

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