domingo, 21 de abril de 2024

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Artur Gomes – Por quê é tão importante para o indivíduo sair de si?

Isadora - Sair de si no sentido de se olhar de fora para olhar para dentro de si, este é um dos caminhos da psicoterapia. Claro que o/a psicólogo/a estará guiando este caminho, este passo. Quando estamos muito compenetrados numa situação, acabamos por repetir padrões que nos causam no mínimo um desconforto ou aquele famoso "estresse" e o sujeito passa até a reclamar com frequência, mas não consegue mudar a dinâmica que está presente neste padrão ou ciclo repetitivo. A psicoterapia e a função do psicoterapeuta é clarificar como o sujeito chegou até aí, como pode sair conforme os seus recursos internos e externos, bem como, como irá se fortalecer e trabalhar para mudar este ou mais padrões que acabam mais atrapalhando do que melhorando a sua vida. Costumo dizer que a felicidade mora fora da zona de conforto, mas não é que a pessoa não queira ser feliz, mas sim que está acostumada com aquela situação a ponto de ou não encontrar outra maneira (e a psicoterapia irá ajudar nisso) ou de ter medo de sair desta zona de conforto por medo do desconhecido, despertando também ansiedade e outros sentimentos (e a psicoterapia também irá ajudar nisso). É sair de si para se olhar de fora e analisar e planejar o que funciona melhor na sua vida.

Artur Gomes – Hoje na cultura geral somente “doidos” vão a um psicólogo. ?

Isadora - Doidos pela vida! Doidos, loucos, insanos eram chamadas as pessoas que procuravam ajuda ou eram forçadas a isso. Claro que a história, os tratamentos antigos (antes da Reforma Psiquiátrica) e a falta de informação sobre o assunto na sociedade, acabaram contribuindo para este preconceito que ainda é existente.

Em resumo: Psicólogo é para aqueles que são loucos pela vida, que lutam para ter uma vida com mais bem estar, prazer e qualidade de vida. "Problemas" todo mundo tem em maior ou menor grau, a diferença está em buscar compreendê-los e resolvê-los ou se conformar e não entender os padrões que causam sofrimento continuam acontecendo.  

Sobre os transtornos mentais, estes têm tratamento e muitos são transitórios e não um padrão para a vida inteira. De igual forma, precisam de tratamento psicológico e também psiquiátrico muitas vezes.

Artur Gomes – Por quê aceitar-se quem se é, é uma tarefa complexa?

Isadora - Esta pergunta não tem uma resposta única dada a essência e complexidade da mente humana. "Cada um de nós é um universo" como já cantou Raul Seixas. A tarefa pode ser complexa quando a pessoa insiste num padrão que não corresponde a sua expectativa, por isso vem a frustração e a não aceitação.

Pode ser complexo, mas, por exemplo, com a psicoterapia pode-se aos poucos romper com estes padrões, se olhar de fora e olhar para a situação como um todo, é um: "quem eu sou neste contexto todo?'; sair da posição de vítima muitas vezes. Sei que a palavra vítima é forte e pode também não ser bem-interpretada, mas aqui quero dizer que enquanto nos colocarmos nesta posição (não que não tenhamos sido vítima, ou algo ruim tenha nos acontecido, circunstâncias e etc) e ficarmos sem fazer algo com isso nada de grandioso e esperado acontecerá. Ter esperança é bom, mas sozinha não faz nada, quem faz é você. Mas a pergunta é como fazer isso? Primeiro de tudo precisamos compreender o nosso universo, o nosso mundo interno (nossas emoções, conflitos, medos, história, nossas vivências, como somos - identidade e também, a nossa personalidade) e o nosso mundo externo (em que contexto estamos e como podemos agir nele - e aqui vamos precisar dos recursos internos e para isso precisamos nos fortalecer). O processo de aceitação é um caminho que começa a ser trilhado muitas vezes na psicoterapia. Aceitar-se em compreender que temos qualidades e defeitos, pontos fortes e outros a serem aprimorados e fortalecidos, que é um processo e não algo estático. Se a vida é movimento, nós enquanto seres humanos precisamos estar em atividade, incluindo se aprimorar cada dia mais em uma versão melhorada de si mesmo.

Pensando bem, será que nós não tornamos complexa a tarefa de autoaceitação e aceitação de outras circunstância? Por mais que não seja simples, podemos facilitar o processo!

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